Felipe Salustino
Repórter
O reajuste do salário mínimo no Brasil, a partir de
1º de janeiro de 2026, deverá injetar um volume de R$ 845 milhões na economia
potiguar no ano que vem, segundo projeções do Instituto Fecomércio RN (IFC). O
salário mínimo terá aumento real de 2,5%, saindo de R$ 1.518 para R$ 1.621.
De acordo com uma nota técnica divulgada pelo
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese),
cerca de 6,9 milhões de brasileiros têm rendimento referenciado pelo piso
nacional, fator que será responsável por injetar R$ 81,7 bilhões em todo o País
no próximo ano.
O presidente da Federação do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo do RN (Fecomércio-RN), Marcelo Queiroz, destaca que apenas
nos dois últimos anos mais de 53 mil vagas com carteira assinada foram abertas
no estado, fator que colabora para o volume projetado para 2026. “O Rio Grande
do Norte se beneficia desse aumento de renda por ser o estado do Nordeste com
maior nível de formalidade no mercado de trabalho. Além disso, os aposentados e
pensionistas potiguares também se beneficiam desse aumento de renda”, explicou
Queiroz.
A Fecomércio RN aponta ainda que parte desse recurso
deve estimular o comércio de bens, serviços e turismo no estado, enquanto outra
parcela vai ajudar as famílias potiguares a regularizar finanças, reduzir a
inadimplência e os gastos com juros e multas.
Ao novo salário mínimo foi aplicado reajuste nominal
de 6,79%, resultado da correção de 4,18% referentes à inflação e da aplicação
posterior de 2,5% de aumento real. Para o economista Thales Penha, o aumento
acima da inflação permite que a população consiga incorporar determinados bens
de consumo, com produtos considerados de melhor qualidade.
“Estatisticamente, a população do RN gasta cerca de
32% do orçamento com alimentação e bebida. Nós viemos de dois anos de pressão
sobre preços, principalmente dos alimentos, o que fez com que muitas famílias
substituíssem produtos. Um exemplo clássico é o da margarina e da manteiga.
Quando a manteiga fica cara, o consumidor troca pela margarina. Então, o
reajuste do salário mínimo pode ajudar as famílias a recompor esse tipo de
gasto, provocando um efeito prático nas formas de consumo”, diz o economista.
Thales Penha, que é professor da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no entanto faz uma ressalva: para
famílias maiores, dependentes de apenas um salário mínimo, o impacto do aumento
real é pouco significativo, especialmente em cidades como Natal, onde alguns
serviços, como o de transporte, possuem custo considerável. “As pessoas que
ganham um salário mínimo normalmente tendem a ter uma propensão marginal a
consumir bastante elevada. Isso significa que elas consomem basicamente toda a
renda de que dispõem”, discorre o especialista.
“Estudos do Idema mostram que a cesta básica em
Natal para uma família com quatro pessoas dá um custo unitário de R$ 590, ou seja,
essa família precisa de, pelo menos, R$ 2,3 mil para sobreviver. Quando se
adiciona outros tipos de custos, esse valor vai aumentando. Então, existe aí
uma qualidade de vida muito baixa. Portanto, um aumento acima da inflação
melhora, mas de maneira pouco significativa, as condições dessas pessoas. Ao
mesmo tempo, o impacto sobre o consumo é grande porque todo o orçamento
adquirido é gasto”, acrescenta.
Reajuste injetará R$ 81,7 bilhões no
País
De acordo com o Dieese, o novo salário mínimo, que
representa reajuste de R$ 103, deve gerar incremento de renda na economia de R$
81,7 bilhões em todo o País. Por outro lado, o impacto do reajuste significará
um custo adicional de cerca de R$ 39,1 bilhões ao ano para a Previdência. No
setor público, o reajuste vai ser sentido de forma mais expressiva nas esferas
municipais, onde o índice médio de servidores que ganham o piso nacional é de
cerca de 10,72%. Quando se considera apenas a região Nordeste, o índice médio
nos municípios sobe para 14,4%.
Os dados divulgados pelo Dieese em nota técnica
mostram, ainda, como ficou a valorização do salário mínimo desde 2002 no
Brasil. Em abril daquele ano, o piso nacional era de R$ 200. Com o reajuste
projetado para 2026, a valorização em mais de 20 anos é de 710,5%. No mesmo intervalo,
a inflação acumulada, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
(INPC), ficou em 306,7%, resultando em um ganho real acumulado próximo de 100%
ao poder de compra do salário mínimo.

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