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domingo, 16 de março de 2025

Com manejo sustentável, RN lidera produção de ostras nativas no Brasil

 


A ostreicultura potiguar tem se firmado como referência nacional na produção de ostras nativas. O Estado, que há pouco mais de uma década não possuía um setor estruturado, hoje lidera o ranking brasileiro da espécie nativa graças a uma parceria entre produtores, Sebrae-RN e Fundação Banco do Brasil. Segundo o último Boletim da Aquicultura em Águas da União, divulgado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a produção de ostras nativas no RN saltou de 0,80 tonelada em 2020 para 152 toneladas em 2023.

Para os produtores, a transição para um modelo estruturado garantiu avanços em qualidade e sustentabilidade. “Fazíamos o extrativismo aqui e, de certa forma, era um cultivo predatório, sem repor os bancos naturais”, lembra Rafael Amaro, que preside a Associação dos Produtores de Ostras (Aproostras-RN), em Tibau do Sul, cidade que concentra 17 das 45 famílias que trabalham com a ostreicultura sustentável no Estado. Além de Tibau do Sul, Senador Georgino Avelino e, mais recentemente, Canguaretama, formam a cadeia produtora potiguar.

“Quando chegaram aqui, a gente ficou meio assim, porque imagina só: a gente cabeça dura, extrativista, pensamos logo que não daria certo, que as sementes de laboratório eram pequenas demais, difícil demais, mas, para nossa surpresa, em seis meses a gente já estava tirando ostra para fazer a comercialização. Foi então que começamos a entender que a parte predatória não fazia mais parte do nosso cotidiano”, completa o produtor Rafael Amparo.

A produção de ostras nativas no Rio Grande do Norte é resultado de um modelo inovador e sustentável. Diferente dos estados do Sul do Brasil, onde a criação ocorre em águas frias e por meio do sistema suspenso longline, no RN a ostreicultura acontece em mesas fixas dentro dos estuários e manguezais com águas mais aquecidas. Esse método favorece o crescimento das ostras em um ambiente mais controlado e propício ao desenvolvimento da espécie nativa, o que garante um produto de excelente qualidade e alto valor agregado.

O crescimento da atividade tem sido acompanhado pela regularização de áreas aquícolas e pelo incentivo à adoção de boas práticas de manejo. Em 2023, três Relatórios Anuais de Produção (RAPs) foram apresentados ao governo federal para reforçar a transparência e a organização da atividade no Estado. Além disso, a produção é frequentemente averiguada pelo Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária (Idiarn) e Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), por meio da adesão ao Programa Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves, uma inovação no Nordeste.

Com as 45 famílias envolvidas na produção, o projeto conta com três associações principais: a Associação dos Produtores de Ostras do Rio Grande do Norte (Aproostras), sediada em Tibau do Sul; a Associação dos Ostreicultores de Canguaretama (AOCA) e a Ostras Guaraíras, em Senador Georgino Avelino. O fortalecimento dessas associações permitiu que os produtores tivessem suporte técnico, acesso a insumos e capacitação especializada do Sebrae-RN para aprimorar o manejo e a comercialização.

Sementes selecionadas garantem alta qualidade

Um dos grandes diferenciais da ostreicultura potiguar é o controle sanitário e a garantia de rastreabilidade da produção. O monitoramento contínuo das águas garante que as ostras sejam cultivadas em um ambiente seguro, minimizando riscos para os consumidores e agregando valor ao produto final, explica Rui Trombeta, consultor do Sebrae. “A ostra tem uma particularidade, porque ela é um animal filtrador. Ela filtra a água e desse processo retira os alimentos – microalgas, o fitoplâncton – e também filtra sujeiras, poluentes. Ela é um bioindicador de qualidade de água”, diz.

E acrescenta: “Se aquela água onde ela foi extraída, tiver comprometida, essa ostra também vai estar comprometida e as pessoas podem passar mal com isso. Então, hoje, com todo esse monitoramento do Idiarn, do Ministério de Pesca e Agricultura, de análises microbiológicas, de fitotoxinas, que são feitas em laboratórios de Mossoró e Santa Catarina, a gente consegue essa segurança alimentar para os consumidores”, conta Trombeta, que também é engenheiro de pesca.

