Continuam atrasados e sem prazo para ser
regularizados os repasses pelo Governo do Estado dos recursos para pagamento de
empréstimos consignados dos servidores, já descontados nos seus contracheques.
Por essa razão, o Banco do Brasil suspendeu novos empréstimos e até cobra dos
usuários como se esses tivessem em débito. Representantes dos sindicatos dos
servidores (Sinsp), dos Policiais (Sinpol) e da Saúde (Sindsaúde) criticam a
prática que, segundo eles, tem sido freqüente e sem diálogo com a gestão
estadual.
É o segundo mês consecutivo que o problema acontece,
muito embora já tenha ocorrido eventualmente nos últimos dois anos. O
conselheiro fiscal do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (Sindisaúde/RN),
Breno Coutinho, diz que o atraso nos repasses acontece desde as gestões
passadas e que o prejuízo fica para o trabalhador, sem que o Governo abra
diálogo com as entidades.
“Essa situação é antiga e gera um problema muito
grande para os servidores. No Sindsaúde, ficamos de mãos atadas porque nem
diálogo existe com o Governo. Foi criado o Fórum dos Servidores, mas o próprio
Governo também acabou com o Fórum. Dizem que há uma mesa de negociação, mas
essa só serve para informar o que já está decidido. Não existe diálogo com o
Governo”, disse ele.
O Sindsaúde vai realizar, inclusive, no próximo dia
29, uma Assembleia Geral para discutir, entre outras, questões relacionadas ao
não cumprimento do Plano de Cargos, piso da enfermagem e deliberação sobre
indicativo de greve da saúde do Estado. “O Governo não cumpriu nenhum ponto da
nossa pauta nesse ano. Teremos uma assembleia na quinta-feira para decidir com
a base o que fazer”, destacou o sindicalista.
No caso dos atrasos nos repasses do crédito
consignado dos servidores, caso haja judicialização, essa é feita
individualmente. A presidente do Sindicato dos Policias (Sinpol/RN), Edilza
Faustino, disse que não identificou recentemente nenhum desses casos entre os
policias ligados à entidade. “Mas o sindicato considera um absurdo que o
governo retire e desconte dinheiro do servidor e não repasse para os bancos,
causando esse mal-estar porque o trabalhador paga e depois é responsabilizado e
sofre sanções como se devesse. Isso é inadmissível”, criticou Faustino.
Maria José Justino, Secretária-geral do Sindicato
dos Trabalhadores do Serviço Público da Administração Direta do Estado
(Sinsp/RN), diz que a instituição financeira foi procurada e informou que a
atual suspensão ocorre há mais de 15 dias e que isso gera duas grandes
conseqüências para os servidores. “A primeira é a negativação dos nomes dos
servidores que têm consignado com o Banco do Brasil. O Estado desconta as
parcelas dos empréstimos, mas não repassa ao banco. Com isso, os servidores são
cobrados pelas instituições bancárias, mesmo com as parcelas já tendo sido
retiradas dos seus salários, correndo o risco de terem o nome inserido no SPC e
Serasa. A segunda consequência é a suspensão para que novos empréstimos sejam
realizados, impossibilitando o crédito aos servidores do Estado”, disse ela.
O Sinsp denuncia que na gestão atual, desde 2020,
registra atrasos nos repasses, de modo que leva à suspensão da operação dos
servidores com os bancos. Além de lamentar a situação, que qualifica como
constrangedora e corriqueira que os servidores vêm passando, a sindicalista
alerta que o repasse não feito pode ser qualificado como crime. “Além de também
lamentar a gestão do governo baseada no confisco de parte dos salários dos
servidores públicos, temos que deixar claro que não repassar aos bancos as
parcelas dos empréstimos consignados dos servidores é uma apropriação indébita,
que caracteriza pedalada fiscal por parte do governo do Estado”, concluiu
Edilza Faustino.
O Governo não informou quando a situação será
regularizada. Na quinta-feira, a Secretaria de Planejamento do Estado
(Seplan/RN) argumentou que desde que ocorreu a redução do Imposto Sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis, energia elétrica
e comunicações, aprovada pelo Congresso por meio da Lei Complementar 194, tem
procurado resolver o problema do fluxo de caixa.
“No mês passado, houve o mesmo problema, mas foi
rapidamente resolvido junto ao Banco do Brasil. Nesse mês, já foi pago
uma parte e estamos em negociação para quitar o resto o mais breve possível”,
informou. A pasta não disse quanto já foi pago e quanto ainda está pendente. O
Banco do Brasil só deve voltar a fazer o consignado depois que o pagamento for
regularizado.
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