Iniciada há 11 anos e já passando pelo quarto
governo, as obras no Complexo e Barragem de Oiticica, em Jucurutu, ganharam
novo prazo e serão concluídas até dezembro de 2025, precisando ainda de um
montante financeiro na casa de R$ 142 milhões para conclusão. Com isso, o
término da Barragem foi adiado pela 10ª vez desde o início das obras, em 2013.
A projeção inicial era de conclusão em 2015. O novo prazo para dezembro de 2025
foi fixado em pedido de aditivo contratual enviado pelo Governo do RN para o
DNOCS.
Além disso, a obra encareceu 187% do orçamento
inicial e ao término das obras poderá chegar a um orçamento de R$ 893 milhões,
valor bem acima do orçado no início das atividades em 2013, na casa dos R$ 311
milhões. Segundo o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Paulo
Varella, a expectativa é concluir o barramento ainda em 2024, mas as duas
agrovilas restantes deverão entrar com serviços em aberto em 2025, bem como
obras complementares importantes. Contudo, segundo o Plano de Trabalho enviado
ao Governo Federal, há previsão de mais de R$ 30 milhões para a “construção
física da barragem”, previstos para o próximo ano.
Em julho deste ano, o Governo do Estado chegou a
divulgar que as obras em Oiticica seriam concluídas até o fim de 2024. Mais uma
vez, o prazo não foi respeitado. Ao longo da obra, várias datas de conclusão
foram colocadas, mas a obra segue com 95% de conclusão. Fato é que ao longo dos
11 anos, foram solicitados 15 termos aditivos para a obra, seja por mudança de prazo
ou necessidade de novos recursos.
Em Nota Técnica obtida pela TRIBUNA DO NORTE, a
coordenadoria de obras da Semarh aponta que as obras da barragem e as demais
ações complementares sejam concluídas até dezembro de 2025. No documento é
colocado que, até setembro de 2024, foram executados R$ 718 milhões ao longo
dos 11 anos de obra. A nota cita como motivos para o novo adiamento
“indisponibilidade dos recursos financeiros de maneira integral, o que exigiu a
reprogramação das atividades conforme a liberação dos recursos e a adequação à
janela hidrológica”. Na nota técnica, o orçamento estimado para o plano de
trabalho apresentado ao Dnocs era de R$ 174 milhões, sendo o “valor necessário
a ser disponibilizado para conclusão do empreendimento até dezembro de 2025”,
cita trecho. O valor aprovado pelo Dnocs, no entanto, foi de R$ 142 milhões,
segundo o titular da Semarh, Paulo Varella.
Em outro documento para justificar o pedido do 16º
Termo Aditivo, a coordenadoria de obras da Semarh aponta os serviços e obras remanescentes
que serão executados no Termo Aditivo para justificar o novo prazo da obra. No
termo aditivo, além da conclusão das agrovilas para 2025 também estão previstos
uma série de serviços, como execução de aterros de inertes e valas de
infiltração; programa de limpeza da área da rural e urbana (demolições, limpeza
sanitária e transporte); viabilização de estradas; drenagem superficial das
vias de acesso à Barragem Oiticica; automação dos sistemas da barragem;
passagens molhadas vias de acesso; tratamento de taludes da barragem e execução
de tanque escada de peixes.
O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos,
Paulo Varella, nega que tenha faltado recursos para a obra e aponta que o termo
aditivo e novo prazo é necessário para renovação de convênio da Semarh junto ao
Departamento Nacional de Obras Contra às Secas (DNOCS). Ainda segundo ele, o
barramento tem perspectiva de ser concluído ainda em 2024. No caso das duas
agrovilas restantes (Jardim de Piranhas e São Fernando), Varella explica que o
Governo tentará terminará ainda este ano, podendo adentrar no começo de 2025.
“Esse documento trata-se de um convênio com o Dnocs,
que é o que dá guarida a tudo que fazemos, contratos e tudo mais. Ele vence no
dia 31 de dezembro deste ano, isso porque todo ano é refeito. Esta nota nada
mais é do que um pedido para aditarmos o convênio. Para ser justo não faltou
recursos. A questão da barragem está praticamente pronta, a obra continua
acelerada, as agrovilas estão andando. Essa nota técnica simplesmente pede para
renovar o convênio que vai se extinguir dia 31 de dezembro. É um aditivo de
prazo ao convênio”, acrescenta. “Se eu não aditar não vamos receber a
integralidade dos recursos”, pontua Paulo Varella.