A qualidade também está ligada à produção de sementes, um dos fatores determinantes para o sucesso da atividade. Nesse sentido, o laboratório Primar Aquacultura desempenha um papel crucial ao fornecer larvas selecionadas para os ostreicultores potiguares. Diferente de Santa Catarina, onde universidades federais são responsáveis pela produção de sementes, no RN a iniciativa privada e o Sebrae viabilizaram o acesso dos produtores a uma semente de alto padrão genético, pontua Mona Nóbrega, gerente de Desenvolvimento Rural e Negócios do Sebrae.

 “A Primar é a empresa que produz as sementes, que são entregues aos produtores ainda minúsculas, e esse produtor termina o manejo dentro da Lagoa de Guaraíras. Então, nessa parceria entre o Sebrae e a Primar, a gente entra com o manejo, a assistência técnica para esses produtores; a gente já entrega parte dessas sementes e são subsidiadas, inclusive, com nossa prestação de serviço. Os produtores pagam a parte, o Sebrae subsidia uma outra e a Primar entra nessa parceria fornecendo essas sementes”, detalha Nóbrega.

Expansão de mercado e valorização

O reconhecimento da ostreicultura potiguar ultrapassa as divisas do RN e consolida o Estado como referência nacional. A ostra nativa, por ser adaptada ao ambiente tropical, apresenta características diferenciadas em termos de sabor e textura, o que a torna uma opção valorizada no mercado gastronômico. Mesmo com a liderança nacional, o potencial do setor ainda está longe de ser completamente explorado.

Mona Nóbrega, do Sebrae-RN, destaca que, apesar do avanço da ostreicultura, o setor ainda tem um grande caminho a percorrer. “Diferente de Santa Catarina, que hoje é o maior produtor, a espécie aqui é nativa, própria nossa. E isso faz com que a gente desponte como os grandes produtores dessa espécie. E, apesar de ser uma cadeia relativamente pouco explorada, existe um potencial gigante do mercado para que o médio produtor também e o grande empresário possam se apropriar desse potencial e entrar também nessa cadeia de valor. Não só os pequenos”, afirma.

O crescimento da cultura econômica também gerou um impacto positivo no turismo e na economia regional. Restaurantes e bares de Natal, Recife e Pipa, na própria Tibau do Sul, já oferecem ostras nativas potiguares em seus cardápios. O turismo de experiência também se fortaleceu, com visitantes buscando conhecer o processo de cultivo e degustar as ostras frescas direto dos viveiros.

Prova disso é o restaurante flutuante Sorriso da Ostra, de “Seu Zé da Ostra”. O local é um point turístico e oferece a iguaria em diversos preparos. “Temos a ostra natural, gratinada, grelhada, no bafo, com vinagrete de abacaxi, com geleia de maracujá. Hoje muitos turistas vêm aqui. Temos muitos produtores, são 17 famílias aqui da região. Forneço também para Fernando de Noronha, Recife. Temos uma produção que mudou bastante graças ao Sebrae e a Fundação Banco do Brasil, que montou essa estrutura”, diz.

Com 72 anos de idade, Zé da Ostra dedicou meio século ao cultivo do molusco. “Quando eu comecei a criar ostra, ninguém criava na região; eu fui o primeiro criador de ostra daqui. Muita coisa mudou nesses 50 anos, chegaram mais famílias produtoras. A ostra representa tudo na minha vida. Tudo que eu tenho devo a esse trabalho. Eu criei seis filhos somente criando ostra. Estão todos bem criados”, conta o produtor.

  • Produção de ostras nativas no RN
  • 2020: 0,80 toneladas
  • 2021: 25 toneladas
  • 2022: 132 toneladas
  • 2023: 152 toneladas

Em 2023, os outros estados que produziram ostras nativas foram Santa Catarina (25,2 toneladas); e Paraná (13,5 toneladas).
Fonte: Boletim da Aquicultura em Águas da União (MPA)

 Tribuna do Norte





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