O nome do jogo é incerteza
A dúvida é como dois petistas sob desconfiança
atrairão crédito ao governo no Congresso
Os petistas Gleisi Hoffmann e Alexandre
Padilha assumem as pastas de Relações Institucionais e da Saúde com tarefas
difíceis. Ela, a de conter o ímpeto de fuga do centrão e ainda amarrá-lo a
alianças para 2026; ele, a missão de dar um brilho na vitrine da área para
atender a incessante busca do governo por marca forte.
Agora titular do ministério com o maior volume de
emendas parlamentares e orçamento parrudo, Padilha também foi escolhido para
interagir com o Congresso de forma mais eficaz que a antecessora. A conferir se
dará conta da empreitada, já que saiu da articulação justamente por desgaste
político.
Gleisi tem um trabalho mais árduo. Primeiro,
convencer Deus, o mundo e seu Raimundo a esquecer o que escreveu numa resolução
do Diretório Nacional do PT de 2023 chamando de "austericídio fiscal"
a política de equilíbrio de contas defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando
Haddad (PT).
A nova ministra precisará também levar o centrão a
fazer de conta que não ouviu ela atribuir o mau desempenho do partido nas
eleições municipais de 2024 às alianças da direita e ao uso de emendas por
parte desse grupo. Como se o PT não tivesse tido o mesmo acesso, em alguns
casos até maior, a tais recursos.
Ainda que haja uma troca de figurino dada a
característica de tarefeira disciplinada, obediente a ordens de cima, por mais
bem-intencionado que seja o mensageiro há dificuldade no Congresso de emprestar
confiança a delegados do Planalto.
Dois motivos principais para essa desconfiança: um é
a impopularidade de Lula (PT) num barco à deriva que pode afundar; outro, o
modo descortês como são tratados ministros cujos desempenhos ficam aquém das
expectativas do presidente.
Além disso, o racha interno na troca de comando do
partido presidido por ela até a semana passada não confere a Gleisi Hoffmann a
melhor credencial no quesito atenuação de conflitos.
Se não pacificou a própria casa, ficam dúvidas sobre
sua capacidade de apaziguar os ânimos nas moradas partidárias de vizinhos
ariscos.
Dora Kramer - Folha de São Paulo
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