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domingo, 2 de março de 2025

TANGARAENSE - Cafeterias de Natal reajustam preços e adotam estratégias para enfrentar alta



O café faz parte da rotina de muitos consumidores, que não abrem mão da bebida mesmo diante das recentes altas nos preços. Em Natal, cafeterias precisaram reajustar os valores e adotar estratégias para manter a clientela e garantir a sustentabilidade do negócio. O aumento no preço do café tem sido impulsionado por fatores climáticos, crescimento da demanda global e elevação dos custos de produção e exportação.

O jornalista Thales Vale é um dos consumidores que mantém o hábito diário de tomar café, independentemente dos reajustes. “Não deixo de ir à cafeteria, porque tem a questão do ambiente agradável para tomar um café acompanhando um bate-papo. Tomo café todos os dias, me ajuda a relaxar, a ficar atento; me considero viciado. Chego a umas dez xícaras por dia”, afirmou.

Mas para clientes como Thales, ter esse serviço e um produto de qualidade, com a alta dos preços, tornou-se um desafio maior para os empresários do segmento. O impacto dos custos levou à necessidade de repasse no preço final e à adoção de novas estratégias para manter a competitividade.

Widna Gonçalves, que há nove anos comanda a Letra A – Cafeteria e Tabacaria, próximo à Praça Pedro Velho, em Petrópolis, conseguiu manter o preço do café expresso estável por dois anos, mas precisou rever essa política. “Agora vai ficar um pouco inviável, devido à alta do preço do café com os fornecedores. A maioria dos meus cafés vem de Minas Gerais e aí, além da matéria-prima, vêm os impostos, ICMS, frete, que é altíssimo. Acabei de fazer um pedido pelo dobro do valor do que eu geralmente compro”, explicou.

A empresária ressaltou que os reajustes serão de até 20% para diferentes tipos de café, incluindo o expresso. Para minimizar impactos e manter o público fiel, a cafeteria adotou mudanças no cardápio e criou promoções voltadas para o público jovem. “Eu acho que a tendência é ou permanecer nos valores atuais do café no país ou subir mais. Não prevejo que venha a reduzir, porque tem um cenário de seca que atingiu grande parte das regiões produtoras”, acrescentou.

A percepção de aumento no preço do café é confirmada pelos dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Em Natal, a partir de setembro de 2024, a sequência de altas tornou o café em pó um dos itens da cesta básica com maior reajuste. Na comparação de dezembro de 2024 com o mesmo mês do ano anterior, a alta acumulada chegou a 49,01%.

Com 35 anos de funcionamento na Cidade Alta, a cafeteria “Avenida Café” também precisou reajustar os preços. “A gente percebe que diminui um pouco o movimento, mas temos uma clientela fiel. Reajustamos o preço do café em cerca de 15%”, afirmou a proprietária, Mônica Viana. Ela destacou que a diversidade do cardápio contribui para reduzir os impactos do encarecimento do café. “O café é um produto que atrai os clientes e aí eu tenho um mix de outros produtos, e isso ajuda a enfrentar a crise do preço do café sem prejuízos”, explicou.

Essa estratégia também é adotada pela empresária Maria Lúcia Medeiros, do Via Café, em Petrópolis. “Temos um cardápio variado. Além do café, servimos frutas, sucos, café da manhã, lanches e isso ajudou a evitar o prejuízo. A gente segurou o preço por um tempo, mas tivemos que fazer um reajuste em cerca de 15%, tipo R$ 1 no café expresso. Não foi muito, justamente para não perder a clientela”, frisou.

A empresária diz que, mesmo assim, ainda está arcando com o custo do aumento no preço do café, porque esse reajuste no cardápio não compensou. A matéria-prima que ela usa é um grão gourmet vindo diretamente do Sul de Minas Gerais. Lúcia diz que seu preço subiu cerca de 65% em relação ao início de 2024. “Essa crise do preço tem sido gritante, nunca tinha passado por uma assim. Acho que o governo federal poderia fazer algo para reduzir os custos, diminuir impostos, para estimular os produtores e baixar os preços”, avaliou.

