A fila de benefícios do Instituto Nacional de
Seguridade Social (INSS) no Rio Grande do Norte tem quase 40 mil procedimentos
aguardando processamento pelo órgão. São aposentadorias e benefícios que,
muitas vezes, exigem maior agilidade dos peritos e analistas para atender os
futuros beneficiários, mas acabam comprometidos pela demora e pelo
descumprimento dos prazos legais. No Brasil, a fila de benefícios travou em 1,9
milhões de procedimentos, número mais alto em cinco anos.
Segundo dados disponibilizados no Portal da
Transparência do INSS, referentes a novembro – último dado disponível – o
Estado tem 39.128 procedimentos na fila. Do total, 3.136 se referem a
aposentadorias por idade e 1.533 são de pensões por morte. O estoque
previdenciário total, incluindo aposentadoria por tempo de contribuição,
salário-maternidade, auxílio-reclusão e benefícios por incapacidade chega a
21.115 procedimentos. Só em relação a benefícios por incapacidade represados
são 15.309 processos no RN. Quando somam-se benefícios assistenciais e
requerimentos em exigência com o segurado, o número atinge os 39.128 no RN.
Na avaliação da presidente da Comissão de Seguridade
Social da Ordem dos Advogados do Brasil no RN (OAB-RN), Flávia Cristina da
Silva, a demora na análise dos processos gera “uma questão social” para aqueles
que ingressam com pedidos no INSS.
“O que isso pode influenciar na vida negativa de um
segurado: a maioria desses processos são por incapacidade, seja ele permanente
ou temporário, que é o antigo auxílio-doença ou a aposentadoria por invalidez.
Isso impacta de forma negativa, porque as pessoas estão muitas vezes num limbo
previdenciário, afastadas dos seus empregos, sem receber, estão também sem
receber do INSS, e aí vem a questão social do segurado: ele passa por
necessidade financeira quando ocorre essa demora. Aqui no RN essa demora tem
chegado a 62 dias, o que é um absurdo”, analisa.
Ainda segundo a advogada especialista em Direito
Previdenciário, as análises dos requerimentos têm demorado mais do que o
habitual previsto na legislação, que é de até 45 dias. No Rio Grande do Norte,
dados do INSS apontam que, em novembro de 2024, 17.441 benefícios esperavam por
análise no RN por mais de 45 dias.
Ainda segundo a advogada Flávia Cristina, as
explicações para a fila são diversas, mas uma das principais é a greve dos
servidores do INSS, que fez com que a fila “travasse” em todo o Brasil.
“A greve do INSS, que perdurou por mais de 100 dias,
foi um agravante. Essa fila aumentou em torno de 46% e, apesar de o governo ter
instituído a AtestMed, que causou uma redução na fila em cerca de 37% no
período de setembro/23 a abril/24, veio a greve e esse índice agora aumentou de
forma significativa”, acrescenta. O AtestMed é uma modalidade do INSS que permite
a análise documental para a concessão de benefícios por incapacidade
temporária. O programa substitui a perícia médica presencial.
Em resposta à TRIBUNA DO NORTE, o INSS disse que no
Rio Grande do Norte, em 2024, foram concedidos cerca de 100.588 benefícios. Em
2023, houve 75.590 concessões. Em nota, o órgão disse que o aumento registrado
nos últimos meses de 2024 é reflexo da greve dos servidores de 2024, que
segundo o órgão foi uma das mais longas na história do INSS, com 114 dias de
duração. Outro fator também foi a greve dos peritos médicos da Previdência
Social, em vigor há mais de 6 meses, além de alterações da lei que passou a
exigir biometria para o BPC, Lei 15.077/2024.
“Gerou um represamento. As atualizações,
modernizações e migrações tecnológicas dos sistemas também podem gerar atrasos
até que sejam utilizadas com o propósito estabelecido de agilidade, e ainda
deve-se considerar o significativo aumento no número de requerimentos que
solicitam benefícios, que praticamente dobrou em relação aos pedidos de 2022,
onde a média mensal era de 700 mil requerimentos e atualmente ultrapassa 1.4
milhão de pedidos. O impacto destes fatores sobrepostos afeta diretamente a
agilidade dos atendimentos. Não obstante, cabe ressaltar que o prazo legal para
a realização dos atendimentos é de 45 dias. Atualmente os atendimentos são
realizados em média de 39 dias”, disse o INSS.
O órgão disse ainda que o tempo médio de espera caiu
de 76 dias (01/2023) para 39 dias (11/2024). “É esse o número que impacta
diretamente a vida do cidadão que precisa do benefício: o tempo que ele leva
pra ter a resposta”, acrescentou o INSS, informando ainda que tem adotado
medidas para reduzir as filas, como digitalização de processos, mutirões de
atendimentos, contratação de novos servidores e simplificação de procedimentos.
Brasil
A fila de espera por benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)
voltou a crescer no final de 2024, atingindo 1,985 milhão de requerimentos em
novembro, o maior número desde o início de 2020.
