Ao levar Gleisi para o governo, Lula dá sinais
preocupantes
Nova ministra das Relações Institucionais já teve
atritos com políticos proeminentes e é crítica ao controle de gastos
Gleisi Hoffmann deixará a presidência do PT para se
tornar ministra das Relações Institucionais, responsável pelas articulações com
parlamentares e partidos. É também provável que coordene alianças para as
eleições de 2026.
Aguerrida defensora da linha gastadora petista,
Gleisi criticou o moderado projeto de contenção de despesas do ministro
Fernando Haddad (Fazenda), que chamava de "austericídio", e combateu
a política monetária.
É fiel ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
esforçou-se para dar ao PT o maior número de ministérios, mesmo o governo sendo
minoritário no Congresso Nacional.
É duvidoso se Gleisi terá sucesso na transição do
posto de general para diplomata. De certo é que, ao nomeá-la, o presidente da
República dá sinais inquietantes.
Passou a mensagem de que é menor a possibilidade de
ampliação do diálogo com outros partidos, correntes de pensamento e setores
sociais que não aqueles mais fiéis a ele mesmo e ao ideário petista. Reafirmou
também que pode não adotar a política de moderação de gastos e tímidas reformas
fiscais de Haddad.
O ministro da Fazenda perdeu, de resto, raro aliado
no Planalto, Alexandre Padilha, que deixou o cargo para ser ministro da Saúde.
É outro indício de que Haddad tem apoio mínimo para
seu programa, o que ficou evidente com a mudança da meta de saldo primário em
abril de 2024, a desidratação do plano fiscal em novembro, e as afirmações de
Lula, em janeiro deste ano, que sinalizam poucas chances de melhoria na gestão
das contas públicas.
Firme, combativa e com histórico de desavenças com
figuras e partidos relevantes do Congresso, Gleisi deverá negociar a aprovação
de projetos que o Planalto julga vitais para a recuperação de sua popularidade
—o maior deles é o da isenção do Imposto de Renda para parte dos assalariados.
Abrindo mão dessa receita, o governo terá de
tributar rendimentos do topo da pirâmide, o que desagrada o Congresso. Quanto
maior a proximidade de 2026 e pior a avaliação da atual gestão, será menos
provável que Lula conte com a boa vontade de deputados e senadores.
Para conseguir obter sucesso, Gleisi teria de
renegar a defesa obstinada dos interesses do petismo, desfazer a crença de que
não vai solapar o que resta de credibilidade da política econômica e conquistar
votos para o programa de incremento da posição de Lula nas pesquisas em um
ambiente indócil no Legislativo.
Dado o seu histórico, porém, há risco de
converter-se em mais uma má escolha de Lula.
Editorial Folha de São Paulo
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