Em 16 dias, 39 pacientes morreram antes mesmo de
conseguirem acesso a um leito destinado ao tratamento da Covid-19 no Rio Grande
do Norte. Desse total, 23 (58%) foram somente na região metropolitana de Natal.
Os números refletem casos em que o pedido de regulação
para um leito foi suspenso pelo falecimento do paciente. Além dos óbitos, o
estado teve 43 pedidos de regulação para leitos suspensos por falta de
transporte. A região metropolitana foi responsável por 28 cancelamentos desse
tipo.
Os dados compilados entre os dias 12 e 28 de fevereiro
constam do documento "Rio Grande do Norte: 'uma nova onda'",
construído por um grupo de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológico
em Saúde (Lais) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que
analisam a situação recente no estado.
A partir do período de carnaval, foi observado aumento
de cerca de 48% nas solicitações por internações em leitos covid-19, em um
intervalo de duas semanas, somente na região metropolitana de Natal.
O aumento da demanda por leitos levou o estado a determinar
toque de recolher das 22h às 5h, além de suspensão de aulas presenciais,
cultos, missas entre outras atividades. A capital
determinou fechamento da orla marítima nos finais de semana e
feriados.
No início da tarde desta segunda-feira (1º), o estado
estava com 92,7% de ocupação dos leitos críticos para Covid-19, de acordo com o
Sistema Regula RN, criado pelo Lais e usado pelo governo do estado para
administrar a regulação de leitos para Covid-19 no Rio Grande do Norte.
Pelo menos 12 hospitais com leitos da rede pública
estavam com todas as UTIs ocupadas e outros cinco tinham taxa acima de 90%. A
rede privada também opera com praticamente o total de leitos na região
metropolitana.
Relatório
O relatório também traz informações quanto à taxa de
transmissibilidade dos municípios, e considera as consequências das
aglomerações no período de campanha eleitoral, Ano Novo e carnaval. Para
realizar todas as análises, o laboratório monitorou mais de 140 indicadores
sobre o novo coronavírus no estado - todos eles utilizando métodos
computacionais.
"A situação no estado do Rio Grande do Norte é
considerada grave. Diante dos estudos apresentados, é possível afirmar que,
atualmente, a Região Metropolitana é a principal responsável pelos aumentos das
internações por Covid-19 em todo o RN. Todavia, as demais regiões também não
estão em uma situação confortável, logo, todas as autoridades públicas do
estado devem estar atentas aos indicadores assistenciais (leitos covid-19) e
aos dados epidemiológicos diariamente publicados pela SESAP/RN", apontam
os pesquisadores.
Na análise, os pesquisadores consideraram que, passada
a fase crítica inicial, entre maio e julho de 2020, houve redução de
aproximadamente 73,8% do número de novos casos e óbitos em relação ao período
anterior.
Durante o período, praticamente todas as atividades
econômicas foram autorizadas a retornar de forma plena, desde que cumprissem as
medidas sanitárias estabelecidas - como redução do número de ocupantes
simultaneamente no interior do estabelecimento, uso de máscaras e álcool 70% em
gel.
Transporte público
Os pesquisadores recomendaram a retomada de 100% da
frota do transporte público na região metropolitana como medida para diminuição
das aglomerações no ônibus. Caso contrário, consideram que várias atividades
econômicas teriam que voltar a ser fechadas por pelo menos 21 dias.
"Um aspecto fundamental e que vem sendo
continuamente negligenciado diz respeito à superlotação do transporte público
urbano observada desde abril de 2020, especialmente na Região Metropolitana de
Natal. Embora esse segmento tenha sido autorizado a reduzir a frota no início
da epidemia, o retorno das atividades econômicas não foi acompanhado pelo pleno
funcionamento desse importante meio de transporte, expondo os usuários do
sistema a aglomerações diárias e favorecendo a disseminação do
Sars-CoV-2", consideraram os pesquisadores, que recomendaram a retomada a
100%.
Campanhas eleitorais
Os pesquisadores ainda apontaram que o início das
campanhas eleitorais para prefeitos e vereadores, em setembro teria marcado uma
nova fase epidêmica da doença em todo o país, refletindo no aumento do número
de novos casos notificados.
Ainda de acordo com eles, mesmo com recomendações dos
comitês científicos, as frequentes aglomerações observadas nos meses de outubro
e novembro de 2020 contribuíram para o relaxamento das medidas de prevenção e
para a “normalização” do número de óbitos diários.
"Esses fatos tiveram impacto direto no aumento da
Taxa de Transmissibilidade (Rt) observada nesse período, resultando no
'agravamento homogêneo' da epidemia em todo o estado, semelhante ao que ocorreu
no restante do país".
Remédios sem comprovação
Ainda de acordo com os pesquisadores, a recomendação
para uso de medicamentos não aprovados pela Anvisa para tratamento contra
Covid-19 poderia ter causado falsa sensação de proteção à população, com
consequente relaxamento das medidas de proteção. Para eles, os medicamentos só
podem ser receitados por médicos que, ainda assim, poderão ser
responsabilizados futuramente caso não haja comprovação da eficácia.
"O conjunto desses indicadores apresentam mais
uma evidência de que os fármacos utilizados por parte da população para o
tratamento ou profilaxia da covid-19, prescritos para pacientes não infectados
ou nos estágios iniciais da infecção não surtem o efeito terapêutico ou
profilático esperado. Isso porque, neste momento, parecem não apresentar
eficácia em reduzir o número de novos casos, os casos graves e nem as
hospitalizações em leitos de UTI covid-19 ou em leitos clínicos covid-19",
dizem os pesquisadores.

Nenhum comentário:
Postar um comentário