O Globo
Eleito com uma ampla aliança de partidos de centro e
de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) montou uma equipe de transição para
seu governo com integrantes de 16 legendas diferentes. Dos 290 nomes anunciados
até ontem, o GLOBO identificou que ao menos 130 têm filiação partidária. A
prevalência é de petistas, que representam mais da metade — são 66 ao todo.
Além da participação de siglas que fizeram parte da coligação de Lula na
campanha eleitoral, o time da transição incorporou indicados por partidos que
devem fazer parte da base aliada do novo governo, como MDB e PSD, cada um com
pelo menos sete integrantes escalados para trabalhar na equipe.
Ainda que Lula diga que participar desse processo
não significa assumir cargos no futuro governo, a ocupação das cadeiras na
transição dá pistas sobre a composição de forças e a preferência de cada uma
das siglas para eventual atuação na Esplanada dos Ministérios. O
vice-presidente eleito e coordenador-geral da equipe, Geraldo Alckmin, afirmou
ontem que o futuro governo deverá ter um número de ministérios semelhante ao de
núcleos temáticos em funcionamento durante a transição: 31. Atualmente, a
gestão de Jair Bolsonaro mantém 23 pastas no Executivo federal.
— Não é obrigatório cada grupo de técnico ter um
ministério correspondente, mas eles são muito próximos. Não é exatamente igual,
mas são próximos. São as áreas de maior preocupação e maior empenho em
políticas públicas — afirmou.
O PSB, partido de Alckmin, por exemplo, é o segundo
com a maior participação no grupo da transição, com 12 nomes. A sigla ganhou
assentos no núcleo temático de Ciência, Tecnologia e Inovação, entre os quais o
vice-presidente da Fundação João Mangabeira (FJM), Alexandre Navarro. A legenda
também possui representantes no de Turismo e no de Cidades. No grupo que vai
discutir políticas públicas voltadas aos indígenas, que devem ser incorporadas
ao futuro Ministério dos Povos Originários, o PSOL é quem tem mais
representantes, com dois nomes: as deputadas eleitas Sônia Guajajara (SP) e
Célia Xakriabá (MG). A legenda é a terceira com a maior quantidade de filiados
na transição, com 9.
Ao GLOBO, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros,
afirmou estar satisfeito com a participação do partido na equipe, mas que ainda
deve sugerir mais uma “dezena” de nomes para a transição.
— Por ora as nossas indicações foram atendidas —
disse Medeiros, que faz parte do conselho político do governo de transição.
O PT, por sua vez, é maioria nos núcleos de Educação
e Saúde, que reúnem cinco ex-ministros de gestões petistas, mas também coordena
as áreas de Economia, Relações Exteriores e Cidades. Na semana passada,
integrantes da legenda chegaram a demonstrar insatisfação nos bastidores com a
perspectiva de ficarem sem espaço diante da necessidade de Lula em acomodar os
demais aliados. Com representação em pelo menos 29 dos 31 grupos da transição,
porém, a avaliação interna é de que foi possível equilibrar a pressão dos
demais partidos.
Cota pessoal
Mesmo filiados a legendas, alguns nomes são
considerados como “cota pessoal” de Lula. É o caso do ex-governador do Maranhão
e senador eleito, Flávio Dino (PSB), um dos poucos que já ouviram do próprio
presidente que terá espaço na Esplanada. Ele integra o grupo de Justiça e
Segurança Pública e é hoje o favorito para assumir a pasta a partir de janeiro.
Outro exemplo é a participação da senadora Simone
Tebet (MDB-MS), coordenadora do grupo de assistência social. O partido, que
durante a campanha optou por liberar seus filiados, também tem representantes
nos núcleos de desenvolvimento regional, turismo, juventude e no de indústria,
comércio e serviços, que deve voltar a ser um ministério na na gestão de Lula.
A participação na campanha também foi considerada como decisiva para a inclusão
do deputado André Janones (Avante) no grupo. Ele teve o nome anunciado ontem
para a equipe de comunicação. Além do parlamentar, a sigla conta com Guilherme
Ítalo no conselho político.
A montagem da equipe de transição ainda tem servido
para Lula fazer acenos em busca de novas alianças. O presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por exemplo, tem um nome de sua confiança na
transição: o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), que faz parte do grupo de
Infraestrutura.
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