Fincado no município de Tibau do Sul, onde está
localizada a paradisíaca praia da Pipa, o Laguna é conhecido por ser o
primeiro time do Brasil e das Américas a adotar o veganismo na sua rotina.
Nenhum produto ou alimento de origem animal é utilizado ou consumido nas
instalações do clube. Com apenas dois anos de existência, a primeira Sociedade
Anônima de Futebol (SAF) a ser constituída no Rio Grande do Norte tenta neste
domingo o tão sonhado acesso à elite do Campeonato Potiguar.
Para atingir o objetivo, o Laguna tem que vencer o
Univap fora de casa, na cidade de Apodi, e torcer para uma vitória do Alecrim
sobre o líder QFC, em Natal. Se isso ocorrer, haverá um empate triplo com 19
pontos, mas Laguna e Alecrim teriam uma vitória a mais que o QFC. O Laguna
seria o campeão da segunda divisão por superar o Alecrim no confronto direto,
segundo critério de desempate (veja
mais).
Um dos fundadores do Laguna e hoje CEO, o ex-jogador
Gustavo Nabinger, gaúcho, se apaixonou pelo Rio Grande do Norte após uma breve
passagem pelo Corintians de Caicó, em 2007. Ele lembra que a ideia sempre foi a
de criar um clube de futebol diferente daquilo que existia no mercado. Em 2021,
quando começou a desenvolver o plano de negócios, a lei da SAF nem havia sido
promulgada.
— Queríamos um clube que fosse muito maior do que
ser campeão, do que vencer, que tratasse o futebol como diversão, que
valorizasse a essência do futebol brasileiro, aquilo que nos tornou conhecidos
e respeitados e campeões, admirados no mundo todo; a nossa maneira de jogar com
técnica, com drible, com improviso, com diversas inovações táticas, diferente
daquilo que, no nosso entendimento, os times tradicionais de forma geral vinham
apresentando nas principais divisões do país e que, além disso, gerasse um
impacto socioambiental positivo na comunidade — detalhou.
—Por isso que a gente criou o Laguna, com o slogan
de 'Alegria de jogar futebol' — resumiu Gustavo.
Nabinger conta que o veganismo se tornou parte
fundamental da engrenagem por ser um valor dos sócios — dois são veganos e um é
vegetariano — e virou um case reconhecido pelo site
da Fifa e pelo jornal
francês L'Équipe.
— Para a gente não fazia sentido ter uma empresa que
serve seis refeições por dia para mais de 40 pessoas que não fosse vegana. A
gente adotou o veganismo por conta disso, como valor da empresa, e acabou sendo
algo que chamou atenção por ser uma novidade, por ser algo diferente — disse.
— A gente vê isso como algo positivo também porque é
uma forma de levar informação pras pessoas, quebrar diversos preconceitos que
tem. 'Ah, o atleta vegano não tem proteína, não vai ter força, não vai ter
desempenho' e, pelo contrário, os atletas melhoram a performance — completou.
O time algodão-doce, como também se
autodenomina por utilizar camisa e calção da cor rosa, conta com dois medalhões
bem conhecidos no futebol brasileiro: o volante França, ex-Palmeiras,
Figueirense e Criciúma, hoje com 33 anos; e o centroavante Bill,
ex-Botafogo, Corinthians e Coritiba, com 40 anos. Eles são provas de que a
dieta adotada pelo clube surte efeito na recuperação física no dia a dia.
— Quando eu cheguei aqui, nas duas primeiras
semanas, eu senti um pouco de dificuldade porque estava vindo de outra
alimentação, talvez uma alimentação que nenhum atleta faz, questão de carne, questão
de gordura. Cheguei aqui com um pouquinho de dor, aquelas dores tardias
pós-treino, e depois que passou um mês, o efeito da alimentação me ajudou
demais. Hoje eu não sinto nenhuma dor, a minha recuperação tem sido muito
rápida de um treino pro outro, de um jogo pro outro. Os meninos até brincam
comigo, perguntam o que eu tomo para treinar, porque eu estou sempre bem ativo.
