O Rio Grande do Norte e 74 municípios não receberão
recursos federais adicionais do indicador Valor Aluno Ano Resultado (VAAR) em
2025, conforme levantamento divulgado pela Federação dos Municípios do RN
(Femurn). A exclusão, que também atinge as maiores cidades do estado, como
Natal, Mossoró e Parnamirim, decorre do não cumprimento de condicionalidades
vinculadas ao desempenho educacional. O VAAR é uma das três modalidades de
complementação ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb), instituído pela Emenda Constitucional nº 108/2020.
O Fundeb é composto por recursos de estados,
municípios e da União. O fundo também é formado por diversas complementações da
União para tentar equilibrar os investimentos entre os entes federados.
Enquanto o Valor Anual Aluno Total (VAAT) garante um investimento mínimo de R$
8.006 por aluno em 2025, considerando todas as receitas vinculadas à educação,
o VAAR premia redes de ensino que atingem metas de melhoria no aprendizado e
equidade educacional. Há também o VAAF, direcionado aos entes que não alcançam
o valor mínimo.
No Rio Grande do Norte, 122 municípios receberão
complementação via VAAT, mas apenas os que cumprem as cinco condicionalidades
têm direito ao VAAR. A exclusão reforça a urgência de ações coordenadas para
fortalecer a gestão da educação potiguar, diz a ex-secretária de educação do
Estado, Cláudia Santa Rosa. “A gente tem 74 municípios verificando essa tabela
da Femurn e o Estado, é bom não esquecer, que o ente Estado também está
perdendo milhões, deixando de receber”, destaca a especialista.
Santa Rosa acrescenta que ao deixar de receber
recursos por não cumprir requisitos, cidades e Estado deixam de investir na
melhoria da infraestrutura das unidades e na formação de professores. “Quando a
gente lamenta a todo instante que é preciso ter recursos para garantir a
formação dos professores, equipamentos, prédios com as condições necessárias,
climatização é por isso, porque poderíamos estar recebendo mais recursos para
investimento nessa área”, pontua.
As condicionalidades para acessar os recursos do
Valor Aluno Ano Resultado (VAAR) são critérios estabelecidos pela legislação do
novo Fundeb para incentivar a melhoria da qualidade educacional e a redução de
desigualdades. Entre os cinco pré-requisitos, destaca-se a exigência de
provimento de gestores escolares por critérios técnicos de mérito e desempenho
ou por meio de processos participativos envolvendo a comunidade escolar, desde
que os candidatos sejam aprovados previamente em avaliação de competências.
Outra condicionalidade importante é a participação
de pelo menos 80% dos estudantes nas avaliações nacionais, como o Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB). Além disso, os estados e municípios
precisam comprovar esforços para a redução de desigualdades educacionais,
socioeconômicas e raciais, com base nos resultados das avaliações nacionais.
Outros critérios incluem a formalização de um regime de colaboração entre
estados e municípios, que deve estar regulamentado em legislação estadual, e a
adequação dos referenciais curriculares à Base Nacional Comum Curricular
(BNCC).
Portanto, as condicionalidades exigidas pelo VAAR
vão além do cumprimento básico de metas educacionais. Para Cláudia Santa Rosa,
o cumprimento dessas condicionalidades deve ser prioridade nos próximos anos,
começando por 2026. “É urgente investir em políticas que garantam a
participação dos alunos nas avaliações, capacitem gestores escolares e promovam
equidade educacional. Somente assim o estado poderá acessar os recursos
adicionais e transformar a realidade da educação básica no RN”, comenta.
Além do Governo do Estado, o levantamento da
Federação dos Municípios do RN (Femurn) destaca que importantes cidades
potiguares, como Natal, Mossoró, Parnamirim, Areia Branca, Bom Jesus, Caiçara
do Rio dos Ventos, Carnaúba dos Dantas, Goianinha, Grossos, Florânia, Lajes,
Macau, Macaíba, Nísia Floresta, Parelhas, Pau dos Ferros, Santa Cruz, São
Miguel do Gostoso, não receberão recursos do VAAR em 2025.
Receitas previstas do Fundeb
Para este ano, a projeção, segundo a Femurn, é de
que o Estado tenha acesso a R$ 1,55 bilhão, sem direito às complementações.
Natal contará com uma receita total de R$ 401,6 milhões, mas sem o adicional do
VAAR. Mossoró, segunda maior cidade do RN, registrará R$ 146,7 milhões em
receitas previstas, também sem acesso ao indicador. Parnamirim, com R$ 160,1
milhões em recursos totais, e Mossoró, com R$ 146,7 milhões, estão igualmente
fora dos repasses do VAAR.
Por outro lado, São Gonçalo do Amarante, com R$ 7,2
milhões em complementação via VAAR, se destaca como o município que mais receberá
valores. Cidades como Assú, Canguaretama, Touros, Ceará-Mirim, João Câmara, São
José de Mipibu, Nova Cruz, Monte Alegre e Baraúna têm projeções que ultrapassam
R$ 2 milhões para cada. Repasses que refletem o cumprimento das exigências,
como participação em avaliações nacionais e redução de desigualdades,
representando um importante reforço financeiro para as redes educacionais
dessas localidades.
O município de Natal foi inabilitado para receber a
complementação VAAR em 2025 devido ao não cumprimento de duas das cinco
condicionalidades exigidas pelo programa. A Secretaria Municipal de Educação
(SME) informou que não alcançou a Condicionalidade II, referente à participação
mínima de 80% no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e a Condicionalidade
III, que exige a redução das desigualdades de desempenho escolar entre grupos
raciais e níveis socioeconômicos, conforme dados do Inep.
A ausência de informações étnico-raciais e
socioeconômicas dos estudantes da rede municipal foi apontada como um dos
fatores determinantes para o não cumprimento da Condicionalidade III. Segundo a
SME, não há dados estatísticos organizados devido à não declaração dessas
informações no momento da matrícula. Para enfrentar esse desafio, a secretaria
anunciou que passará a exigir a inclusão dessas informações nos cadastros
escolares e fará a atualização dos dados de estudantes já matriculados. Além
disso, estão previstas ações pedagógicas, como oficinas e minicursos voltados à
educação antirracista.
No caso da Condicionalidade II, a SME pretende
intensificar campanhas de conscientização para garantir maior adesão ao Saeb.
As ações incluem sensibilizar gestores e a comunidade escolar sobre a
importância da avaliação, além de atualizar os registros no sistema em casos de
transferência de estudantes. A pasta também planeja uma busca ativa para
reintegrar alunos que estão fora da sala de aula, visando aumentar a
participação na próxima edição do exame.
Tribuna do Norte
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