Segundo publicou a Folha de S.Paulo, entre julho e
setembro, devido à greve dos servidores do órgão, houve um aumento de 445 mil
requerimentos à espera de análise. Nos meses de outubro e novembro, o estoque
de pedidos aumentou em mais 186,2 mil.
Como resultado, o tempo médio de concessão líquida
(que desconta o tempo de espera por documentos do segurado) também aumentou. De
34 dias em julho (menor valor dos últimos dois anos), o prazo subiu para 39
dias em setembro e manteve-se nesse patamar em novembro. Essa média varia entre
as regiões; no Nordeste, por exemplo, o tempo médio de concessão líquida é de
66 dias.
Judicialização é recurso para acessar
benefícios
A demora na resposta por benefícios e, em alguns
casos, análises consideradas equivocadas têm feito com que cada vez mais a
judicialização seja um recurso. No Rio Grande do Norte não é diferente, com
potiguares precisando acessar à justiça em busca de direitos.
Um desses casos é o da autônoma Evânia Dantas, 53.
Ela ingressou com um pedido de aposentadoria por tempo de contribuição, uma vez
que já tem 33 anos trabalhados, entre carteira assinada e Micro Empreendedora
Individual (MEI). Para ter acesso ao benefício, a potiguar conta que precisa
pagar uma “folha de complementação”, que já foi solicitada e até então sem
retorno por parte do órgão.
“Fizemos o pedido desde novembro para eu pagar o
INSS; eles negaram e até agora não foi enviada”, explica. “A aposentadoria é
importante, porque já tenho 33 anos trabalhados, tenho mais que direito”,
afirma.
Outro caso é o do motorista Adailton Silva, 58,
morador de Natal. Após trabalhar vários anos numa empresa salineira, resolveu
ir para o ramo de viagens intermunicipais, mas logo viu problemas de saúde
surgirem, em especial na coluna. A requisição do benefício foi feita, sendo
deferida para incapacidade temporária. No entanto, o retroativo do valor desde
que ele se lesionou é o que está em discussão no judiciário. “Preciso do
benefício, porque doente a gente precisa de remédio. Minha coluna está
comprometida. Estou sem condições de trabalhar”, apontou.
Segundo a advogada Flávia Ferreira, a judicialização
para requerimentos no INSS tem ocorrido com frequência nos últimos meses, seja
pela demora na marcação das perícias ou, em alguns casos, por erros ao longo do
processo.
“O acesso ao judiciário em face do INSS tem
aumentado muito pela demora. Se o INSS demora pela inércia dele em responder em
tempo hábil, isso não só um benefício por incapacidade, mas aposentadorias,
salário-maternidade, benefícios assistenciais, pensões por morte. Então é pela
demora na concessão do benefício ou até mesmo na demora do indeferimento, ou
seja, o processo fica em análise por um bom tempo e ninguém sabe se vai ser
concedido ou não”, explica. “Outra ação que acontece é quando há o indeferimento
do benefício. Nós analisamos a causa que motiva essa recusa e vamos ajuizar a
ação caso ela seja plausível”, acrescenta, apontando ainda que também há casos
de concessões equivocadas por parte do INSS.
INSS adota “mutirão” para reduzir filas
Atingindo o maior número de pedidos de benefícios em
análise em cinco anos, o presidente Lula da Silva (PT) ainda não conseguiu
cumprir uma de suas principais promessas na campanha presidencial, que foi
reduzir a fila do INSS.
O maior número nos últimos anos havia sido registrado
em janeiro de 2020, gestão de Jair Bolsonaro (PL), com 2,03 milhões de
benefícios em análise. Em discurso no congresso na posse, Lula chegou a dizer
que “vamos acabar, mais uma vez, com a vergonhosa fila do INSS, outra injustiça
restabelecida nestes tempos de destruição”.
Nesta semana, o INSS anunciou que fará uma ação
extraordinária para reduzir a fila e o tempo de espera dos segurados por
benefícios assistenciais e previdenciários. A medida está prevista na Portaria
nº 58, publicada na segunda-feira (24). Pelo menos 500 servidores vão trabalhar
especificamente para esta finalidade. O prazo de vigência é de 90 dias.
Segundo o governo, a ação extraordinária vai
priorizar os requerimentos na seguinte ordem: acertos pré e pós-perícia dos
benefícios por incapacidade, salário-maternidade, pensão por morte, benefícios
assistenciais que não tenham pendências de avaliação social ou perícia médica e
aposentadorias (exceto por incapacidade permanente).
Os processos objeto desta ação serão analisados de
forma prioritária nas filas do Serviço de Centralização da Análise de
Reconhecimento de Direitos, nas superintendências regionais. A partir de 1º de
março, o adicional de 30% na meta de produtividade dos servidores será aplicado
a profissionais que trabalham por atividade na modalidade teletrabalho e em
regime de execução integral.
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