Reportagem publicada pelo jornal Valor neste mês
expõe com clareza quem paga o custo das decisões erradas que o País insiste em
tomar há décadas. Em 45 anos, o Brasil regrediu da 48.ª para a 87.ª posição no
ranking de PIB per capita em paridade de poder de compra (PPC) do Fundo
Monetário Internacional (FMI), aproximando-se perigosamente da metade mais
pobre do mundo.
Em termos absolutos, esse indicador até aumentou no
período, de US$ 13,7 mil em 1980 para US$ 19,6 mil em 2024. Em conjunto, no
entanto, o mundo avançou mais, o que explica a piora na posição relativa
brasileira. Em poucas palavras, o indicador mostra que o País, ao longo desse
período, cresceu menos que seus pares, enquanto o custo de vida da população
subiu mais que a média das nações pesquisadas.
O pior é que, até 2030, a estimativa do FMI é que
caiamos ainda mais, para o 89.º lugar. Antes fosse apenas mau agouro. A
combinação entre crescimento baixo, poupança reduzida, investimento pífio,
produtividade estagnada, mão de obra desqualificada e inflação elevada não
poderia gerar resultados diferentes. Se o País seguir na mesma rota em que está
há tantos anos, a tendência, de fato, é que essa degradação se acentue no
futuro, afastando o Brasil não só dos mais desenvolvidos, mas também das
economias emergentes.
Para quem duvida das previsões do FMI, o desempenho
econômico do País nos últimos anos é ilustrativo. Ao longo de dez anos, o
indicador despencou até 2016, quando o Brasil teve uma recessão; recuperou-se
lentamente até 2019; caiu em 2020, ano da pandemia de covid-19; e voltou a
subir aos poucos desde então. Assim, o PIB per capita em paridade de poder de
compra em 2024 foi de US$ 19.594, praticamente o mesmo de 2013, quando estava
em US$ 19.169. A diferença é que, em 2013, estávamos na 79.ª posição e, agora,
na 87.ª.
É triste, mas previsível, pois o Brasil parece que
não aprende. Há anos se sabe que o crescimento econômico não depende de
subsídios para setores ineficientes, mas de investimentos privados em áreas nas
quais o País tenha vocação. A História prova que a abertura de mercados reduz o
custo de produção e favorece a integração de cadeias produtivas, mas o País
prefere a proteção e o isolamento comercial.
Gastos públicos em excesso são um motor para a
inflação, pois corrói o poder de compra da população e exige aumento da carga
tributária, o que reduz a competitividade da economia brasileira. Ademais,
resultam em taxas de juros elevadas, o que inviabiliza o custo de
financiamentos para aquisição de bens e para a ampliação da infraestrutura.
Educação de baixa qualidade, por seu lado, cria um exército de informais sem
capacidade para ocupar postos de trabalho com remuneração mais elevada e que,
no futuro, dependerão de políticas de assistência social para sobreviver.
Em vez de reformas estruturais para ampliar o
crescimento potencial do PIB, o País aposta em puxadinhos. Favorece empresários
e setores próximos do poder, impõe barreiras às importações, aposta na elevação
da arrecadação, cria linhas de crédito direcionado que distorcem os juros do
restante do mercado, usa as estatais como um orçamento paralelo para induzir o
desenvolvimento, patina na melhoria da educação básica e deixa estudantes se
iludirem com promessas de empregabilidade em cursos a distância.
Mas governo, Congresso e Judiciário parecem bastante
satisfeitos com esse desempenho medíocre. Para eles, esse Brasil à deriva não
existe. No Executivo, no entanto, Lula da Silva só pensa em lançar programas
que possam recuperar sua popularidade até a eleição. No Legislativo, os
parlamentares só querem que suas emendas sejam quitadas. E nos tribunais,
sempre há espaço para um pagamento retroativo e para um novo penduricalho, tudo
com isenção de impostos.
A maioria da população percebe que o dinheiro já não
compra o que comprava no passado e sabe que não tem alternativa a não ser se
adaptar à realidade. Mas nenhum dos Três Poderes está disposto a rever despesas
e contribuir com o futuro do País em nome do interesse público. A posição do
Brasil no ranking do FMI é reflexo dessas escolhas.
Estadão
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