ESTADÃO CONTEÚDO
Um ‘descuido’ do ex-assessor Fabrício Queiroz é
uma das provas do Ministério
Público do Rio para apontar o uso de verbas desviadas da Assembleia
Legislativa fluminense no pagamento de uma cobertura adquirida
pelo senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ), em 2011. A transação foi feita na conta da
mulher do parlamentar, Fernanda, e descortinou depósitos fracionados às
vésperas dos vencimentos do imóvel.
Flávio
Bolsonaro foi denunciado por peculato, organização criminosa e lavagem de
dinheiro no inquérito das ‘rachadinhas’, que investigou o repasse
parcial ou total dos salários de servidores lotados em seu antigo gabinete na
Assembleia Legislativa a Queiroz, que usava o dinheiro para quitar despesas
pessoais do filho do presidente. Fernanda Bolsonaro também foi denunciada por
lavagem de dinheiro.
O nome de Fernanda aparece na denúncia quando o
Ministério Público descreve o ‘enriquecimento ilícito’ de Flávio ao longo dos
anos. Uma
das transações investigadas foi a compra de uma cobertura em Laranjeiras, na
zona sul do Rio, por R$ 2,2 milhões em 2011.
Em agosto daquele ano, o casal precisaria desembolsar R$ 110 mil para quitar o sinal do imóvel, uma garantia de compra. No entanto, o Ministério Público apontou que a conta dos Bolsonaro ‘não possuía lastro financeiro para custear a operação’. Na véspera do pagamento, porém, um depósito de R$ 25 mil caiu na conta de Fernanda – e neste momento, segundo a Promotoria, Queiroz cometeu um ‘descuido’.
O dinheiro teria sido sacado em espécie da conta do
próprio ex-assessor antes de ser depositado em nome de Fernanda. Os promotores
dizem que a transação ‘peculiar’ – saque em espécie, seguido de depósito quando
existem mecanismos de transferências diretas – revelam que a intenção era
ocultar o responsável pelo repasse. Queiroz, porém, errou na ‘dosagem’ e foi
obrigado a se identificar no caixa.
“Em razão do alto valor depositado, o denunciado
Fabrício José Carlos de Queiroz teve que registrar seu próprio nome na agência
bancária como responsável pelo depósito em espécie, materializando nos
registros bancários vestígios concretos da destinação final dos valores
desviados da Alerj”, afirma a Promotoria.
Para a Promotoria, tal ‘descuido’ revela que, à época,
Queiroz ‘ainda não estava familiarizado com os instrumentos de prevenção à lavagem
de dinheiro’.
Fracionados. Queiroz
não foi o único a cometer um ‘descuido’. Segundo o MP, na véspera do pagamento
da segunda parcela da cobertura em Laranjeiras, em dezembro de 2011, o
chefe de gabinete de Flávio na Alerj, Miguel Ângelo Braga Grillo, o ‘Coronel
Braga’ depositou R$ 20 mil na conta de Fernanda Bolsonaro. Apesar de
usar o nome da mulher do senador na identificação do depósito, quebra do sigilo
bancário revelou que o Braga foi o responsável pelo repasse: Meia hora antes,
ele havia sacado a mesma quantia da sua própria conta, em espécie.
O chefe de gabinete também foi denunciado pelo
Ministério Público, acusado de integrar o ‘núcleo operacional’ das rachadinhas,
responsável por validar a contratação e os pontos de diversos servidores que,
apesar de serem funcionários da Assembleia, nunca bateram cartão na Casa. A
medida garantia que o salário fosse pago normalmente.
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