— Eu não tomo nada. Simplesmente é a alimentação. É
uma novidade pra mim, e espero continuar. Já conversei com a minha esposa e ela
está disposta a me ajudar, para que a minha carreira possa se prolongar mais
alguns anos — conta França.
O veterano Bill é o artilheiro do Laguna na
Segundona potiguar, com quatro gols em oito jogos, ao lado de João Varolo. Ele
tem passagens por grandes clubes do Brasil e atuou na China, Arábia Saudita,
Coreia do Sul e Tailândia. Pela primeira vez, o atacante vive a experiência do
veganismo na carreira profissional.
— A minha adaptação foi muito boa. Eu pensei que ia
ser mais difícil por não ser vegano, mas estou me tornando vegano agora. A
comida é muito boa. As cozinheiras do clube estão de parabéns — diz o jogador.
— A alimentação não trouxe nenhuma dificuldade para
nós e agradeço ao Laguna por estar passando por essa experiência — destaca
Bill.
Na vanguarda
Gustavo Nabinger reforça que, além da relação de
carinho criada pelo Rio Grande do Norte, o grupo entendeu que "era um
lugar com um potencial de crescimento tanto de futebol quanto econômico do
estado muito grande". Exemplo para outros clubes, o Laguna quer participar
diretamente desse momento de desenvolvimento.
Nós fomos a primeira SAF do Rio Grande do Norte, um
dos três primeiros clubes do Brasil a nascerem como SAF e uma das 10 primeiras
SAF’s do Brasil. Pegamos essa novidade bem no início e a gente fica muito feliz
de ver novas SAF’s sendo criadas no Rio Grande do Norte e em outros estados, e
clubes tradicionais também se tornando SAF".
— Gustavo Nabinger, CEO do Clube Laguna SAF
— Obviamente que SAF não é uma garantia de boa
gestão, não é um milagre, e muito menos uma garantia de que o clube vai ser um
clube rico, mas é uma sinalização por um caminho de mais profissionalização, de
menos politicagem. E eu acredito que isso vá fazer com que o futebol cresça
bastante. Porque as pessoas que que são donos de clube, que têm uma
responsabilidade muito grande, têm um investimento muito grande, vão passar a
ser os decisores em relação a calendário, em relação a competição, a negociação
de direitos de transmissão e tudo mais. É um processo muito parecido com
aquele que a Inglaterra viveu em 1992, quando foi criada a Premier League e
quando os clubes que eram clubes associativos passaram a ser controlados por
donos. A partir daquela data, o resto é história — completou.
O acesso vem?
O Laguna bateu na trave na briga pelo acesso em 2022
e também não obteve sucesso em 2023.
— Em 2022, nós fomos vice-campeões pelo saldo de
gols. Empatamos em número de pontos com o Alecrim, perdemos no saldo. Foi
bastante doloroso. Era o nosso primeiro ano. A gente tinha menos de dois meses
de operação quando começou o campeonato e serviu de aprendizado. No ano passado
a gente montou um time muito técnico, mas que não deu liga, infelizmente. Acho
que não era o melhor perfil para jogar essa competição. Ainda assim, com a
desclassificação do Mossoró, a gente acabou na segunda colocação mais uma vez —
comentou.
Para 2024, a SAF optou por mesclar a experiência de
França e Bill com a juventude. Em uma das partidas da competição, o Laguna
conseguiu relacionar 12 jogadores das categorias de base do clube, o que é
motivo de orgulho. A campanha acabou prejudicada devido a uma derrota por WO
para o líder QFC. Mandante do jogo, o Laguna
foi punido por conta da ausência de ambulância no estádio. O caso já foi
julgado pelo Tribunal de Justiça Desportiva, que manteve a decisão de vitória
por 3 a 0 do QFC. O Laguna vai até a última instância na Justiça, caso não
consiga o acesso neste domingo, com a combinação de resultados.
G1RN
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