O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva
registra a base mais infiel das últimas três décadas: apenas 72% dos votos de
deputados de partidos com ministérios foram favoráveis ao Planalto nas votações
de interesse do governo na Câmara dos Deputados. A fragilidade da coalizão
ajuda a explicar uma sequência de derrotas recentes, como a aprovação do
projeto que derrubou o decreto do IOF – medida apoiada por legendas como União
Brasil, MDB, PSD, Republicanos, PP, PDT e PSB, que juntas controlam doze ministérios.
As dificuldades ganham ainda mais peso em um ano pré-eleitoral, quando o
presidente petista precisa consolidar maiorias para aprovar projetos
estratégicos de olho na disputa presidencial de 2026.
Levantamento feito pelo Estadão, com base em dados
da própria Câmara, analisou todas as votações nominais em que houve orientação
oficial do Planalto, ou seja, ocasiões em que o governo indicou expressamente
como esperava que sua base votasse. Nesse recorte, o desempenho da coalizão
ministerial em Lula 3 é o pior desde 1995, empatando apenas com o segundo
mandato de Dilma Rousseff, que registrou 72% no auge da crise do impeachment.
Presidentes anteriores tiveram índices mais altos: Fernando Henrique Cardoso,
95% no primeiro mandato e 93% no segundo; Lula 1, 91%, e Lula 2, 92%; Dilma 1,
81%; Michel Temer, 93%; e Jair Bolsonaro, 90%.
A última leva de derrotas incluiu a aprovação do
projeto que suspende o decreto do governo sobre o IOF, com 63% dos votos
favoráveis de deputados de partidos que hoje comandam ministérios, como União
Brasil, PSD, MDB, PP, Republicanos, PDT e PSB. O movimento ganhou força após o
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pautar o tema em votação
surpresa – o que resultou em uma reação rara na história do Congresso: em 40
anos, apenas dois decretos presidenciais haviam sido derrubados.
Para cientistas políticos ouvidos pelo Estadão, essa
derrota expressiva e o baixo desempenho da base refletem fatores tanto
conjunturais quanto estruturais, como o fortalecimento da maioria de direita no
Congresso e o empoderamento do Legislativo após a consolidação das emendas
parlamentares, mudando a lógica de negociação com o Executivo. Parlamentares
aliados, por sua vez, apontam falhas na articulação política, como a
resistência de Lula em se envolver diretamente nas conversas, a falta de
diálogo com o Planalto e a demora na liberação de emendas.
Na avaliação do deputado Mário Heringer, líder do
PDT na Câmara e cujo partido comanda o Ministério da Previdência, o presidente
Lula de fato se afastou das relações com o Parlamento neste terceiro mandato.
“É o período em que Lula está mais distante do Legislativo de verdade”, diz,
afirmando que a postura contribuiu para uma série de derrotas do governo no
Congresso.
Como mostrou o Estadão, Lula é o presidente que
menos se reúne com congressistas em agendas oficiais desde Dilma.
O parlamentar ressalta outra reclamação frequente
entre deputados: a concentração dos principais ministérios no núcleo duro do
PT, apesar de Lula ter vencido a eleição de 2022 com o discurso de frente
ampla. “Comparativamente, sem dúvida nenhuma, esse é o mandato em que menos
alterações foram feitas pelo Lula. Há muito tempo criticamos o que, na nossa
opinião, é uma má distribuição dos espaços no governo.”
O Estadão apurou que a insatisfação já estava
presente desde o primeiro ano de mandato, em 2023, quando parlamentares
passaram a se queixar do distanciamento e da falta de disposição do presidente
em recebê-los no Planalto.
Estadão
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