Praticamente metade das crianças potiguares com até
dois anos de idade ainda não tomou todas as doses de vacinas necessárias em
2020, de acordo com dados repassados pela Secretaria Estadual de Saúde a pedido
do G1. Os percentuais ainda poderão ser atualizados até o fim do
ano, mas levam em conta os números de nascidos vivos no estado.
"Os números são preocupantes, porque, mesmo o ano
ainda não tendo acabado, era para já estamos com o percentual alcançado, porque
o cálculo é referente aos meses que já se passaram", afirmou a bióloga
Iraci Nestor, técnica do programa de Imunização da Secretaria Estadual de
Saúde. Um dos motivos apontados é a pandemia da Covid-19.
O problema não é pontual. Em 2016, 2017 e 2019, nenhuma das nove vacinas aplicadas em crianças de até 15 meses (1 ano e 3 meses) necessárias para proteção contra doenças como sarampo, tuberculose, hepatite e poliomelite, alcançou as metas de imunização, que variam de 90 a 95%. De acordo com os especialistas, apenas esses percentuais garantem que as doenças deixem de circular na sociedade.
De acordo com Iraci, a baixa cobertura não apenas no
estado, mas em todo o país, pode provocar o ressurgimento de doenças que
estavam desaparecidas do cenário nacional e regional - o que já aconteceu com o
sarampo em 2018.
"A gente recebeu certificado da OMS, mas em 2018
o sarampo, que é prevenido pela Tríplice Viral, voltou, aumentando número de
casos e mortes. O que aconteceu com o sarampo, pode acontecer com as outras
doenças. Corre o risco, por exemplo, de voltar a poliomelite, que a gente tem
erradicada no país, mas o vírus continua circulando em outros
continentes", apontou.
O problema que já era grave nos últimos anos aumentou
por causa da pandemia do novo coronavírus. Entre o final de março e o início de
abril, a vacinação infantil ficou suspensa por cerca de 15 dias. Mesmo com o
retorno do serviço, a Sesap acredita que muitos pais tiveram receio de procurar
os postos de saúde nos municípios.
Com isso, as coberturas, quando muito, chegaram a
pouco mais de metade do público esperado. A pentavalente teve uma cobertura de
pouco mais de 47%. A BCG, que previne formas graves de tuberculose e é aplicada
logo após o nascimento da criança, teve cobertura de apenas 54%.
Para a pediatra Ana Luiza Braga, o calendário vacinal
acabou sendo deixado de lado na pandemia, mas, ao contrário da Covid-19, que
tem sintomas leves nas crianças, essas outras doenças prevenidas pelas vacinas
podem trazer mais prejuízos.
"Apesar de o Covid-19, para criança, ser uma
infecção leve, na grande maioria das vezes sem sintomas nenhum, o retorno de
doenças graves como o sarampo, pode ter uma maior gravidade para as crianças.
Isso gera toda uma reação em cadeia, com lotação dos serviços, que podem não
ter capacidade para atender a demanda", alerta.
A gente se preocupou muito com a Covid-19
e esqueceu de manter o calendário de vacinação atualizado
— Ana Luiza Braga, pediatra
Metas não foram alcançadas nos últimos 5
anos
Apesar do impacto da pandemia, o Rio Grande do Norte
já não vinha alcançando as metas de vacinação pelo menos desde 2015. De acordo
com os dados, em 2015, apenas a BCG alcançou a meta. Em 2018, o estado alcançou
a cobertura esperada em duas das nove imunizações e se aproximou da meta em
outros casos. Porém, em 2016, 2017 e 2019, nenhuma das vacinas chegou à
cobertura prevista pelo Ministério da Saúde.
Para a Sesap, um dos motivo que poderia justificar a
redução dos percentuais de cobertura nos últimos anos, seria justamente uma
falsa sensação de segurança. "Como as pessoas não estão vendo a circulação
dessas doenças, acabam achando que não precisam, quando na verdade é a vacina
que previne essa circulação", apontou Iraci.
Além disso, há problemas como movimentos antivacina, e
desabastecimentos pontuais. Outra preocupação das autoridades de saúde é com o
cadastro de dados por parte dos municípios, que são os responsáveis diretos
pela aplicação da vacina. Em visitas a algumas cidades do estado, a equipe
constatou falta de repasse das informações no sistema do Ministério da Saúde.
Ao todo, são nove vacinas aplicadas nas crianças com
menos de um ano até os 15 meses de vida. Algumas delas têm mais de uma dose e
só são considerados, para efeito de cobertura vacinal, os casos das crianças
que tomaram todas. O cálculo da meta é feito com base na projeção populacional
do IBGE e com o registro de nascidos vivos do Ministério da Saúde.
Calendário e doenças prevenidas por cada
vacina
- Ao
nascer
- BCG – (previne as formas graves de tuberculose, principalmente miliar e meníngea) -
- Hepatite B–(previne a hepatite B) - 2
meses
- Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae B) - 1ª dose
- Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) (previne a poliomielite) – 1ª dose
Pneumocócica 10 Valente (conjugada) (previne a pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1ª dose
- Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 1ª dose - 3
meses
- Meningocócica C (conjugada) - (previne Doença invasiva causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 1ª dose - 4
meses
- Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 2ª dose
- Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) (previne a poliomielite) – 2ª dose
- Pneumocócica 10 Valente (conjugada) (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 2ª dose
- Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 2ª dose - 5
meses
- Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 2ª dose
- Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 3ª dose
- Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) - (previne poliomielite) – 3ª dose - 12
meses
- Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª dose
- Pneumocócica 10 Valente (conjugada) - (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – Reforço
- Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – Reforço - 15
meses
- DTP (previne a difteria, tétano e coqueluche) – 1º reforço
- Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) - (previne poliomielite) – 1º reforço
- Hepatite A – uma dose
Tetra viral – (previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/catapora) - Uma dose
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