“Existem recursos suficientes para terminarmos,
estamos trabalhando para concluir o barramento e as agrovilas até o final desse
ano, pode ser que passe um pouco mas estamos trabalhando nessa direção. Temos
garantias financeiras e orçamentárias para terminarmos a barragem e esperamos
concluir o barramento até dezembro. As agrovilas também estamos trabalhando
nessa direção. Vamos trabalhar nelas à noite também”, explica, acrescentando
ainda que os últimos acordos de desapropriações devem ser feitos nos próximos
dias.
Preço
Ainda segundo Paulo Varella, a mudança de preço da
obra ao longo do tempo se deu pelo fato de que uma série de questões foram
incluídas no Complexo de Oiticica durante a execução da obra, como
desapropriações e adequações ao projeto para integrar o Projeto de Integração
do Rio São Francisco (PSIF), além de outras questões.
“Essa obra em 2010 foi contratada por R$ 241
milhões. Quando ela foi iniciada em 2013 passou-se para R$ 311 milhões. Mas ela
demorou a começar e a pegar ritmo. Se você pegar esses R$ 311 e atualizar no
preço de hoje daria R$ 670 milhões só de questões financeiras. Em cima disso,
foi necessário colocar o projeto do PSIF que não estava previsto. E o que
estava previsto originalmente eram R$ 11 milhões para assentamentos. Tivemos
que colocar agrovilas, Barra de Santana, isso foi para R$ 88 milhões”,
acrescenta.
“Muitas dos itens não estavam incluídos quando foi
feito o projeto original e são questões essenciais. Estamos trabalhando para
fazer uma barragem absolutamente segura. Estamos querendo fazer um tipo de
monitoramento e um plano de segurança de barragens de ponta. Isso não estava
previsto, agora está. Passagem de peixes não estava previsto, agora está. Tudo
que não estava lá em 2010 e 2013 e não foi colocado em outros planos é nossa
obrigação fazer com que essa barragem seja de ponta no quesito segurança,
monitoramento e operação”, acrescenta Paulo Varella.
Barragem foi idealizada há 70 anos
Idealizada há 70 anos e sonho antigo para os
moradores da região do Seridó, a construção da Barragem de Oiticica é de
extrema importância para a região com o intuito de amenizar os efeitos das
cheias, visando proporcionar o controle das vazões do Rio Piranhas, reduzindo o
risco de inundações no Vale do Açu a jusante da Barragem Armando Ribeiro
Gonçalves. Além disso, visa suprir o déficit hídrico da sub-bacia do rio Seridó
a qual responde por 90% do déficit hídrico da bacia do Piranhas/Açu.
Quando estiver pronta, a Barragem Oiticica será o
terceiro maior reservatório do RN e terá capacidade para armazenar 590 milhões
de metros cúbicos de água. A barragem garantirá a segurança hídrica, o
abastecimento humano, irrigação para a agricultura familiar e desenvolvimento
socioeconômico para 800 mil habitantes de 42 municípios da região.
Em 2014, as obras chegaram a ser paralisadas após
reivindicações de movimentos sociais que seriam atingidos pelas obras. O
Movimento dos Atingidos pela Construção da Barragem Oiticica chegou a ocupar a
barragem com um barracão, interrompendo a obra por cerca de 70 dias. Na época,
a Igreja Católica chegou a articular negociação com o Governo a fim de dar
vazão as desapropriações e indenizações.
Recentemente, em 2022, o Governo entregou 177 casas
e equipamentos públicos da comunidade Nova Barra de Santana, principal obra
social do Complexo Oiticica. A Nova Barra de Santana foi construída para
abrigar os quase 900 moradores do Distrito Janúncio Afonso, conhecido como
Barra de Santana, que fica na área inundável da Barragem Oiticica. É dotada de
infraestrutura urbana como água tratada e coleta de esgoto em 100% dos
domicílios, tratamento de efluentes, ruas pavimentadas, manejo de resíduos
sólidos, drenagem de águas pluviais e outros.
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