Fenômeno social que acontece há décadas em Natal,
famílias de várias cidades e até de outros estados têm feito ocupações em
barracos e tendas improvisadas na Avenida das Alagoas, em Neópolis, zona Sul de
Natal, em busca de doações para o fim do ano. Segundo relatos, as ocupações já
acontecem há pelo menos dois meses e têm se intensificado nas últimas semanas
com as proximidades do Natal e Ano Novo.
Segundo os relatos, há famílias de diversas cidades
do Rio Grande do Norte, como Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante,
Macaíba, Arês, Ceará-Mirim, São José de Mipibu, Extremoz, entre outras. Há
casos, inclusive, de famílias vindas de outros estados, como a Paraíba.
Em comum, os relatos são semelhantes e praticamente
idênticos: famílias em situação de vulnerabilidade social, com dificuldades
para encontrar emprego e em alguns casos, sem escolaridade. Parte dos moradores
da ocupação recebem benefícios sociais, como Bolsa-Família.
A TRIBUNA DO NORTE esteve no local nesta quarta-feira
(18) e pôde observar pelo menos 40 barracos e tendas ao longo de toda a Avenida
das Alagoas, que historicamente costuma abrigar famílias em situação de
vulnerabilidade social nesta época do ano. São mais de 100 pessoas, entre mães,
pais, crianças e idosos, passando o dia em busca de doações e dormindo nos
espaços.
É o caso de Clara Maíza, de 20 anos, que veio com o
marido de Mamanguape, na Paraíba, distante 130km de Natal, em busca de doações.
Ela cita que ambos estão desempregados e passam por dificuldades na cidade
natal, tendo vindo à capital potiguar em busca de doações.
“Vim aqui para ver se ganho alguma coisa, a vida
está difícil por lá. O Bolsa Família faz tempo que estou atrás, mas não recebo
nada. Está sem emprego lá [na Paraíba]. O pessoal passa e faz doações, ganhamos
alimentos, roupas. Mas é muito difícil, porque o que ganhamos dividimos. É
muita gente aqui. Estou desempregada e estou aqui e espero que seja por pouco
tempo. Vim para Natal porque é bom de ganhar as coisas e quando cheguei aqui o
pessoal dizia que era um local bom”, cita.
Há casos de famílias de Natal que vem em busca de
doações para o fim do ano. É a situação de Nina Nascimento, de 33 anos,
moradora de Felipe Camarão, que está na ocupação com seu marido. Ela tem três
filhos pequenos.
“Venho aqui desde os meus 4 anos. Ganhamos
Bolsa-Família, temos filhos, mas hoje em dia para comprar algo para nossos
filhos tem que ter dinheiro. Se a criança for com roupa rasgada para escola vai
sofrer bullyng. Aqui a gente arrecada comida e roupas para nossos filhos.
Estamos acampando aqui, mas queremos deixar tudo limpo do jeito que pegamos.
Apuramos comida, algum trocado para juntar e comprar material escolar. Estou
desempregada há muito tempo e sou analfabeta”, lamenta.
Mesma situação é a de Francisca Rodrigues, 72 anos,
também moradora de Felipe Camarão, que está no local com filhos e netos. “Todo
ano venho para cá, desde muito tempo. O pessoal tem ajudado, graças a Deus as
pessoas são boas. Saí de casa e não tinha nada para me alimentar, quando
cheguei aqui já recebi duas cestas com comida. Meus filhos estão desempregados,
por isso nessa época do ano viemos para cá”, cita.
Em nota enviada à TRIBUNA DO NORTE, a Secretaria
Municipal de Trabalho e Assistência Social de Natal (Semtas) disse que as
famílias são monitoradas pelo Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas),
que realiza acolhida, orientações e encaminhamentos para os serviços executados
pela Semtas e pelo Sistema de Garantia de Direitos.
“A Semtas não trabalha com a retirada das pessoas
das ruas, mas, desenvolve um trabalho socioeducativo com estas famílias,
destacando que as mesmas possuem lugar de moradia fixa e estão inseridas nos
serviços executados pela secretaria. O Seas tem como objetivo assegurar o
trabalho social de abordagem e busca ativa, para identificar a ocorrência de
trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, pessoas em
situação de rua, e outras situações de risco e violações de direitos. O
público-alvo do Seas são crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos e
famílias que utilizam espaços públicos como forma de moradia e/ou
sobrevivência, o qual encaminha essas pessoas para os serviços ofertados no
município”, aponta nota da Semtas.
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