Avanço da publicidade sob Lula requer vigilância
Contratos podem chegar a R$ 3,5 bi, um salto ante
2022; obsessão por popularidade agrava riscos de mau uso das verbas
É preocupante o avanço da publicidade estatal sob
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Conforme este jornal noticiou, os contratos
dessa modalidade por parte do governo federal e de empresas controladas pelo
Tesouro Nacional podem alcançar R$ 3,5 bilhões neste ano.
Trata-se de aumento substancial em relação aos R$
2,5 bilhões, em valores corrigidos, do final da gestão Jair Bolsonaro (PL), em
2022 —um ano de eleições presidenciais. Mesmo que os valores previstos agora
não sejam integralmente desembolsados, como costuma acontecer, é difícil
imaginar bons motivos gerenciais para tamanhas pretensões.
Na publicidade oficial, com frequência se confundem
as finalidades de interesse público com a propaganda eleitoreira e a seleção de
veículos a partir de interesses políticos ou negociais. Ninguém questionará a
necessidade de divulgar campanhas de vacinação, por exemplo; os limites ficam
turvos, entretanto, quando se promovem programas que serão bandeiras de
campanha.
Agrava o quadro o mau momento de Lula —que fez de
seu marqueteiro o ministro da Comunicação Social e tornou prioridade reverter
suas taxas de reprovação nas pesquisas.
Não é de hoje que a disputa em torno da farta
publicidade federal leva à alocação duvidosa de dinheiro público. Em 2020, o
Tribunal de Contas da União julgou que faltavam critérios técnicos para
distribuição de verbas entre emissoras de TV sob Bolsonaro. Desde as primeiras
gestões petistas, veículos simpáticos à esquerda recebem montantes que minguam
em outros governos.
Pior, as estatais, que respondem pela grande maioria
dos recursos, não seguem a prática de divulgação regular e detalhada dos
beneficiários. Em 2014, a Folha e o jornalista Fernando Rodrigues, então no
UOL, recorreram à Justiça para obter dados completos sobre os gastos nessa rubrica
de 2000 a 2013 —e constatou-se um salto de 65% acima da inflação no período.
A legislação atual estabelece, ao menos, limites
para o gasto publicitário nas empresas, definidos como percentuais da receita.
Não é o bastante, de todo modo, para dissipar questionamentos em torno de
licitações como a de R$ 380 milhões ora aberta pelos Correios, retirados pelo
governo Lula do programa de privatização e acumulando prejuízos vultosos nos
últimos dois anos.
Quanto às campanhas conduzidas pelo Planalto, o TCU
apontou em outubro que há falta de indicadores e metas para avaliar resultados
e deficiências na divulgação dos dados, determinando providências em até 180
dias para aprimorar o processo.
É o mínimo. A publicidade oficial deve ser encarada
não como dádiva ao governante de turno para distorcer a competição política,
mas como política pública que precisa atender a requisitos de interesse social,
eficiência e transparência. A perspectiva de expansão desmesurada dessa despesa
requer vigilância extra.
Editorial Folha de São Paulo
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