O Rio Grande do Norte se prepara para receber a
planta-piloto de hidrogênio renovável, um passo inovador para o avanço da
energia limpa no Brasil. Com um investimento de R$ 90 milhões, a unidade será
instalada na Usina Termelétrica do Vale do Açu, em Alto do Rodrigues, e
atualmente está na fase de elaboração de estudos pela WEG, empresa responsável
pela construção. A previsão é que o projeto entre em operação dentro do período
de um ano, no primeiro trimestre de 2026, com testes que podem ajudar a consolidar
o hidrogênio como alternativa na transição energética.
De acordo com a Petrobras, o projeto é fruto de uma
parceria com o Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis
(Senai/ISI-ER), que assinou o contrato de construção da planta com a WEG em
outubro de 2024. Atualmente, o projeto executivo da unidade está em fase de
elaboração pela empresa, etapa em que são definidos detalhes técnicos e
operacionais da futura estrutura. O trabalho inclui estudos de engenharia para
garantir que a planta atenda às demandas do mercado e esteja alinhada com
padrões internacionais de eficiência energética e sustentabilidade.
O hidrogênio será produzido por meio do processo de
eletrólise da água utilizando energia solar, tecnologia que separa os átomos de
hidrogênio e oxigênio por meio de corrente elétrica. A energia será fornecida
pela Usina Fotovoltaica de Alto Rodrigues, que terá sua capacidade ampliada de
1,1 MWp (Megawatt pico) para 2,5 MWp. A usina de eletrólise contará com 2 MW de
potência instalada e será testada em diferentes modos de operação, interagindo
com a rede de distribuição de energia e o sistema de armazenamento já existente
no local. O objetivo é avaliar a viabilidade técnica e econômica do uso de
hidrogênio renovável em larga escala.
Durante a fase de obras, está prevista a mobilização
de aproximadamente 35 trabalhadores. Além disso, a Petrobras destaca que a
parceria com o Senai proporciona um avanço no conhecimento científico e
tecnológico na área de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
“Na divulgação do nosso PE 2050 / PN 2025 – 29, reforçamos nosso compromisso em
atuar nos nossos negócios de forma íntegra e sustentável com segurança,
buscando emissões decrescentes, promovendo a diversidade e o desenvolvimento
social, contribuindo para uma transição energética justa”, informou a
companhia.
A iniciativa faz parte da estratégia da Petrobras
para descarbonização a longo prazo. Segundo a estatal, o projeto está alinhado
ao planejamento estratégico até 2050 e ao Plano de Negócios 2025-2029, que
prevê a expansão das atividades da companhia em negócios de baixo carbono.
“Expandiremos nossa atuação em negócios de baixo carbono, sendo que, como uma
das nossas iniciativas nesse tema, pretendemos atuar na produção de hidrogênio
de baixa emissão de carbono e seus derivados, com foco na descarbonização das
nossas operações, produtos e desenvolvimento de negócios para atendimento à
demanda do mercado”, destacou a empresa.
Competitividade e expansão
O diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis,
Rodrigo Mello, observa que o projeto da planta-piloto vem sendo discutido e
trabalhado pelos times do SENAI e da Petrobras há pelo menos dois anos. Estudos
do Instituto Fraunhofer, da Alemanha, e do ISI-ER, segundo ele, apontam o Rio
Grande do Norte entre os lugares mais competitivos do Brasil para o
desenvolvimento da cadeia produtiva do hidrogênio.
“Além de ser um dos poucos locais do Brasil com
excedente de energia renovável, o Rio Grande do Norte tem acesso até a planta
por estrada de boa qualidade, tem a maior usina de desmineralização de água do
mundo, para abastecer o maior vaporduto do mundo, e uma subestação com
capacidade de escoamento da energia a partir de lá, tudo dentro de um ativo
Petrobras”, disse Rodrigo durante o lançamento do projeto, em novembro do ano
passado.
