Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) revelam
que o cantor e ex-vereador Netinho de Paula ofereceu ajuda ao agiota do
Primeiro Comando da Capital (PCC), Ademir Pereira de Andrade, para promover uma
ofensiva política contra a Penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte,
onde lideranças da maior facção criminosa do país estão presos.
Esses diálogos são citados na denúncia do Grupo de
Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP),
contra policiais envolvidos em extorsões e delatados por Vinícius Gritzbach,
assassinato com tiros de fuzil em novembro de 2024, no Aeroporto Internacional
de São Paulo, em Guarulhos. O cantor não é um dos denunciados.
Netinho, como revelou o Metrópoles, já havia sido
flagrado enviando notas de pagamento de um empréstimo de R$ 2,5 milhões a
Ademir Andrade. Nessas conversas, o cantor chega a chamar o operador do PCC de
“Banco da gente”.
“Os diálogos mostram o alcance que a organização
criminosa possui, movimentando as mais variadas esferas do Estado em favor de
seus integrantes”, afirmam os promotores do Gaeco na denúncia.
Em denúncia contra Andrade e outros investigados por
extorsões da polícia e envolvimento com o PCC, promotores afirmam que o
operador da facção tentou articular, por meio de contatos políticos de Netinho,
uma ofensiva em relação ao presídio federal de Mossoró (RN), onde estavam
presos líderes do PCC como Décio “Português” e Gilberto Aparecido dos Reis, o
Fuminho, apontado como sócio de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Em uma longa troca de mensagens, Netinho incentiva
Andrade a encaminhar denúncias de advogados sobre maus tratos na penitenciária
e afirma que está articulando com políticos do Congresso Nacional e com o
Ministério dos Direitos Humanos. Os diálogos são da metade de 2023.
“Salve, meu mano. Bom dia. Tudo bem, mano? As coisas
estão meio organizadas lá em Brasília. Com uma quantidade de deputados que
precisa para fazer visita no local. É só que precisa advogados fazerem uma
visita. Para esses deputados fazerem uma visita, eles vão precisar de uma
denúncia. Por isso a pergunta: se a gente tem um advogado de quem está lá para
falar de maus tratos, entendeu? Por isso que a gente precisava…. é você
conseguir falar com nosso mano lá?”, disse Netinho.
Dias depois, Netinho voltou ao tema: “Não é os
deputados que precisam ir, vai o pessoal do Ministério dos Direitos Humanos, o
pessoal da UAB, ele trocou as coisas, entendeu [sic]? Para ter mais
institucionalidade”. O cantor chega a enviar ao agiota do PCC um documento de
pedido de uma entidade para fazer a visita ao presídio.
O que diz Netinho
A defesa de Netinho afirma que o cantor se
apresentou em shows no sítio de Ademir Andrade e alega que o artista
desconhecia o envolvimento do agiota com o crime organizado.
“O senhor Ademir é, sim, um fã do artista Netinho de
Paula e, de fato, já o contratou para apresentação em evento corporativo na
região de Igaratá”, diz nota da defesa enviada na semana passada, quando
Metrópoles revelou as transações financeiras entre eles. “Desconhecíamos,
totalmente, qualquer envolvimento ilícito de qualquer contratante”.
Os defensores Carlos Alberto Arão e Ana Carolina de
Oliveira Arão afirmaram, ainda, que aguardam acesso ao inquérito da PF para se
manifestar sobre o caso. O Metrópoles não conseguiu contato com os advogados
neste sábado (22/2) para falar sobre os diálogos citados na denúncia do MPSP. O
espaço segue aberto para manifestação.
Metrópoles
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