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terça-feira, 4 de março de 2025

TANGARAENSE - Editorial Folha de São Paulo: Ao levar Gleisi para o governo, Lula dá sinais preocupantes

 


Ao levar Gleisi para o governo, Lula dá sinais preocupantes

Nova ministra das Relações Institucionais já teve atritos com políticos proeminentes e é crítica ao controle de gastos

Gleisi Hoffmann deixará a presidência do PT para se tornar ministra das Relações Institucionais, responsável pelas articulações com parlamentares e partidos. É também provável que coordene alianças para as eleições de 2026.

Aguerrida defensora da linha gastadora petista, Gleisi criticou o moderado projeto de contenção de despesas do ministro Fernando Haddad (Fazenda), que chamava de "austericídio", e combateu a política monetária.

É fiel ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e esforçou-se para dar ao PT o maior número de ministérios, mesmo o governo sendo minoritário no Congresso Nacional.

É duvidoso se Gleisi terá sucesso na transição do posto de general para diplomata. De certo é que, ao nomeá-la, o presidente da República dá sinais inquietantes.

Passou a mensagem de que é menor a possibilidade de ampliação do diálogo com outros partidos, correntes de pensamento e setores sociais que não aqueles mais fiéis a ele mesmo e ao ideário petista. Reafirmou também que pode não adotar a política de moderação de gastos e tímidas reformas fiscais de Haddad.

O ministro da Fazenda perdeu, de resto, raro aliado no Planalto, Alexandre Padilha, que deixou o cargo para ser ministro da Saúde.

É outro indício de que Haddad tem apoio mínimo para seu programa, o que ficou evidente com a mudança da meta de saldo primário em abril de 2024, a desidratação do plano fiscal em novembro, e as afirmações de Lula, em janeiro deste ano, que sinalizam poucas chances de melhoria na gestão das contas públicas.

Firme, combativa e com histórico de desavenças com figuras e partidos relevantes do Congresso, Gleisi deverá negociar a aprovação de projetos que o Planalto julga vitais para a recuperação de sua popularidade —o maior deles é o da isenção do Imposto de Renda para parte dos assalariados.

Abrindo mão dessa receita, o governo terá de tributar rendimentos do topo da pirâmide, o que desagrada o Congresso. Quanto maior a proximidade de 2026 e pior a avaliação da atual gestão, será menos provável que Lula conte com a boa vontade de deputados e senadores.

Para conseguir obter sucesso, Gleisi teria de renegar a defesa obstinada dos interesses do petismo, desfazer a crença de que não vai solapar o que resta de credibilidade da política econômica e conquistar votos para o programa de incremento da posição de Lula nas pesquisas em um ambiente indócil no Legislativo.

Dado o seu histórico, porém, há risco de converter-se em mais uma má escolha de Lula.

Editorial Folha de São Paulo

 

 

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