O governo de Lula da Silva deu uma inacreditável
demonstração de covardia ao revogar uma normativa da Receita Federal sobre o
Pix, voltando atrás de uma decisão correta apenas porque foi criticada e
distorcida nas redes sociais. Se acreditava que a medida em questão era boa,
como de fato era, o governo deveria tê-la bancado. Ao ceder facilmente à
pressão das redes, o presidente da República mostrou-se incapaz de defender até
mesmo suas decisões mais comezinhas, como era o caso desta. Isto é, Lula deu
claros sinais de que já não governa – ao contrário, é governado.
E note-se: o veteraníssimo Lula não está sendo
governado apenas pelas raposas felpudas do Centrão, mas também por um rapaz de
28 anos, mal entrado na política. O rapaz em questão é o deputado oposicionista
Nikolas Ferreira (PL-MG), que gravou um vídeo singelo no qual levantou dúvidas
sobre as verdadeiras intenções do governo ao obrigar bancos digitais e
operadoras de cartão de crédito a informar ao Fisco movimentações mensais por
Pix superiores a R$ 5 mil por pessoas físicas e a R$ 15 mil por pessoas
jurídicas – como, aliás, já fazem bancos públicos e privados e cooperativas de
crédito – com o propósito de fechar brechas para a sonegação fiscal e a lavagem
de dinheiro.
É ocioso discutir se a intenção do referido deputado
era suscitar questões legítimas ou explorar politicamente o receio dos pequenos
empreendedores de terem sua modesta renda mordida pelo Fisco. O fato é que o
vídeo teve mais de 200 milhões de visualizações e o espírito de sua mensagem
chegou com força ao mundo real. É muito provável que o parlamentar tenha
gastado em seu vídeo apenas uma ínfima fração do dinheiro que o governo
despendeu para contra-atacar a boataria, e, no entanto, foi infinitas vezes
mais bem-sucedido. E isso aconteceu porque ninguém mais acredita no governo.
Já faz algum tempo que Lula parece ter se dado conta
disso, a ponto de recentemente entregar sua Secretaria de Comunicação a um
profissional de marketing eleitoral, mas talvez fosse o caso de contratar um
ilusionista. Diante do desafio colossal de recuperar a confiança dos
brasileiros em Lula, o ministro-marqueteiro já avisou que tocará adiante uma
licitação de quase R$ 200 milhões para turbinar as redes sociais governistas.
Debalde: será jogar dinheiro no lixo, porque, a julgar pelo episódio da
normativa da Receita, os brasileiros já se convenceram de que o único propósito
do governo Lula é arrancar o suado dinheiro dos contribuintes para aumentar a
capacidade do Estado de lhes atrapalhar a vida. Fazer gracinhas nas redes
sociais, a título de confrontar o que o governo chama de fake news,
não vai resolver o problema de fundo do governo.
Se quisesse mesmo contestar o discurso da oposição,
bastaria ao governo encaminhar medidas que sinalizassem uma genuína vontade de
conter os gastos públicos, de modo a demonstrar aos cidadãos ressabiados que há
compromisso de reduzir a pesadíssima carga tributária. O ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, até tentaram fazer
isso, mas foram atropelados pelos imperativos eleitoreiros do lulopetismo.
O governo, no entanto, prefere continuar a passar
vergonha. Não só revogou a normativa da Receita de maneira atabalhoada, como
editou uma medida provisória para garantir que o Pix não será taxado, algo que
já está estabelecido na legislação sobre esse meio de pagamento. Ou seja, Lula
assinou uma medida provisória – instrumento constitucional que tem força de lei
enquanto vigora e, por isso, deve respeitar pressupostos de urgência e
relevância – apenas para dar satisfação ao burburinho das redes sociais.
Assim, parece claro que Lula, outrora demiurgo, está
a reboque dos acontecimentos e se limita a reagir a eles de maneira confusa e
desorganizada. E isso tudo acontece porque, como está cada vez mais claro, Lula
não tem projeto para o País. Venceu a eleição com o discurso de que era
necessário impedir a vitória de Jair Bolsonaro e o avanço das forças
antidemocráticas, mas, uma vez no poder, viu-se refém de uma conjuntura muito
mais espinhosa do que a de seus mandatos anteriores e hoje parece perdido – e
incapaz de impor a sua versão dos fatos.
Editorial – Estadão
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