Por
José Roberto de Toledo – UOL
Após sofrer a maior queda de aprovação em seus dez
anos como presidente no mês passado – como foi revelado aqui em primeira mão
três semanas atrás -, Lula continuou perdendo popularidade em fevereiro. O Ipec
(antigo Ibope) mostra agora, com exclusividade, que essa perda enfraqueceu o
presidente junto ao seu eleitorado mais fiel. Subiu de 57% para 62% a taxa de
brasileiros que dizem que Lula não deveria se candidatar à reeleição.
Se 95% dos eleitores de Bolsonaro são contra a
candidatura do petista, eles não estão sós: 32% dos que votaram em Lula em 2022
dizem que ele não deveria tentar um quarto mandato. Um em três.
A perda de apoio à reeleição entre eleitores que
votaram em Lula dois anos atrás se agravou no período recente. A taxa dos
lulistas que dizem que ele não deveria tentar a reeleição subiu oito pontos
desde de novembro de 2024, de 24% para 32%.
O Ipec perguntou aos 62% de entrevistados que
responderam que Lula não deveria se candidatar à reeleição em 2026 o motivo
pelo qual eles dizem isso. As respostas foram espontâneas e os entrevistados
puderam apontar mais de um motivo, se assim quisessem – por isso a soma das
respostas supera 100%. A pesquisa foi nacional e realizada face a face, no
domicílio.
Os principais motivos citados
espontaneamente para quem é contra a reeleição de Lula são:
1) Não está fazendo um bom trabalho – 36% dos
entrevistados
2) Porque é corrupto – 20%
3) Pela idade – 17%
4) Já teve a sua chance – 11%
5) Por não confiar nele – 9%
6) Para ter renovação – 7%
7) Não é um bom administrador – 5%
8) Aumentou impostos – 5%
9) Prometeu não se candidatar novamente – 3%
10) Não cumpre o que promete – 2%
10) Inflação muito alta – 2%
Logo, a maior objeção é ao desempenho de Lula: 50%.
- 36%
(não faz bom trabalho) + 5% (não é bom administrador) + 5% (aumento
impostos) + 2% (inflação alta) + 2% (não cumpre promessas) = metade dos
respondentes.
“Não faz um bom trabalho” foi o argumento contra a
reeleição que mais cresceu desde novembro: de 27% para 36%. É conjuntural,
oscila junto com a avaliação do governo, e é mais comum entre quem votou em
Bolsonaro:
- 39%
dos bolsonaristas dizem que o presidente não faz um bom trabalho, contra
27% dos lulistas;
Mas o “não faz um bom trabalho” cresceu menos entre
eleitores de Bolsonaro (9 pontos) do que entre eleitores de Lula (11 pontos)
entre novembro e fevereiro.
Em tese, essa perda é reversível, especialmente
entre os lulistas. Mas, claro, desde que o desempenho do governo melhore.
Outros argumentos parecem mais difíceis de mudar, mas só parecem, pois também
oscilam repentinamente.
A segunda maior objeção (39%) à recandidatura de
Lula tem a ver com desgaste da imagem presidencial e desejo de renovação:
- 17%
citam idade avançada e saúde do presidente,
- 11%
dizem que ele já teve sua chance,
- 7%
dizem que é preciso renovar,
- 3%
afirmam que ele prometeu não se candidatar de novo,
- 1%
é contra a reeleição em geral.
Essa soma era muito maior em novembro: 55%. Ou seja,
caiu 16 pontos. Lula não ficou mais novo nos últimos meses, mas as notícias
sobre sua saúde e sobre a operação na cabeça sumiram. Longe das manchetes,
longe da preocupação dos eleitores.
Porém, a troca do noticiário sobre a saúde do
presidente pelo aumento do preço dos alimentos (somada à campanha de
desinformação sobre a taxação do Pix) resultou em saldo negativo para
Lula.
Lula perdeu apoio, principalmente, entre
quem costuma apoiá-lo em quase todas as eleições
Entre os brasileiros mais pobres, que ganham até 1
salário mínimo por mês, inverteu-se a maioria: 52% dizem agora que Lula não
deveria se candidatar em 2026. Há três meses, 53% diziam o contrário, que deveria.
Era o único segmento de renda que apoiava majoritariamente o Lula 4. Não mais.
No Nordeste aconteceu quase a mesma coisa. Os 56%
que, em novembro, apoiavam a reeleição de Lula caíram para 48%. Estão agora
empatados tecnicamente com os 49% que se opõem ao quarto mandato. Os do contra
cresceram sete pontos desde novembro.
Cada vez mais lulistas que deram 3 de cada 4 votos
nordestinos ao presidente em 2022 não estão gostando do terceiro mandato. Em
três meses, aumentou 10 pontos a frequência dos moradores da região Nordeste
que dizem que não apoiam a reeleição de Lula porque ele não está fazendo um bom
trabalho como presidente.
A conclusão a que se chega analisando os números da
pesquisa Ipec é que o Lula 3 é o maior inimigo do Lula 4. O governo não tem nada
exuberante a mostrar. O que tem foi insuficiente para convencer a maioria do
eleitorado (e grande parte de seus simpatizantes) de que está fazendo um bom
trabalho.
A idade do presidente, que fará 80 anos em outubro,
pode ser um problema para sua reeleição? Os números mostram que sim, mas idade
é um problema acessório, que ganha força quando há noticiário negativo sobre a
saúde presidencial e reflui quando não há.
Na linguagem dos políticos, o governo não tem
entrega. Não deixa marca, logo, não mostra a que veio. Como consequência, o
eleitor quer trocá-lo. Essa é a chave principal de qualquer eleição,
continuidade versus mudança. Os ventos estão para mudança.
Quando eles sopram nesse sentido, o nome do
candidato governista faz diferença, mas não é o fator principal na eleição.
Ventos de mudança, quando são muito fortes, inviabilizam qualquer um que esteja
tentando convencer o eleitorado que está bom como está. O único argumento
nesses casos é o “medo da mudança”. Seria irônico Lula trocar a esperança pelo
medo na sua última eleição presidencial.
Há dois jeitos de um governante tentar reorientar os
ventos da opinião pública: mudar o governo ou mudar a comunicação. De
preferência, ambos.
A mudança feita por Lula, até agora, foi a mais
fácil: na comunicação. Empoderou o marqueteiro Sidônio Palmeira no comando do
que o governo diz. Mas o problema principal – e muito mais difícil de lidar – é
o que o governo faz, ou deixa de fazer. Para mudar a ação, a proposta sempre
cogitada e nunca executada é uma reforma ministerial. Se e quando virá, só Lula
sabe.
Quanto mais tempo demora a mudança no governo, menos
tempo sobra para mudar a direção da opinião pública. A campanha eleitoral é
permanente, mas só pega fogo a partir de maio do ano que vem. Restam 15 meses
para Lula 3 viabilizar Lula 4 – ou Haddad 1.
Por
José Roberto de Toledo – UOL
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