Historicamente considerado piada ou tabu, o termo
“corno” tem se popularizado no Brasil, mas de uma forma bem diferente de antes.
A expressão foi incorporada a um fetiche pela traição e que rompe com as normas
impostas pela sociedade. “A pessoa pode gostar de ver o ato acontecendo,
acompanhar remotamente – por meio de ligações, vídeos e mensagens – ou
simplesmente saber do que rolou.
E é um paradoxo por ser chamado de ‘corno’, sem
existir a traição de fato dentro da comunidade. Só é possível realizá-lo se o
traído quiser acompanhar o desenrolar da coisa – e claro, se a parceria topar a
experiência. Se alguém trai fora do combinado, não há fetiche envolvido”,
explica a sexóloga Thais Plaza, 45 anos, que atua como terapeuta sexual e é uma
das vozes nas redes sociais do Gleeden, aplicativo para quem busca
relacionamentos não monogâmicos.
A popularidade do “fetiche do corno” acompanha a
onda de não monogamia, que ganha mais adeptos a cada ano. Segundo Plaza, a
busca por novos parceiros não está ligada necessariamente a uma crise no
casamento. “Não é uma defesa do tema, e sim uma constatação, Muitas pessoas
traem por carência emocional: sentem falta de atenção, escuta, admiração, afeto
ou querem se sentir vivas, vistas, desejadas.
Além disso, algumas buscam nas relações
extraconjugais suprir suas necessidades carnais, seus desejos sexuais. Isso
acontece com mais frequência em relações longas, nas quais a rotina e a falta
de diálogo sobre o que se sente acabam criando uma distância silenciosa entre o
casal. A traição raramente é só sobre o outro, muitas vezes é um reflexo de
algo mal resolvido dentro de si”, pontua.
A especialista, no entanto, não acredita que a
fidelidade saiu de moda. “As pessoas estão se permitindo questionar esse modelo
e explorar novas possibilidades de se relacionar, com mais liberdade, diálogo e
consciência. Agora, quando alguém escolhe ser fiel, isso vem do desejo, não da
obrigação.
O que está fora de moda é viver relações no piloto
automático, sem reflexão, sem escolha consciente”, avalia a especialista,
ressaltando que uma escapadinha pode até ser um “ponto de virada” na relação:
“Quando o casal escolhe enfrentar esse momento com honestidade, é possível
reconstruir a relação de forma mais verdadeira, com novos acordos. Importante
reforçar que isso não significa que trair é uma solução ou algo a ser
incentivado, mas, em vez de ser o fim, pode ser o início de uma nova fase ou o
estopim para conversas profundas e mudanças significativas”. Seja por desejo
sexual, carência emocional ou só por curiosidade, a nova forma de ser corno
escancara como as fantasias sexuais sempre desafiaram as tradições de um
relacionamento. Só que, desta vez, a piada se tornou coisa série.
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