O uso de creatina, um dos suplementos mais populares
no universo fitness, vem ganhando cada vez mais espaço não apenas entre
atletas, mas também entre pessoas interessadas em melhorar a saúde geral e a
qualidade de vida. Produzida naturalmente pelo corpo humano e presente em
alimentos como carne e peixe, a substância é reconhecida pelo potencial de
impulsionar o ganho de força, melhorar a performance em atividades físicas e
até beneficiar funções cerebrais. No entanto, seu consumo precisa ser orientado
por profissionais para garantir segurança e eficácia.
Segundo Larissa Pimentel, médica endocrinologista, a
creatina atua como uma fonte de energia rápida no metabolismo muscular, isso
porque se trata de um composto orgânico sintetizado a partir de três
aminoácidos: arginina, glicina e metionina. “No músculo, a creatina é
armazenada na forma de fosfocreatina, que participa da regeneração do ATP, a
principal molécula de energia do corpo”, explica. Esse mecanismo torna o
suplemento importante para quem busca melhorar a performance em atividades de
força e explosão.
De acordo com a publicação “Creatina como suplemento
alimentar: parâmetros fisiológicos e regulatórios do seu consumo”, publicada no
repositório de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP), as análises
recentes mostram que variações de 0,07g a 5g diárias por kg de massa corporal
são capazes de promover resultados favoráveis em treinos de resistência para
crescimento de massa magra. Embora o corpo humano produza creatina naturalmente
e ela esteja presente em alimentos de origem animal, a quantidade obtida por
meio da alimentação costuma ser insuficiente para alcançar os efeitos desejados
em termos de desempenho físico.
Para isso, são vendidas creatinas em pó ou em
cápsulas, favorecendo a fácil suplementação. A nutricionista clínica Beatriz
Mendonça explica que, mesmo com uma dieta rica em carnes e peixes, dificilmente
seria possível atingir a quantidade ideal apenas pela alimentação. “É
necessário suplementar, pois seria inviável consumir a quantidade necessária de
creatina por meio dos alimentos”, pontua.
Sabendo disso, Juliana Nascimento, 23, iniciou a
suplementação de creatina há cerca de três anos. Assídua na musculação, ela já
escutava relatos de outros colegas. “Muitos começavam a ter mais rendimento nos
treinos e favorecer o ganho de massa. Depois de um tempo, percebi isso também
em mim”, explica. Associado à creatina, ela relata também o ajuste na
alimentação.
Esse caminho de não achar que a creatina seria a
solução completa é o procedimento correto, segundo Beatriz Mendonça. De acordo
com a nutricionista, para que os resultados sejam percebidos, uma série de
hábitos saudáveis devem ser adotados, como a ingestão correta da quantidade de
macronutrientes, já que eles são essenciais na manutenção correta do organismo.
Além disso, estudos recentes sugerem que a creatina
pode trazer benefícios que vão além do ganho muscular. Pesquisas, como a
desenvolvida na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), indicam que
o composto pode melhorar a função cognitiva, especialmente em idosos, e
contribuir para a preservação da massa muscular em pessoas mais velhas,
prevenindo a sarcopenia, que é a perda natural de massa muscular associada ao
envelhecimento.
Na hora do consumo, a dose de manutenção sugerida
pela nutricionista e reiterada pela endocrinologista é entre 3g a 5g por dia.
No entanto, elas relembram que isso depende do peso, composição corporal e
nível de atividade física. “Sempre a dosagem deve ser individualizada. Existem
alguns estudos que mostram benefícios em relação a uma fase inicial de
saturação, que seria opcional, a depender dos objetivos da utilização, da
atividade física realizada e da composição corporal do paciente”, explica
Larissa Pimentel.
Creatina é para todo mundo?
Apesar dos estudos científicos de longo prazo
apresentarem a creatina como uma das substâncias mais seguras no mundo da
suplementação, ela deve ser consumida sempre sob a orientação de especialistas.
De acordo com Larissa Pimentel, normalmente a creatina não apresenta riscos
para indivíduos saudáveis, mas quem possui alguma intercorrência nos rins deve
tomar cuidado.
“Para quem tem doença renal crônica ou doença
hepática, seu uso nem sempre é permitido. Por isso, cada paciente deve ser
avaliado individualmente e a sua prescrição deve ser feita com acompanhamento
médico e nutricional. Diante dessa ampla difusão do uso de suplementação,
muitas pessoas estão colocando em risco a sua saúde, utilizando sem prescrição
e de forma indiscriminada”, alerta a endocrinologista.
