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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

TANGARAENSE - Editorial Folha de São Paulo: Ministério da Saúde precisa correr atrás do prejuízo

 


Ministério da Saúde precisa correr atrás do prejuízo

Nísia cai após erros de gestão e fritura promovida até por Lula, que busca melhor popularidade com reforma nas pastas

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu Nísia Trindade, agora ex-ministra da Saúde. Mesmo que a pasta tenha cometido erros de gestão, a longa demora na exoneração —que a deixou exposta a críticas públicas de congressistas e até do presidente— denota não apenas pouco caso do petista, mas um governo atabalhoado.

Após o desastre sob Jair Bolsonaro (PL), a chegada de Nísia foi bem recebida por ser um nome técnico com credibilidade.

Formada em ciências sociais pela UERJ, suas pesquisas abordam a relação entre ciência, saúde e desigualdades. Em 2017, foi a primeira mulher a presidir a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), posto que ocupou até 2022.

No entanto, em quase 14 meses de ministério, não conseguiu deixar uma marca, melhorar de modo significativo indicadores do SUS, como filas para consultas e cirurgia eletivas, nem enfrentar de forma eficaz a tragédia anunciada da epidemia de dengue.

Em 2024, mais pessoas morreram pela doença no país (5.873) do que a soma dos oito anos anteriores (4.992). Em dois alertas no início de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia projetado os riscos de crise sanitária em regiões como a América do Sul devido às mudanças climáticas.

Contudo o Ministério da Saúde não preparou a rede básica de atendimento e protelou a autorização para a vacina Qdenga. Nísia foi demitida justamente no dia em que anunciou um acordo para a produção do imunizante do Instituto Butantan.

A calamidade da dengue foi usada por parlamentares para tentar avançar sobre a pasta, que movimenta verba gigantesca —a saúde pública consome 4% do PIB brasileiro, o que representa mais de R$ 450 bilhões por ano.

Com a hipertrofia do Congresso Nacional nos últimos anos, que gera anomalias como o uso opaco das famigeradas emendas, aumenta a pressão sobre o Executivo por nacos do poder.

Isso somado à queda de popularidade de Lula pavimentou o caminho para uma reforma ministerial, iniciada com a troca de Paulo Pimenta na Secom da presidência por Sidônio Palmeira. Especula-se que o vice Geraldo Alckmin (PSB) também cairá da pasta de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para dar mais espaço ao centrão.

Quem ocupará o lugar de Nísia é Alexandre Padilha, que comandou a pasta da Saúde de Dilma Rousseff (PT) e é ministro de Relações Institucionais. Sua principal marca foi o Programa Mais Médicos, que teve impacto limitado nos resultados almejados.

Por óbvio, disputas por poder e acordos com o Congresso fazem parte, para o bem e para o mal, do presidencialismo de coalização tradicional no Brasil.

Espera-se, porém, que Lula não pense só na governabilidade e, sobretudo, na sua popularidade e na eleição de 2026 —ainda mais em áreas essenciais. Que a busca por resolver os problemas crônicos do país, missão para a qual foi eleito, seja priorizada na reforma.

Editorial Folha de São Paulo

 

 

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