A ostreicultura potiguar tem se firmado como
referência nacional na produção de ostras nativas. O Estado, que há pouco mais
de uma década não possuía um setor estruturado, hoje lidera o ranking
brasileiro da espécie nativa graças a uma parceria entre produtores, Sebrae-RN
e Fundação Banco do Brasil. Segundo o último Boletim da Aquicultura em Águas da
União, divulgado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a produção de
ostras nativas no RN saltou de 0,80 tonelada em 2020 para 152 toneladas em
2023.
Para os produtores, a transição para um modelo
estruturado garantiu avanços em qualidade e sustentabilidade. “Fazíamos o
extrativismo aqui e, de certa forma, era um cultivo predatório, sem repor os
bancos naturais”, lembra Rafael Amaro, que preside a Associação dos Produtores
de Ostras (Aproostras-RN), em Tibau do Sul, cidade que concentra 17 das 45
famílias que trabalham com a ostreicultura sustentável no Estado. Além de Tibau
do Sul, Senador Georgino Avelino e, mais recentemente, Canguaretama, formam a cadeia
produtora potiguar.
“Quando chegaram aqui, a gente ficou meio assim,
porque imagina só: a gente cabeça dura, extrativista, pensamos logo que não
daria certo, que as sementes de laboratório eram pequenas demais, difícil
demais, mas, para nossa surpresa, em seis meses a gente já estava tirando ostra
para fazer a comercialização. Foi então que começamos a entender que a parte
predatória não fazia mais parte do nosso cotidiano”, completa o produtor Rafael
Amparo.
A produção de ostras nativas no Rio Grande do Norte
é resultado de um modelo inovador e sustentável. Diferente dos estados do Sul
do Brasil, onde a criação ocorre em águas frias e por meio do sistema suspenso
longline, no RN a ostreicultura acontece em mesas fixas dentro dos estuários e
manguezais com águas mais aquecidas. Esse método favorece o crescimento das
ostras em um ambiente mais controlado e propício ao desenvolvimento da espécie
nativa, o que garante um produto de excelente qualidade e alto valor agregado.
O crescimento da atividade tem sido acompanhado pela
regularização de áreas aquícolas e pelo incentivo à adoção de boas práticas de
manejo. Em 2023, três Relatórios Anuais de Produção (RAPs) foram apresentados
ao governo federal para reforçar a transparência e a organização da atividade
no Estado. Além disso, a produção é frequentemente averiguada pelo Instituto de
Defesa e Inspeção Agropecuária (Idiarn) e Ministério da Agricultura e Pecuária
(Mapa), por meio da adesão ao Programa Higiênico-Sanitário de Moluscos
Bivalves, uma inovação no Nordeste.
Com as 45 famílias envolvidas na produção, o projeto
conta com três associações principais: a Associação dos Produtores de Ostras do
Rio Grande do Norte (Aproostras), sediada em Tibau do Sul; a Associação dos
Ostreicultores de Canguaretama (AOCA) e a Ostras Guaraíras, em Senador Georgino
Avelino. O fortalecimento dessas associações permitiu que os produtores
tivessem suporte técnico, acesso a insumos e capacitação especializada do
Sebrae-RN para aprimorar o manejo e a comercialização.
Sementes selecionadas garantem alta
qualidade
Um dos grandes diferenciais da ostreicultura
potiguar é o controle sanitário e a garantia de rastreabilidade da produção. O
monitoramento contínuo das águas garante que as ostras sejam cultivadas em um
ambiente seguro, minimizando riscos para os consumidores e agregando valor ao
produto final, explica Rui Trombeta, consultor do Sebrae. “A ostra tem uma
particularidade, porque ela é um animal filtrador. Ela filtra a água e desse
processo retira os alimentos – microalgas, o fitoplâncton – e também filtra
sujeiras, poluentes. Ela é um bioindicador de qualidade de água”, diz.
E acrescenta: “Se aquela água onde ela foi extraída,
tiver comprometida, essa ostra também vai estar comprometida e as pessoas podem
passar mal com isso. Então, hoje, com todo esse monitoramento do Idiarn, do
Ministério de Pesca e Agricultura, de análises microbiológicas, de fitotoxinas,
que são feitas em laboratórios de Mossoró e Santa Catarina, a gente consegue
essa segurança alimentar para os consumidores”, conta Trombeta, que também é
engenheiro de pesca.
