As chamadas “canetas emagrecedoras”, como Ozempic,
Mounjaro e Wegovy, têm ganhado popularidade nos últimos anos, mas o uso sem
orientação médica pode trazer sérios riscos à saúde. O alerta é da
endocrinologista Liana Viana, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia do Rio Grande do Norte (SBEM-RN). “Caneta
emagrecedora não é um produto estético, é medicação. Tem que ser sob prescrição
médica”, enfatizou a especialista, em entrevista à TV Agora RN nesta
sexta-feira 7.
Segundo Liana, essas medicações foram inicialmente
desenvolvidas para o tratamento do diabetes, mas acabaram sendo liberadas
também para o controle da obesidade. “São medicações excepcionais, representam
uma divisão tanto no tratamento do diabetes como da obesidade”, afirmou. Ela
destacou que, quando usadas de forma adequada, as canetas trazem resultados
expressivos. “Tenho pacientes idosos que, anos atrás, não tinham perspectiva de
tratamento para obesidade e hoje conseguem perder até 20% do peso, com melhora
importante na qualidade de vida”, disse.
No entanto, a endocrinologista lamenta o uso
indiscriminado e a “banalização” desses medicamentos. “A gente experimenta essa
banalização com muita tristeza, porque isso acaba queimando o filme de um
medicamento excelente”, afirmou. Ela alerta que a automedicação pode causar
complicações graves: “Se uma pessoa tem refluxo e usa um medicamento desses,
vai piorar muito. Pode vomitar, ter diarreia, desidratar. Quem tem tendência à
pancreatite pode desenvolver a doença, que é gravíssima”.
Outro ponto de preocupação, segundo Liana, é o
mercado ilegal. “Tem muita manipulação e contrabando. Já apreenderam canetas
originais vazias sendo preenchidas com produtos de origem duvidosa. Isso é
muito sério, porque são produtos estéreis que, se contaminados, podem causar
infecções”, alertou.
Diabetes cresce com estilo de vida moderno, aponta
Liana Viana
Liana Viana alertou que o diabetes é uma doença
crônica e progressiva que tem crescido de forma preocupante no Brasil,
especialmente devido às mudanças no estilo de vida da população. Segundo a
médica, entre 9% e 11% dos brasileiros são diabéticos, o que representa cerca
de uma em cada dez pessoas. “O diabetes é uma doença crônica, progressiva e
realmente de uma incidência muito alta”, destacou. “A estimativa é que entre 9
a 11% da população brasileira seja diabética”.
A especialista explicou que o aumento dos casos está
diretamente ligado a fatores comportamentais. “O diabetes está muito
relacionado ao estilo de vida”, afirmou. “Na medida em que o nosso estilo de
vida tem cada vez mais piorado – com aumento do sedentarismo, má alimentação e
obesidade –, isso traz consigo um maior risco dessa doença”.
Liana lembrou que existem dois principais tipos da
enfermidade. “Dez por cento dos pacientes diabéticos são do tipo 1”, disse. “O
diabetes tipo 1 é aquele que acontece normalmente na infância e adolescência,
apesar de poder acontecer também na idade adulta. É uma doença autoimune, em
que o corpo começa a desenvolver anticorpos contra as células que produzem a
insulina ou contra a própria insulina”.
Já o tipo 2, segundo ela, representa a grande
maioria dos casos. “Noventa por cento de fato têm diabetes tipo 2, que é uma
combinação genética com o ambiente”, explicou. “Quando eu falo em ambiente,
falo nesses fatores de risco: sedentarismo, alimentação inadequada, sono ruim –
até o sono ruim é fator de risco –, além do estresse”.
Outras condições também aumentam as chances de
desenvolver o problema. “Quem tem hipertensão tem maior chance de ter
diabetes”, pontuou. “Alterações de colesterol, doenças hepáticas e obesidade
também são fatores associados”.
Sobre o tratamento, a endocrinologista destacou que,
embora o diabetes não tenha cura, é possível alcançar a remissão em alguns
casos, especialmente quando há perda de peso significativa. “A gente não fala
em cura, mas fala em alguns casos de remissão, principalmente no diabetes tipo
2, quando ele está associado à obesidade”, explicou.
“Pacientes que fazem cirurgia bariátrica e perdem
muito peso, dependendo do tempo e da intensidade do diabetes, podem remitir a
doença e ficar com exames normais, sem necessidade de medicação”, afirmou.
Ela acrescentou que novas terapias têm ampliado as
possibilidades de controle e melhora dos pacientes. “Hoje, com o advento de
medicações mais assertivas, com melhores resultados para o controle do diabetes
e para o tratamento da obesidade, a gente já está experimentando esse tipo de
situação também”, disse. “Indivíduos que conseguem perder mais de 15% do peso
às vezes remitem o diabetes. Eu não falo em cura, mas pode acontecer”.
Pré-diabetes é reversível
A endocrinologista alertou que o pré-diabetes é uma
condição real e reversível, mas que precisa de tratamento. Segundo ela, o termo
se refere a uma fase em que o organismo já apresenta alterações na glicose, mas
ainda é possível impedir o avanço da doença.
“O diagnóstico de pré-diabetes não é uma condenação.
Mas o tratamento é muito semelhante ao do diabetes”, disse. “Mesmo nessa
condição de pré-diabetes, eu posso ter complicações, já posso ter neuropatia
diabética, por exemplo. Por isso que precisa ser tratada”.
Para Liana Viana, a prevenção e o controle precoce
do diabetes ainda são as melhores formas de evitar complicações. “Quanto mais
precoce for o controle, mais chance temos de retardar as complicações
vasculares, como neuropatia, retinopatia e doença renal”, explicou. Ela
reforçou que o acompanhamento pode ser feito na atenção primária. “O diabetes é
uma doença da atenção básica, e a maioria dos pacientes pode ser acompanhada
por um clínico geral. O endocrinologista entra quando há complicações ou dificuldade
no controle”, concluiu.
Ação
A médica também destacou o papel das campanhas de
conscientização para combater a desinformação e promover o diagnóstico precoce
do diabetes. “Nosso objetivo é informar o máximo possível, conscientizar e
esclarecer a população”, afirmou. A SBEM-RN realizará, no dia 15 de novembro,
uma ação gratuita no Partage Norte Shopping, das 14h30 às 17h30, com aferição
de glicemia e pressão, avaliação nutricional e orientação médica.

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