Ameaçada
por alunos após cumprir a lei federal que proíbe o uso de celulares em
colégios de todo o Brasil, a diretora de uma escola estadual em São
José de Mipibu, na Região Metropolitana de Natal,
renunciou ao cargo nesta segunda-feira (24).
A lei que proíbe o uso de celulares até em
intervalos, sancionada em janeiro de 2025 pelo presidente Lula, passou
a valer em escolas de todo o Brasil no início deste ano letivo.
Maria dos Prazeres da Silva era diretora da Escola Estadual Professor Francisco Barbosa desde janeiro de 2023 e seguiria no cargo até janeiro de 2026.
O pedido para sair da função foi motivada pelas
ameaças que recebeu pessoalmente e pela internet, tanto de alunos como de
parentes deles. O pedido foi feito pela própria diretora e prontamente aceito
pelo Conselho Escolar.
Na solicitação, a diretora informou que o pedido de
renúncia se faz "urgente e necessário em virtude das ameaças e violência
verbal que venho sofrendo nesse início de ano escolar de 2025 por meio das
redes sociais, por estar em cumprimento da lei federal nº 15.100/2025".
A educadora registrou um boletim de ocorrência na
delegacia do Município, após ameaças contra ela e a família, e o caso
passou a ser investigado pela Polícia Civil. O boletim foi registrado de forma
indireta, sem citar os autores das ameaças.
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação, do
Esporte e do Lazer do Rio Grande do Norte informou que acompanha a situação por
meio da 2ª Diretoria Regional de Educação e "prestará o devido
suporte à gestora e à equipe escolar".
A pasta disse ainda que "repudia qualquer forma
de intimidação contra profissionais da educação" e reforça "que
a regulamentação do uso de celulares nas escolas segue a legislação nacional e
estadual vigente".
O caso foi registrado como crime de ameaça,
previsto no artigo 147 do Código Penal Brasileiro e que prevê detenção de um a
seis meses ou multa. O texto diz que é crime:
🚨 Art. 147: "Ameaçar
alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de
causar-lhe mal injusto e grave".
A diretora Maria dos Prazeres da Silva diz alunos
resistirem a proibições é algo que é previsto pelos educadores, mas as ameaças
surpreenderam.
"A resistência deles vai existir sempre, porque
a gente tem regras. Para uso de fardamento, para uso da garrafa, para entrada e
saída da escola. Tudo eles têm resistência. O que for pra eles não poderem
fazer eles vão ter resistência. O celular não vai ser diferente, e a gente
entende", disse.
"Então a gente já estava preparado para
enfrentar essa resistência. O que não estou preparada é para as ameaças que
sofri", disse a diretora.
'Não vou deixar de realizar o meu
trabalho'
A Escola Estadual Professor Francisco Barbosa, na
qual Maria dos Prazeres da Silva era diretora, tem mais de 1 mil alunos
matriculados divididos em três turnos. A maioria dos estudantes são
adolescentes.
Antes do início do ano letivo, pais e alunos foram
avisados da proibição do uso de celulares na escola, seguindo a lei que passou
a valer em todo o Brasil.
A medida adotada pela direção foi a recomendação
para os alunos sequer levassem o aparelho para a escola, já que não poderiam
usá-lo.
O caso da diretora ficou conhecido após ela
desabafar sobre as ameaças que sofreu em um vídeo que rodou nas redes sociais.
"Não vou deixar de realizar o meu trabalho, não
vou deixar de cumprir o que é necessário. Pais e responsáveis, eduquem seus
filhos pra eles saberem que a violência não é o caminho. Desobedecer as regras
não é o caminho", disse a diretora no vídeo.
Antes mesmo da lei federal, no Rio
Grande do Norte já existia uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa, e
promulgada em janeiro de 2024, que proibia o uso de celulares nas salas de
aulas, mas que não chegou a ser regulamentada.
"Eu não fiz nada que não estivesse dentro da
lei. Agora eles fizeram, como insistir em usar o celular mesmo sabendo que
estava proibido. As ameaças, quando envolvem família, quando envolvem a
vida...", disse.
"Eu não posso, como eles disseram, ser uma
heroína morta, e também não quero ser uma heroína viva. Eu quero ser uma mãe
viva, uma mulher viva, uma irmã viva, e e quero ser uma professora viva, mas
também respeitada".
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