A senilidade petista
O partido de Lula da Silva já foi o retrato da
renovação política, mas chega aos 45 anos de existência com dificuldades para
atualizar suas lideranças e as ideias que tem para o País
O Partido dos Trabalhadores (PT) comemorou seus 45
anos de existência num evento no último fim de semana (22/2) com a cara do PT.
Foi uma reafirmação da capacidade do partido de construir uma realidade
própria. O refúgio num universo onírico chegou ao paroxismo durante o discurso
do presidente Lula da Silva. Dele se ouviu, por exemplo, que “o PT não é apenas
um partido, é uma ideia”. Lula disse ainda que, como tal, “ninguém pode matar
uma ideia”, exibindo sua incurável síndrome persecutória, de quem acredita que
forças do mal estão diariamente dispostas a remover o partido do mapa. Também
descreveu uma inexistente “economia que cresce para todos”.
São 45 eloquentes anos de peso inquestionável sobre
nossa história política, mas tão eloquente quanto isso foi o esforço para
lustrar uma realidade há tempos sofrível. Embora não tenha faltado altivez
sobre o passado, o presente e o futuro da legenda nascida no verão de 1980, a
45.ª primavera do PT tem cara de inverno: o partido que já foi o retrato da
renovação política é hoje símbolo de uma legenda e de uma corrente ideológica
enfraquecidas, atônitas e, sobretudo, envelhecidas. Na idade e nas ideias.
Trata-se, portanto, de um envelhecimento duplo. Com
dificuldade para se renovar, o PT continua a depender da força gravitacional de
Lula. Se costuma ser a salvação nos momentos em que suas quase infinitas
correntes se digladiam na disputa pelo poder, Lula passou a ser também o
aprisionamento de uma legenda que não consegue encontrar um sucessor
politicamente forte e eleitoralmente viável. Não contar com o seu maior líder
nas urnas sempre pareceu um horizonte distante para o PT, mas agora isso parece
cada vez mais real: a idade do presidente, hoje com quase 80 anos, virou uma
espécie de zona de tensão entre os lulistas mais empedernidos. Apesar de emitir
recados contraditórios, nada sugere que ele abrirá mão de tentar uma nova
reeleição. Não há, porém, plano B à vista. Nem para 2026, nem para depois.
O peso da idade não está apenas sobre os ombros de
Lula. Há um grande abismo geracional entre as lideranças petistas, em razão da
distância que separa os cabeças brancas da geração de Lula e os nomes mais
jovens do partido. A média de idade de todos os deputados federais eleitos em
2022 era de 49 anos; a média de idade dos deputados do PT era bem maior: 56. Em
2002, essa média etária entre os petistas era de 47 anos. Em 1982, primeira
eleição do partido, a pequena bancada federal petista tinha apenas 38 anos de
idade em média.
A questão etária seria um problema menor, não fosse
o fato de que o PT demonstra não ter a menor ideia do que oferecer de novo ao
País. O partido nasceu da força do sindicalismo, do catolicismo rural e da
intelectualidade. Tais âncoras ficaram no passado. Depois, cresceu com o
discurso de destruição de reputações enquanto se autoproclamava o dono exclusivo
da virtude pública. Esses apelos se desmilinguiram com os anos em que se
lambuzou com a corrupção no poder. Por fim, a legenda renasceu com Lula
redivivo após os anos de calvário da Lava Jato.
A angústia nacional não é ver o principal partido da
esquerda tradicional envelhecer no tempo, e sim acompanhar Lula e seus sabujos
governarem em 2025 sob a mesma lógica do passado. Na festa de aniversário, o
presidente reconheceu a necessidade de estarem atentos às novas formas de
trabalho e comunicação. Mas, Lula sendo Lula, a solução apontada diz muito:
“Precisamos voltar a discutir política dentro das fábricas, nos locais de
trabalho”. Em suma, o mundo do trabalho, para Lula, continua a resumir-se às
fábricas e aos sindicatos, sem entender, de fato, que o Brasil e os
trabalhadores mudaram.
Com dificuldade de pautar novas agendas, Lula e o PT
recorrem mais uma vez às artimanhas da polarização. O bolsonarismo é
simultaneamente o fantasma e a tábua de salvação para a sobrevivência eleitoral
do lulopetismo. Com isso, tenta-se retomar a força propulsora que lhe garantiu
a vitória em 2022. Com um governo sem clareza de ideias e um presidente sem ter
o que dizer de novo ao País, a eles só resta convocar novamente uma falsa
ameaça à democracia. E ao Brasil não petista resta mostrar a inutilidade dessa
esperteza.
Opinião do Estadão
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