A qualidade também está ligada à produção de
sementes, um dos fatores determinantes para o sucesso da atividade. Nesse
sentido, o laboratório Primar Aquacultura desempenha um papel crucial ao
fornecer larvas selecionadas para os ostreicultores potiguares. Diferente de
Santa Catarina, onde universidades federais são responsáveis pela produção de
sementes, no RN a iniciativa privada e o Sebrae viabilizaram o acesso dos
produtores a uma semente de alto padrão genético, pontua Mona Nóbrega, gerente
de Desenvolvimento Rural e Negócios do Sebrae.
“A Primar é a
empresa que produz as sementes, que são entregues aos produtores ainda
minúsculas, e esse produtor termina o manejo dentro da Lagoa de Guaraíras.
Então, nessa parceria entre o Sebrae e a Primar, a gente entra com o manejo, a
assistência técnica para esses produtores; a gente já entrega parte dessas
sementes e são subsidiadas, inclusive, com nossa prestação de serviço. Os produtores
pagam a parte, o Sebrae subsidia uma outra e a Primar entra nessa parceria
fornecendo essas sementes”, detalha Nóbrega.
Expansão de mercado e valorização
O reconhecimento da ostreicultura potiguar
ultrapassa as divisas do RN e consolida o Estado como referência nacional. A
ostra nativa, por ser adaptada ao ambiente tropical, apresenta características
diferenciadas em termos de sabor e textura, o que a torna uma opção valorizada
no mercado gastronômico. Mesmo com a liderança nacional, o potencial do setor
ainda está longe de ser completamente explorado.
Mona Nóbrega, do Sebrae-RN, destaca que, apesar do
avanço da ostreicultura, o setor ainda tem um grande caminho a percorrer.
“Diferente de Santa Catarina, que hoje é o maior produtor, a espécie aqui é
nativa, própria nossa. E isso faz com que a gente desponte como os grandes
produtores dessa espécie. E, apesar de ser uma cadeia relativamente pouco
explorada, existe um potencial gigante do mercado para que o médio produtor
também e o grande empresário possam se apropriar desse potencial e entrar
também nessa cadeia de valor. Não só os pequenos”, afirma.
O crescimento da cultura econômica também gerou um
impacto positivo no turismo e na economia regional. Restaurantes e bares de
Natal, Recife e Pipa, na própria Tibau do Sul, já oferecem ostras nativas
potiguares em seus cardápios. O turismo de experiência também se fortaleceu,
com visitantes buscando conhecer o processo de cultivo e degustar as ostras
frescas direto dos viveiros.
Prova disso é o restaurante flutuante Sorriso da
Ostra, de “Seu Zé da Ostra”. O local é um point turístico e oferece a iguaria
em diversos preparos. “Temos a ostra natural, gratinada, grelhada, no bafo, com
vinagrete de abacaxi, com geleia de maracujá. Hoje muitos turistas vêm aqui.
Temos muitos produtores, são 17 famílias aqui da região. Forneço também para
Fernando de Noronha, Recife. Temos uma produção que mudou bastante graças ao
Sebrae e a Fundação Banco do Brasil, que montou essa estrutura”, diz.
Com 72 anos de idade, Zé da Ostra dedicou meio
século ao cultivo do molusco. “Quando eu comecei a criar ostra, ninguém criava
na região; eu fui o primeiro criador de ostra daqui. Muita coisa mudou nesses
50 anos, chegaram mais famílias produtoras. A ostra representa tudo na minha
vida. Tudo que eu tenho devo a esse trabalho. Eu criei seis filhos somente
criando ostra. Estão todos bem criados”, conta o produtor.
- Produção
de ostras nativas no RN
- 2020:
0,80 toneladas
- 2021:
25 toneladas
- 2022:
132 toneladas
- 2023:
152 toneladas
Em 2023, os outros estados que produziram ostras
nativas foram Santa Catarina (25,2 toneladas); e Paraná (13,5 toneladas).
Fonte: Boletim da Aquicultura em Águas da União (MPA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário