Desde a sexta-feira (14), passou a valer a medida do
Governo Federal que zerou a alíquota de importação de variados itens da cesta
básica, como café, carnes e biscoitos, dentre outros. A intenção é baratear o
custo dos produtos diante da escalada de preços dos últimos meses. Entidades
produtivas ouvidas pela reportagem, no entanto, avaliam que a medida não terá o
efeito esperado, visto que o País importa muito pouco a grande maioria dos
alimentos isentos. “É o caso do café e do açúcar. Aliás, somos o maior exportador
de açúcar, então, vejo que essa medida não vai ter impacto”, indica José
Vieira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern).
O presidente da Associação dos Supermercados do Rio
Grande do Norte(Assurn), Mikelyson Góis, concorda. Segundo ele, apesar de ser
cedo para uma avaliação mais acertada, há grandes chances de a medida não ter
eficácia. “A carne e o café, cujos preços vêm aumentando muito, são alimentos
que o Brasil exporta bastante, então, é difícil que haja outros países com produtos
sobrando para nos vender. É claro que é cedo para avaliar, mas dificilmente
conseguiremos combater os aumentos dessa maneira”, analisa Góis.
Os produtos que tiveram a alíquota de importação
zerada na semana passada pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex), da Câmara de
Comércio Exterior (Camex), foram o azeite, milho, óleo de girassol, sardinha,
biscoitos, massas (macarrão), café, carnes e açúcar. Além disso, o Comitê
aumentou a cota do óleo de palma, de 60 mil toneladas para 150 mil toneladas,
pelo prazo de 12 meses, com a manutenção da alíquota do imposto de importação
em 0%.
“O Brasil vai comprar café de onde, se esse é um
produto que nós mandamos para a Europa? Então, a Federação não vê nenhum
impacto a partir dessa iniciativa”, frisa José Vieira, da Faern. “Sem contar
que o processo de importação não é tão simples. Às vezes se faz uma compra via
importação que demora de três a seis meses para o produto chegar. Então, também
não terá nenhum resultado imediatamente”, complementa Mikelyson Góis, da
Assurn.
Para o economista Helder Cavalcanti, ainda que haja
um reflexo de redução de custos, a medida é apenas um paliativo, e, portanto,
os preços voltarão a subir tão logo as alíquotas voltem a ser cobradas. O
especialista acredita que a iniciativa poderá ter algum impacto imediato, dado
o dinamismo do mercado. “A medida vai funcionar sob a lei da oferta e da
procura – teremos uma oferta de produtos mais baratos no mercado, o qual tende
sempre a se adequar com muita rapidez para escoar a produção e não perder
espaços”, analisa.
“Mas, mesmo havendo essa redução, eu diria que temos
um cenário preocupante, porque, depois se volta a cobrar os impostos e os
preços se elevam novamente”, acrescenta Helder Cavalcanti. A medida, segundo
foi comunicado pelo Governo, não possui tempo estabelecido de vigência, mas, se
adotada por um ano, os impactos seriam de R$ 650 milhões (US$ 110 milhões). O
vice-presidente Geraldo Alckmin disse, contudo, esperar que a mudança permaneça
por menos tempo.
Com a isenção, o governo abre mão de algumas alíquotas
importantes, como as da carne (10,8%), do açúcar e massas (ambos com alíquotas
de 14,4%), biscoitos (16,2%) e sardinha (32% para cotas de 7,5 toneladas). Na
avaliação do Gecex, a redução tarifária poderá permitir a importação dos
produtos selecionados a custos menores, aumentando a disponibilidade desses
itens no mercado interno, facilitando a aquisição de produtos essenciais na
cesta básica nacional e garantindo condições dignas de subsistência à
população.
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