É com um misto de sentimentos que muitos agentes da
segurança pública e cidadãos comuns encaram uma realidade já tão debatida, porém
ainda distante de mudanças urgentes. O crescimento acelerado da criminalidade
em todo o país forçou os representantes do Poder Legislativo a se enquadrarem
nesse fenômeno, que, em pouco tempo, transformou o cenário dos Estados com a
presença nebulosa e desafiadora do crime. Uma tentativa até hoje frustrante,
cercada por paredes burocráticas aparentemente intransponíveis e por uma
política já viciada, capaz de flexibilizar a atuação destemida de facções,
traficantes e milícias.
O tema da Segurança Pública, há muito tempo, mais
serve como pauta recorrente no parlamento para enganar e acalmar a população do
que para extirpar esse câncer que já virou metástase. Acredito que esse
pensamento seja compartilhado por aqueles que enfrentam de perto esse monstro que
dizima famílias inteiras e mata pessoas que, embora ainda vivas, carregam o
medo pulsando em suas veias.
Nestes dias de maio, ouvi por telefone o apelo de
dona Francimara Gurgel, moradora do bairro Cidade Nova, na zona Oeste de Natal.
Com a voz trêmula, ela me dizia, já por volta das 11h da noite, que a rua onde
vive há 40 anos se transformou em um campo de batalha. As noites são embaladas
pelo som de tiros que duram até a madrugada. A senhora, de 75 anos, contou que,
nos últimos 10 anos, foram mais de 20 mortes. “Eu vivo pela glória de Deus, meu
filho, trancada dentro de casa e orando para que meu neto também saia dessa
vida de crimes”, declarou.
Dona Fran, como é conhecida, enfrenta o velho
desgosto de ter um familiar preso, assim como tantas mães que sofrem diante do
mesmo destino. Algumas chegam ao ponto de tomar a surpreendente decisão de
preferir ver o filho na cadeia, pois lá é mais seguro do que aqui fora. No
entanto, a maioria se decepciona com o mesmo problema: a legislação atual
possui brechas escancaradas que colocam de volta na sociedade indivíduos que
cometeram infrações graves, inflamando a revolta popular. Bandidos e bandidas
que trazem no peito a marca de crimes atrozes, mas que, amparados pela lei,
saem livres de um flagrante antes mesmo da assinatura de encerramento da
ocorrência feita pelo policial que os prendeu.
Presenciei, dezenas de vezes, o olhar de decepção e
a sensação de trabalho perdido de muitos agentes. Alguns, inclusive,
desabafavam sobre o iminente desejo de desistir da profissão.
Nesses quase 30 anos de cobertura policial, já vi
muitos criminosos reincidirem diversas vezes em um único mês. Homens e
mulheres, em sua maioria jovens, que assumem o risco do “corre” dar errado, mas
que sabem que, como me disse um preso de dentro da cela na antiga Defur: “A
cadeia não é tão longa, mas o bagulho é bom”.
Vendo essa engrenagem funcionar sem o óleo da
verdadeira justiça, não posso esperar mudanças reais, sólidas e eficazes
enquanto a lei não se tornar, urgentemente, mais rígida. Só então o grito “Teje
preso” fará algum efeito nesses tempos vermelhos… também de sangue.
Por: O Equilibrista
Nenhum comentário:
Postar um comentário