Em relação a uma possível influência da creatina na
produção hormonal, Larissa Pimentel explica que não há evidências sobre o
assunto. “Pelo contrário, alguns estudos parecem sugerir que ela pode ter
efeitos positivos, especialmente na sensibilidade à insulina e na regulação de
hormônios anabólicos, como a testosterona e o IGF-1, que estão associados à
síntese muscular”, esclarece.
Em pessoas saudáveis, ela destaca que os efeitos
adversos relatados são mínimos, como desconforto gastrointestinal, que pode
ocorrer ao ingerir doses acima do indicado, e retenção hídrica intramuscular.
“Isso pode gerar um aumento na balança, o que não significa que é gordura, mas
sim por causa dessa retenção. Assim, é importante manter a hidratação adequada
para minimizar esse impacto”, orienta a nutricionista.
Aplicação no esporte eleva o rendimento
Embora possa ser utilizada até mesmo por pessoas
sedentárias, a creatina costuma ser mais usada entre esportistas. De acordo com
Gabriel Barreto, profissional de educação física especialista em treinamento
feminino, a função energética faz da creatina uma aliada em treinos que exigem
força e potência muscular. “Ela é eficaz principalmente para treinos de alta
intensidade e curta duração. Esportes como musculação, lutas, futebol, basquete
e vôlei são os que mais se beneficiam do suplemento”, destaca.
Além de impulsionar o desempenho físico, a creatina
também se mostra eficiente na recuperação muscular. “Durante exercícios intensos,
os músculos sofrem microlesões. A creatina acelera o processo de reparação,
reduz a inflamação e melhora a hidratação muscular, facilitando a recuperação e
permitindo treinos mais frequentes e intensos”, afirma Gabriel.
Apesar desses amplos benefícios, o profissional
ressalta que a creatina não é a melhor opção para todos os tipos de esporte, em
especial para atletas de alto rendimento que atuam em ciclismo e maratonas de
corrida. Segundo Gabriel, esses esportes exigem resistência e demandam uma fonte
de energia mais constante, além de poder representar uma desvantagem em
modalidades em que o peso corporal desempenha um papel crucial, em razão da
retenção hídrica intramuscular.
“Cada modalidade esportiva exige uma abordagem
específica. A creatina é excelente para quem busca força e explosão, mas em
esportes de resistência, pode ser mais interessante adotar outras estratégias
de suplementação. Como a creatina aumenta a retenção de água nos músculos, é
essencial ingerir bastante líquido para evitar problemas como câimbras e
desidratação”, enfatiza Gabriel Barreto, relembrando que o suplemento ajuda a
controlar a produção de radicais livres no corpo, que se acumulam após
atividades físicas intensas e contribuem para o estresse oxidativo, uma das
causas da dor muscular tardia.
Mesmo com esses resultados constantes, o
profissional de educação física destaca que o impacto do suplemento também pode
variar de acordo com o perfil do indivíduo. Segundo ele, a resposta ao uso de
creatina pode ser influenciada por fatores como biologia, dieta e idade. Ele
ressalta ainda que idosos também podem ter ganhos significativos ao usar o
suplemento, já que a creatina ajuda a preservar a massa muscular e a força, que
naturalmente diminuem com o envelhecimento.
Aos esportistas, independentemente de ser dia de
descanso ou não, a nutricionista Beatriz Mendonça relembra que a creatina deve
ser ingerida normalmente. “O consumo sem orientação profissional pode levar à
ingestão de doses erradas, o que compromete a eficácia e pode gerar
desconfortos. O importante é manter o uso diário, já que a creatina tem efeito
cumulativo. O horário deve ser aquele que se encaixa melhor na rotina de cada
pessoa”, complementa Mendonça.
No Brasil, o uso da creatina como suplemento alimentar
passou a ser regulamentado pela Anvisa em 2018, com a criação de um marco
regulatório específico para suplementos. Antes disso, esses produtos eram
classificados apenas como “alimentos para atletas” ou “suplementos vitamínicos
e minerais”, sem uma categorização clara. Atualmente, a regulamentação visa
garantir o acesso a produtos seguros e de qualidade, exigindo que as marcas
cumpram exigências rigorosas quanto à composição e aos padrões de segurança.
Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário