O furto e o roubo de cabos e fios no Rio Grande do
Norte apresentaram um aumento expressivo em 2024, segundo dados da Neoenergia
Cosern. Ao todo, foram 49 toneladas de cabos furtados da rede baixa, média e de
alta tensão, apresentando um aumento de 55% em relação ao ano de 2023, quando
cerca de 31,61 toneladas foram furtadas no Estado. Em cinco anos, foram pelo
menos 154 pessoas conduzidas a delegacias no RN por furto de fiações em postes
e edificações. Os dados apontam uma problemática que tem preocupado
interlocutores do setor de energia e telecomunicações, bem como da Polícia
Civil, que tem intensificado investigações para coibir a prática e prender
criminosos e receptadores. Nesta semana, uma ação entre Prefeitura do Natal,
Polícia Militar e Civil apreendeu 500kg de cabos furtados e cinco
estabelecimentos foram flagrados com material furtado da rede pública.
Segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança
Pública e Defesa Social (Sesed), os registros de roubos e furtos de fios no RN
apresentaram um crescimento exponencial no Estado nos últimos cinco anos. De 75
ocorrências de furtos de cabos elétricos registradas em 2020, o número saltou
para 828 em 2024, variação de 985%. Já com relação a fios elétricos,
crescimento de 553% no período. Vale salientar que há uma leve queda comparando
2024 com 2023, de 18,2% e 17,1%, respectivamente.
Nesta semana,
uma ocorrência chamou a atenção: um homem foi flagrado roubando fios no bairro
da Ribeira, na zona Leste de Natal, sendo preso por agentes do Comando de
Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE). O homem de 36 anos era foragido da
justiça e o mandado de prisão, datado de 2022, era justamente pelo cometimento
de furto de fios elétricos.
O delegado explica que a
Polícia Civil tem buscado intensificar as ações para identificar grupos
criminosos que têm feito do roubos de fios uma atividade econômica.
“O cobre atinge um preço alto
no mercado e é um crime que rende um valor ao criminoso. Trabalhamos no sentido
de desmantelar essas quadrilhas. Estamos com investigações em andamento para
identificar esses grupos que cometem furtos e que afetam diversos consumidores
no Estado”, apontou. “Na maioria dos casos são receptações qualificadas, porque
conseguimos ver que a pessoa não tem a origem daquele material e não consegue
justificar”, explica o delegado Marcos Vinícius Santos, diretor de polícia da
Grande Natal.
O delegado Marcos Vinícius
explica que participou das últimas quatro fases da “Operação Sucata” da Polícia
Civil e que foram apreendidos 3.000 kgs de fios de cobre, além de baterias e
outros materiais, como bronze. O delegado explica que as empresas de sucata
precisam se cadastrar junto à Polícia Civil, como fruto da regulamentação da
Lei Estadual 10.159/2017.
“É uma novidade que estamos
levando aos estabelecimentos para que venham se regularizar perante o Poder
Executivo. Essas empresas precisam requerer o cadastramento dela e ela vai fornecer
mensalmente as negociações feitas de compra, venda e troca do material de
reciclagem”, acrescenta Marcus Vinícius.
O superintendente técnico da
Neoenergia Cosern, Osvaldo Tavares, explica que as ações criminosas envolvendo
cabos e fios no Estado acontecem pelo fato de uma pequena parte da rede ser de
cobre, o que acaba gerando valorização no mercado ilegal para este produto.
“A principal motivação da
utilização do cobre na rede elétrica é que o cobre, para regiões de alta
salinidade, é mais adequado do que o alumínio. Nossa rede é predominantemente
de alumínio, que é um elemento condutor e funciona muito bem, mas nessas
regiões de alta salinidade ele se degenera mais fácil, sendo o cobre mais
resistente. O valor comercial do cobre é alto e tem aumentado. Com isso acaba
sendo objeto desses criminosos que querem vender para certas finalidades”,
comenta.
Segundo apurações da Polícia
Civil, em determinadas sucatas irregulares, o quilo do cobre varia entre R$ 40
a 70. Nesta semana, a Prefeitura do Natal, Polícia Civil, Polícia Militar e
Guarda Municipal deflagraram a Operação Sucata, com cinco estabelecimentos
sendo autuados por receptação de cabos e fios de cobre. As ações aconteceram no
Alecrim e na zona Norte.
“Deflagramos essa operação após
uma reunião com a secretaria de segurança do Estado. Vamos fazer novas
operações para coibir severamente esse tipo de crime, porque atinge toda a
sociedade natalense”, comenta Carlos Falcão, chefe de fiscalização da
Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur). “Foram oito alvos, com cinco
deles estando com fios de cobre e como não comprovaram a origem, foram presos e
autuados em flagrante”, acrescenta.
Prejuízos
Os prejuízos para o setor de energia e telecomunicações são dos mais diversos
tipos, segundo interlocutores do setor. O primeiro deles é o financeiro para as
empresas, que precisam deslocar equipes para repor as redes danificadas. E o
outro é para a população, que acaba ficando sem acesso a serviços essenciais,
como energia, água e internet.
“Quando um vândalo furta o fio
da Cosern, não é apenas a empresa que é vítima, mas toda a sociedade.
Interrompemos serviços que afetam uma casa, um município inteiro, por exemplo,
e dependendo da ocorrência podemos demorar 1h ou um dia e até mais para poder
repor. É uma solução complexa que pode afetar muita gente, como casas,
hospitais, comércios, etc”, explica Osvaldo Tavares, superintendente técnico da
Cosern.
Recentemente, a Prefeitura do
Natal divulgou que mais de 8.000 metros de fiação foram furtados em todas as
regiões da cidade. Já foram furtados equipamentos da Ponte Newton Navarro,
avenida Getúlio Vargas, Calçadão de Ponta Negra, Via Costeira, estacionamento do
Ginásio Nélio Dias, Viaduto de Igapó, avenida Presidente Bandeira, Rua Potengi,
rua Duque de Caxias, avenida 25 de Dezembro, avenida Capitão-Mor Gouveia, Tomaz
Landim, avenida Três Irmãos, além de diversas praças e quadras por toda Natal.
Um dos casos mais emblemáticos nos últimos anos aconteceu em janeiro de 2020,
quando 20 municípios do Rio Grande do Norte foram afetados por um apagão de
energia após dois homens tentarem furtar peças de equipamentos de torres de
energia no município de Ipanguaçu e causaram a derrubada da estrutura. Os dois
suspeitos que estariam cometendo o crime morreram.
Na época, o posto Regional
Natal Sul da Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern) também registrou um
incêndio que atingiu duas salas logo após a oscilação na energia. A
instabilidade no fornecimento de energia elétrica registrado na madrugada
afetou diversos poços e estações elevatórias de água na capital, diminuindo
temporariamente a oferta de água em 23 bairros.
Setor produtivo discute políticas para coibir roubos
O roubo de fios e cabos
elétricos no Estado foi tema de uma discussão nesta sexta-feira (07) na sede da
Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern), numa
iniciativa do Sindicato das Indústrias de Reciclagem e Descartáveis do RN (Sindrecicla-RN).
O setor apontava que as sucatas que recepcionam materiais irregulares são
“minoria” e quer um trabalho integrado para coibir ações.
“O que queremos é um
alinhamento porque essa é uma atividade com a qual não pactuamos. A indústria
da reciclagem formal é aquela que paga impostos, gera empregos e diminui o
impacto ambiental dentro do nosso Estado. O que queremos é que consigamos ter
um plano para diminuir e se possível dizimar essas ações criminosas nas redes
elétrica e de comunicações, fazendo com que o próprio reciclador e a indústria
possam trabalhar de forma tranquila”, explica o presidente da entidade,
Etelvino Patrício de Medeiros.
Segundo o Sindrecicla, uma
política pública importante no Estado foi a regulamentação da Lei 10.159/2017
no ano passado, que cria um cadastro de compra, venda ou troca de cabo de
cobre, alumínio, baterias e transformadores para reciclagem no Estado. A lei é
de autoria do deputado Gustavo Carvalho.
“Tivemos uma lei de 2017 e o
decreto de 2024 em que todos os recicladores precisam se cadastrar e que essas
informações estejam junto com a Polícia. Vamos divulgar para quem não fez esse
cadastro que possa fazer, que apresente e acompanhe toda a compra e venda
desses materiais que estamos discutindo”, explica, acrescentando que parte das
empresas filiadas já se regularizou junto à Polícia Civil. “O Sindicato da
Reciclagem tem um ambiente formal com 33 indústrias formalizadas que
consequentemente terminam por serem penalizadas por todo um ilícito que vem
ocorrendo no Estado”, explica o presidente da Fiern, Roberto Serquiz.
NÚMEROS
Veja os dados sobre ocorrências de furtos
Pessoas conduzidas à Delegacia por furto de fiação em postes e
edificações
2020 3
2021 13
2022 29
2023 66
2024 43
Total 154
Registros de furtos de fios e cabos elétricos no RN
2020 192
2021 1.578
2022 2.138
2023 1.916
2024 1.577
Total 7.401
Registros de roubos de fios e cabos elétricos no RN
2020 10
2021 24
2022 39
2023 46
2024 32
Total 151
Fonte: Coine/Sesed
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