Sentir dores na coluna e no pescoço após ficar muito
tempo no celular é algo comum, mas agora há um termo específico para isso:
síndrome do pescoço de texto, também conhecida como síndrome da digitação ou
text neck, em inglês.
O quadro começou a ser considerado uma doença após a
pandemia de covid-19, quando os casos aumentaram. Com a necessidade de
isolamento social, o uso de smartphones e tablets, que já era comum, ficou
ainda mais intenso e evidenciou o impacto das horas em posições críticas para
ossos e músculos.
Segundo Maria Fernanda Silber Caffaro, professora da
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e diretora da
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), o problema está na
forma como usamos os aparelhos. O ideal seria que as telas ficassem sempre na
altura dos olhos, mas geralmente colocamos os dispositivos numa altura mais
baixa, confortável para as mãos, ou no colo.
“Do ponto de vista mecânico, o pescoço dobra para
frente numa curvatura de 20 graus ou mais, representando um aumento da pressão
nas vértebras de três a cinco vezes acima do normal”, ensina.
Uma cabeça humana pesa aproximadamente 5 kg, diz
Fernando Herrero, cirurgião de coluna no Hospital Sírio-Libanês e professor da
Universidade de São Paulo (USP). Levar a cabeça para a frente, usando o pescoço
como um pêndulo, faz esse peso triplicar e exige que a musculatura trabalhe
mais.
Além da dor no pescoço, principal sintoma da
síndrome, os especialistas alertam que o problema pode piorar no longo prazo e
gerar danos nos discos intervertebrais, que evitam o atrito entre uma vértebra
e outra e amortecem o impacto dos movimentos, com efeito nos nervos adjacentes.
“De uma forma menos técnica, podemos dizer que a
postura aperta o nervo como se fosse uma pinça”, explica o ortopedista. Com
essa alteração, a dor pode irradiar para os braços ou o restante da coluna,
gerando um quadro crônico difícil de ser contornado.
A professora da Santa Casa vai além: “O pescoço de
texto pode ser uma das causas de desgastes mais acentuados na coluna, como
bicos de papagaio, e problemas nos discos intervertebrais, como uma hérnia.”
Como reverter?
Tanto pela literatura quanto pelo que observa no
consultório, Fernanda afirma que permanecer cerca de três horas por dia no
celular, na posição com a cabeça para baixo, é o suficiente para o
desenvolvimento da síndrome.
A dica para que isso não aconteça é simples: não
inclinar o pescoço. Os profissionais recomendam que os smartphones sejam levantados,
na linha dos olhos, para evitar esse desgaste. Outro ponto importante é não
ficar com o rosto para baixo por muito tempo, alternando entre momentos no
celular e outras atividades.
Pacientes que já sentem dor no pescoço de forma
frequente devem procurar um especialista. A maioria dos casos se resolve com
fisioterapia, especialmente reeducação postural.
Estadão
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