“Quando você junta tudo isso, você chega à conclusão
de que este é o melhor ponto do Brasil para se instalar uma planta-piloto. E
essa planta vai trazer para o estado, de novo, o pioneirismo não só na cadeia
de mais uma atividade de energia renovável, mas a vanguarda na geração de
tecnologia aplicada através desse investimento da Petrobras, através do nosso
ICT (Instituto de Ciência e Tecnologia), o ISI-ER”, frisou o diretor do SENAI.
A expansão dessa tecnologia pode representar um
passo significativo para consolidar o Brasil como um dos líderes globais no
setor de energia limpa. Caso o piloto seja bem-sucedido, a Petrobras avalia a
possibilidade de ampliar o uso da tecnologia para outras regiões do País.
“O projeto-piloto é um importante marco para a
Petrobras, ampliando seu conhecimento sobre a tecnologia de eletrólise e
diferentes usos de hidrogênio de baixa emissão de carbono. Em paralelo a
iniciativas de Pesquisa e Desenvolvimento, a Petrobras está avaliando
oportunidades de negócio em hidrogênio de baixo carbono para atendimento ao
mercado em diferentes localizações no país, incluindo o Nordeste”, informou a
estatal.
Nos próximos 10 anos, a estatal projeta que o
hidrogênio de baixa emissão de carbono terá papel fundamental na matriz
energética brasileira e global, consolidando-se como uma das soluções mais
viáveis para a transição energética. O plano da companhia prevê investimentos
de US$ 500 milhões em negócios de hidrogênio de baixa emissão de carbono e US$
1 bilhão em pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados para iniciativas de
baixo carbono, incluindo o hidrogênio de baixa emissão de carbono (HBEC).
“Consideramos o hidrogênio de baixa emissão de
carbono (HBEC) como elemento fundamental para o Net Zero. Vislumbramos que o
HBEC brasileiro será um dos mais competitivos do mundo. Uma vez que o Brasil
possui ampla disponibilidade de matérias-primas renováveis, o HBEC é o elo para
combustíveis do futuro (E-Fuels) e é primordial para a descarbonização dos
setores de difícil descarbonização, como alguns setores industriais e os
setores aéreo e marítimo”, afirmou a Petrobras.
Baraúna vai operar projeto de HBEC em
2027
Na esteira do investimento da Petrobras, outras
companhias já começam a direcionar recursos para projetos de hidrogênio
renovável no Rio Grande do Norte. A CPFL Energia e a Mizu Cimentos anunciaram,
em agosto passado, um investimento de R$ 40 milhões para a implantação de uma
planta de hidrogênio verde dentro da unidade da Mizu, em Baraúna. O objetivo é
substituir o petróleo pelo hidrogênio como combustível nos fornos da fábrica de
cimento, reduzindo drasticamente as emissões de carbono e tornando o processo
produtivo mais sustentável. A previsão é que a planta entre em operação em
2027.
O projeto prevê a instalação de um eletrolisador de
alta tecnologia capaz de produzir hidrogênio a partir da eletrólise da água
utilizando energia renovável, como solar e eólica. Esse hidrogênio será
utilizado na queima dos fornos da fábrica, substituindo combustíveis fósseis e
contribuindo para a descarbonização do setor. Estudos iniciais indicam que a
adoção da tecnologia pode reduzir as emissões de CO2 em até 12,5 toneladas por
ano, o que representa um avanço para a indústria do cimento, uma das mais
intensivas em emissões de carbono.
Além da busca por processos mais limpos, a
planta-piloto tem um papel estratégico no desenvolvimento do mercado de
hidrogênio verde no Brasil. A iniciativa permitirá avaliar a viabilidade
econômica do uso do combustível em larga escala e servir como modelo para
outras indústrias que buscam reduzir sua pegada de carbono.
Atualmente, o hidrogênio verde ainda tem um custo
elevado de produção, mas especialistas apontam que sua adoção é inevitável para
uma economia mais sustentável, especialmente em setores de difícil
descarbonização.
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