A baixaria de ‘lady’ Janja contra Musk, o discurso
de ódio ‘do bem’ e a ‘tolerância’ da esquerda
Xingamento em público do empresário americano, que
fará parte do governo Trump, mostra toda a ‘delicadeza’ e a ‘educação’ da
primeira-dama do País, além de ter criado um incidente diplomático descabido e
ter ocorrido num evento que discutia justamente a ‘desinformação’ nas redes
sociais
Ao mandar o empresário americano Elon Musk “se fu.”
em público, num evento internacional que o Brasil hospeda, a sra. Janja da
Silva, mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mostrou ao mundo, mais
que tudo, que é uma “lady”, com a “delicadeza” e a “educação” que só se
julgavam possíveis de encontrar na “esgotosfera” da política nacional.
Para quem não a conhecia lá fora, a baixaria da sra.
Janja deixou claro que ela é uma primeira-dama “como nunca se viu na história
desse País”, como diria Lula, e quiçá do planeta, uma primeira-dama que ninguém
ou quase ninguém imaginaria existir, nem aqui nem alhures.
É certo que a sra. Janja da Silva, que já estava sob
os holofotes nos últimos dias com o seu “Janjapalooza”, o festival de música
que ela produziu com patrocínios milionários de estatais graças ao apoio do
maridão, pode pensar o que quiser sobre Elon Musk ou quem quer que seja. Mesmo
que a censura que ela defende para as redes sociais, como o X, de Musk, seja
realmente instituída numa canetada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), como
parece que será o caso, seu pensamento ainda estará livre para voar. Ao menos
por enquanto, pelo que se sabe, a Polícia do Pensamento de que falava o
escritor George Orwell em 1984, sua obra imortal, ainda não está no radar do
ministro Alexandre de Moraes e de seus colegas da Corte.
“Companheiros” e “companheiras”
Obviamente, entre quatro paredes, a sra. Janja
também pode compartilhar suas opiniões, se quiser, com Lula e seus
“companheiros” e “companheiras”, da forma como achar mais conveniente, sem
grandes contraindicações, se não houver ninguém gravando suas falas com o
celular. Agora, proferir palavrões e xingamentos em público, da forma como ela
o fez, independentemente de a quem eles se dirigiam, e num evento do porte do
que o Brasil está abrigando, é algo totalmente inaceitável, ainda mais quando
vindos de uma figura com a sua visibilidade e na sua posição.
Que a sra. Janja – que deveria ser um exemplo para
os brasileiros de bem, especialmente para os mais jovens, que buscam um modelo
no qual se espelhar – tenha se sentido livre para dizer o que disse, revela
muito sobre o nível de barbárie a que chegamos no Brasil de hoje. Como a
manifestação de grosseria explícita da primeira-dama ilustra com perfeição,
estamos longe, muito longe, de ser o tal “povo cordial” do qual o ministro Luís
Roberto Barroso afirma sentir saudades – e o problema, como se pode observar,
começa lá de cima, nos círculos mais altos da República, bem distante das redes
sociais que eles querem “regular”, para conter a disseminação do que chamam de
“discurso de ódio” e “desinformação”.
O pior de tudo, porém, é que os impropérios da sra.
Janja, proferidos de forma gratuita contra Musk, ainda tiveram o agravante de
ter sido dirigidos a um dos principais integrantes e assessores do novo governo
de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, o país mais poderoso do
mundo, criando um incidente diplomático totalmente descabido, cujos
desdobramentos só o tempo vai revelar quais serão.
E, como se isso não bastasse, a manifestação da sra.
Janja da Silva ocorreu durante um debate no qual ela estava à mesa, ao lado do
influenciador Felipe Neto, hoje uma das principais vozes de apoio ao governo
Lula nas redes sociais, em que se discutia justamente o “discurso de ódio” no
mundo digital. O xingamento de Elon Musk nesse contexto pela sra. Janja – defensora
intransigente da “regulação” das redes, assim como Felipe Neto– só reforça a
percepção de boa parte da sociedade de que a “tolerância” pregada pela esquerda
no País não passa, na verdade, de uma forma de restringir o direito à livre
expressão de seus adversários políticos à direita.
Para o “governo do amor”, o discurso de ódio “do
bem”, como o da sra. Janja, está liberado. Pode se manifestar até num evento
internacional como o G-20 Social, que antecede a reunião do G-20, o grupo que
reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União
Africana, a ser realizada no Rio de Janeiro a partir desta segunda-feira, 18,
com a presença dos principais líderes políticos globais. Para essa turma, o que
deve ser coibido nas redes ou fora delas é só o “discurso de ódio” dos outros –
dos “fascistas”, dos “nazistas”, como eles dizem, e de todos os que, no fim das
contas, pensam diferente deles.
José Fucs - Estadão
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