Previsões
A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) confirmou que a tendência de alta deve se manter pelos próximos meses, pelo menos até a colheita da nova safra, que ocorre entre abril e maio. Segundo a entidade, os preços foram impactados por eventos climáticos, como a restrição hídrica e as altas temperaturas que prejudicaram a produtividade das lavouras. Além disso, o aumento do consumo global e a entrada da China como um novo mercado consumidor aqueceram a demanda.

A primeira estimativa da safra brasileira de café para 2025, divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apontou para uma produção total de 51,8 milhões de sacas de café beneficiado, o que representa uma redução de 4,4% em relação à safra anterior.

Em 2024, o Brasil registrou um recorde na exportação de café, enviando 50,5 milhões de sacas ao mercado internacional, um crescimento de 28,8% em relação ao ano anterior. Esse aumento expressivo na exportação, aliado à valorização do dólar, resultou em estoques internos reduzidos e preços mais altos para o consumidor final.

Reduzir custos e investir na experiência do cliente

Diante da alta nos preços do café, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RN) tem auxiliado os empreendedores do setor de alimentação fora do lar a adotarem estratégias para minimizar os impactos financeiros e manter a competitividade. A percepção é de que a combinação de planejamento financeiro, diversificação de produtos e investimento na fidelização do cliente pode ser a chave para superar este momento de desafios.

Por meio da comunidade “Expresso Hub”, produtores, torrefadores, cafeterias, baristas, consumidores e instituições ligadas ao segmento do café se reunem mensalmente com o Sebrae e a questão da alta nos preços do grão tem sido um dos temas centrais das discussões. De acordo com Maria Luíza Moura, gestora de alimentação fora do lar do Sebrae/RN, em janeiro já se debateu sobre precificação para cafeterias. “Essa questão do aumento dos preços já era algo que vinha acontecendo desde o final do ano passado”, explicou.

A necessidade de reajustar os preços nos cardápios foi inevitável diante do aumento significativo dos custos. Para minimizar o impacto e manter a atratividade do negócio, o Sebrae tem incentivado estratégias que agreguem valor ao produto, investindo na experiência do cliente. Entre as recomendações está a criação de combos promocionais e temáticos, com nomes criativos e imagens que despertem o interesse do consumidor.

Além disso, as chamadas “collabs”, parcerias entre cafeterias e outros estabelecimentos, como salões de beleza e barbearias, têm sido apontadas como alternativas para ampliar a clientela. “A troca de experiência com eventos voltados para o cliente final dentro das cafeterias, encontros temáticos e até a realização de happy hour são estratégias para proporcionar uma experiência diferenciada e atrativa”, destacou Maria Luíza.

Outra alternativa sugerida tem sido a compra coletiva de insumos, o que permite uma redução nos custos, mesmo para cafeterias que trabalham com diferentes tipos de cafés, como os especiais, gourmets e tradicionais. A aquisição direta de produtores locais ainda não é uma solução viável em larga escala para as cafeterias de Natal. Segundo Maria Luíza, apesar da produção existente no Rio Grande do Norte, como o café de Jaçanã, o volume não é suficiente para atender à demanda dos estabelecimentos da capital. “Ele não tem vazão para atender todas as cafeterias, então ele mesmo faz a própria distribuição e venda do café que produz. Já existem algumas parcerias, mas não são volumosas ainda”, esclareceu.

O Sebrae também oferece consultorias voltadas para a eficiência do negócio, incluindo precificação, fichas técnicas, marketing digital, estratégias de comunicação e redução de desperdícios no ambiente de preparo. O foco é minimizar custos operacionais para que o repasse ao consumidor final seja o menor possível. “É muito mais interessante e assertivo que as empresas façam essa redução de custos para precificar melhor e manter uma margem interessante para o negócio, ao mesmo tempo em que se preocupam com a experiência do cliente”, reforçou.

 Tribuna do Norte

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