A Polícia Federal deflagrou em fevereiro a
Operação Arthron, visando desarticular um grupo criminoso que utilizava farmácias
de fachada para fraudar o Programa Farmácia Popular e financiar o tráfico
internacional de drogas. A operação cumpriu 106 ordens judiciais, entre
prisões, buscas e bloqueios patrimoniais, em diferentes estados do país.
De acordo com a investigação, iniciada em 2022 após
prisões por transporte de cocaína, o grupo comprava farmácias já cadastradas no
programa, reativava-as com sócios laranjas, e aumentava drasticamente os
registros de vendas fictícias sem fornecimento real de medicamentos. As empresas,
em sua maioria inativas e sem existência física concreta, passaram a gerar
repasses entre R$ 60 mil e R$ 90 mil por mês, frente aos valores anteriores,
que não ultrapassavam R$ 5 mil.
Ao menos 28 pessoas jurídicas foram usadas no
esquema e ora estão entre os investigados. O prejuízo aos cofres da União
provocou o bloqueio de mais de R$ 39 milhões em bens e valores dos envolvidos.
O grupo criminoso utilizava os recursos desviados
para financiar o tráfico de drogas importadas da Bolívia, Colômbia e Peru, sendo
revendidas por facções dentro do Distrito Federal e entorno.
Contexto das fraudes
As auditorias da Controladoria-Geral da União
revelaram que, entre 2015 e 2020, o programa realizou ressarcimentos de R$ 2,57
bilhões sem comprovação fiscal adequada, com vendas registradas a falecidos e
falta de notas fiscais em quase 18,5% das transações. Uma auditoria específica
identificou a distribuição de medicamentos a pacientes já falecidos evidência
de fraudes sistemáticas.
Em resposta, o Ministério da Saúde reinstaurou a
exigência de renovação anual de credenciamento dos estabelecimentos,
intensificou inspeções presenciais em farmácias, suspendeu preventivamente 562
unidades e descredenciou 163, exigindo o ressarcimento de aproximadamente R$ 8
milhões em recursos pagos indevidamente até julho de 2025.
O programa retomou parte dos mecanismos de controle
suspensos desde 2021, com auditorias in loco em 100 farmácias de 58 municípios
em 21 estados, além de cruzamentos automáticos de dados com órgãos como Receita
Federal e sistema de óbitos para identificar irregularidades.
Impactos e próximo passo
O caso evidencia falhas graves de controle e abre
debate sobre a vulnerabilidade do programa a fraudes sofisticadas. Com
participação ainda reduzida de tecnologia e pessoal no monitoramento, aplicação
de medidas corretivas se mostra imperativa. As autoridades reforçam que os
recursos públicos devem atingir os beneficiários reais não financiar esquemas
criminosos.
A Operação Arthron representa um marco na repressão
a desvios de subsídios sociais e sinaliza intensificação na fiscalização. A
pressão institucional agora recai sobre a efetividade das medidas adotadas para
transformar um programa solidário em fonte segura de acesso a medicamentos.
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