Tribuna do Norte
Representantes do setor produtivo do Estado veem as
recentes invasões registradas no Rio Grande do Norte como uma “grave ameaça à
propriedade privada”. O alerta fez parte de notas publicadas ontem por
entidades como a Federação das Indústrias do RN e a Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado. Na última segunda, o Sindicato da Construção Civil e o
Sindicato das Empresas Imobiliárias já haviam expressado preocupação.
Duas propriedades privadas foram invadidas
recentemente: um imóvel da Poti Incorporações, localizado em Petrópolis, onde
era a antiga sede do Diário de Natal, e uma área do Distrito Irrigado do
Baixo-Açu (Diba), em Assú. A empresa dona do terreno em Petrópolis acionou a
Justiça, na última segunda, com pedido liminar para retomar o imóvel.
O terreno em Petrópolis foi tomado por integrantes
do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas do Estado (MLB/RN), na
madrugada de segunda-feira (29). Segundo o movimento, a ação é um protesto
contra a demora do Governo do Estado em entregar as casas prometidas do
programa Pró-Moradia, que, conforme acordo, deveriam ter sido construídas em
2021. Além disso, um grupo de pessoas que se identificam como integrantes dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), invadiu uma área que pertence ao projeto
do Distrito Irrigado do Baixo-Açu (Diba), na região do Vale do Açu no último
dia 12 de janeiro. O grupo invadiu um trecho onde funcionou a parte
administrativa da empresa que construiu o projeto. A região fica próxima ao
início do canal de irrigação, de onde é distribuída a água utilizada pelo
Distrito.
O presidente da Federação das Indústrias do RN,
Roberto Serquiz, considerou a invasão do imóvel em Petrópolis inaceitável e
cobrou as autoridades para que não se crie uma “epidemia” de invasões pelo
Estado. “Então, eu vejo que é uma coisa inaceitável, é uma grave ameaça ao
direito de propriedade. Gera insegurança jurídica, traz reflexos econômicos e
preocupa. Portanto, requer que as autoridades possam atuar de forma ágil,
evitando que se torne uma prática corriqueira”. E complementou: “O direito à
moradia é indiscutível. Agora, a forma de se chegar a esse direito, o acesso a
ter a casa própria, não é invadindo a propriedade alheia”.
Já a Faern apontou que atos como o registrado no
Diba, com a invasão de uma terra por pessoas que alegam ser do Movimento dos
Sem Terra, enfraquece o Estado, pois estimula a insegurança jurídica. “A
Federação da Agricultura está preocupada porque o Distrito Irrigado do
Baixo-Açu é um local onde não cabe assentamento, lá é um condomínio onde
existem vários investimentos e com esse fato, com essa invasão, está gerando
uma insegurança jurídica muito grande”, assinalou.
Os produtores rurais exigiram a retirada imediata
dos invasores. “Todos os irrigantes estão apreensivos e preocupados e a
Federação de Agricultura espera que o Governo do Estado retire imediatamente
esses invasores que estão lá, que entraram principalmente em áreas de reserva,
para que a paz, a tranquilidade e o desenvolvimento continuem ocorrendo lá no
Baixo-Açu. A Federação da Agricultura espera que o Estado tome providências e
que esses criminosos que invadiram o Distrito do Baixo-Açu sejam retirados
imediatamente”, encerrou
O presidente do Sindicato das Empresas Imobiliárias
do RN (Secovi), Renato Gomes Netto, declarou na última segunda que vê as
invasões com preocupação e diz que o ato é uma violação ao direito
constitucional à propriedade privada. “Essa prática faz com que o setor
imobiliário fique muito apreensivo porque quando se tem grupos ditos
organizados, invadindo uma área privada, isso gera uma insegurança. Como eu vou
ter a garantia que determinado imóvel meu também não vai ser invadido?”, diz.
Netto defende punição criminal para os responsáveis
pelo movimento. “Isso é um crime, invadir, tomar, se apropriar do que é dos
outros. Os cabeças do movimento têm que responder criminalmente por esse tipo
de prática. É um absurdo. Uma notícia dessas faz com que as pessoas, que pensam
em investir no mercado imobiliário, repensem seus investimentos”, pontua.
A preocupação é compartilhada pelo Sindicato da
Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RN). O presidente da entidade, Sérgio
Azevedo, diz que o ato tem impacto negativo na segurança jurídica do Estado.
“Tem um impacto nos riscos da propriedade privada, um impacto enorme no
desenvolvimento urbano da cidade e mostra uma falha também muito grande do
poder público na questão de prover habitação para a população.
Não estou querendo dizer que não há um problema
social envolvido, não estou querendo ser insensível à causa, mas isso traz
muito mais malefícios do que benefícios”, comenta.
Prefeitura ofereceu aluguel social para
o MLB
Em entrevista à rádio Jovem Pan News, do Sistema
Tribuna, a secretária Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e
Projetos Estruturantes (Seharpe), Shirley Cavalcanti, reforçou que a invasão ao
terreno foi fruto do atraso do Governo para a construção das casas. Sem as
residências, a Prefeitura chegou a propor a concessão de aluguel social aos
membros do MLB antes da invasão, ainda no ano passado, mas a proposta foi
recusada por lideranças do grupo.
De acordo com ela, foram oferecidos 30 benefícios de
aluguel social de R$ 600. A proposta foi oficializada em audiência na Justiça
Federal em maio do ano passado, com participação de representantes do Governo
do Estado, mas foi negada pelos líderes do MLB. O movimento ficou de apresentar
uma contraproposta, mas não houve nenhum retorno desde então. “Eu tenho certeza
que aquelas pessoas que estão naquele galpão não escolhem estar ali. Elas estão
ali porque não têm opção. Eu perguntei às pessoas. Então, a gente conseguiu uma
solução para aquilo, para resolver a situação de quem estava realmente
precisando ali dentro, que não têm para onde ir. E isso ser negado?”,
questionou a secretária. De acordo com o MLB, a proposta foi recusada porque
não beneficiava todas as famílias do movimento.
O Governo do Estado, por sua vez, justifica a demora
na entrega das casas pela gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Conforme o
Estado, houve atrasos nos repasses do programa Pró-Moradia, o que teria
inviabilizado a construção das casas no Planalto. “O programa foi interrompido
porque a gestão anterior do governo federal deixou de efetuar os repasses
financeiros previstos, afetando diretamente o cumprimento dos prazos firmados
com movimentos sociais como o MLB e Prefeitura de Natal”, diz nota do Governo.
Ação na justiça
A Poti Incorporações Imobiliárias LTDA, proprietária
do imóvel ocupado pelo MLB, entrou na Justiça, na última segunda (29), pedindo
a reintegração de posse do local, com pedido de liminar. O advogado da empresa,
Lucas Duarte de Medeiros, confirmou a informação à TRIBUNA DO NORTE. Conforme
reportagem publicada pela TRIBUNA DO NORTE, a Poti Incorporações repudiou o
ato.
Por outro lado, de acordo com o presidente do Diba,
Michel Cosme. O temor dos produtores é em relação aos prejuízos que podem
afetar os produtores do Distrito. Cosme afirma que enviou um ofício ao Governo
pedindo a retirada dos invasores, mas ainda não houve resposta, uma vez que as
tratativas estão sendo conduzidas pela PGE. A TN tentou contato com o
procurador designado para o assunto, Francisco Sales, mas não houve retorno.
De acordo com o gestor do Diba, a PM chegou a
visitar a invasão, mas os militantes permanecem no local. Há preocupação quanto
aos prejuízos que a invasão pode causar com um possível fechamento do canal que
abastece o Distrito.
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