sábado, 25 de outubro de 2025

CAMPESTRENSE - Desertificação ameaça 95% do RN e já impacta agricultura e pecuária

 


Cláudio Oliveira
Repórter

O processo de desertificação avança sobre o território potiguar que apresenta 95% da sua área em risco, segundo diagnóstico da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). O fenômeno é resultado de fatores climáticos e ações humanas, como desmatamento, uso inadequado do solo e exploração predatória dos recursos naturais, afetando a produtividade agrícola, a disponibilidade de água e o modo de vida das comunidades rurais. O Governo do Estado diz que entre as ações de combate ao problema estão a Política Estadual de Combate e Prevenção à Desertificação e obras de segurança hídrica, mas que o cenário de mudanças climáticas torna a situação preocupante e urgente devido à seca.

Um levantamento recente do Boletim Temático “Desertificação”, divulgado em junho de 2025 pela Sudene, revela que 22 municípios potiguares estão entre os 100 mais afetados no Nordeste, com índices severos de degradação classificados nos níveis 4 e 5, considerados críticos. Esses níveis indicam áreas com longos períodos de solo descoberto, baixo teor de matéria orgânica e queda acentuada da produtividade.

No RN, os maiores percentuais de desertificação severa estão em Bom Jesus (84,80%), Passa e Fica (83,04%), Vera Cruz (75,08%), Brejinho (73,44%) e Senador Elói de Souza (72,81%). No fim da lista potiguar entre os 100 mais atingidos aparece Serra do Mel (46,62%), ainda assim com quase metade de sua área afetada. A classificação é liderada por Montadas (PB), com 95,83% de desertificação severa, enquanto Filadélfia (BA) encerra o grupo com 46,45%.

Segundo a Sudene, a desertificação não significa a formação de desertos naturais, mas a transformação de áreas produtivas em paisagens empobrecidas e biologicamente degradadas. Essa é a mesma definição da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD). No caso do Rio Grande do Norte, as regiões mais críticas são o Seridó, o Alto Oeste e o Sertão Central, onde o uso intensivo do solo, o desmatamento e a baixa cobertura vegetal tornam o ambiente mais vulnerável. “A seca e a escassez hídrica na região semiárida se tornaram eventos mais extremos, contribuindo ainda mais para o agravamento das áreas suscetíveis à desertificação”, alerta Robson Henrique, coordenador de Meio Ambiente e Saneamento da Semarh-RN.

O impacto da desertificação vai além do meio ambiente. Afeta diretamente a produção agrícola, a pecuária e a segurança alimentar, reduzindo a renda das famílias e pressionando os recursos hídricos. “A degradação dos solos e da biodiversidade leva à redução da qualidade de vida das populações afetadas e ameaça sistemas produtivos tradicionais”, destaca Robson Henrique.

Com a redução da cobertura vegetal e a erosão do solo, a fertilidade natural diminui e a capacidade de reter água é comprometida, o que torna as áreas rurais mais sensíveis à estiagem. Esse cenário tem levado à perda de produtividade e ao abandono de áreas agrícolas, gerando êxodo rural e vulnerabilidade social.

A Sudene reforça que a desertificação é um desafio socioeconômico: “Mais do que um problema ambiental, ela compromete os esforços de desenvolvimento sustentável em regiões vulneráveis, aprofunda desigualdades e intensifica a pobreza rural”, diz o Boletim do órgão.

Faern: problema prejudica a produção rural

O setor agropecuário também sente os efeitos diretos da desertificação. Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern), José Vieira, a perda de cobertura vegetal e a erosão dos solos comprometem as pastagens e a alimentação dos rebanhos, especialmente na pecuária de pequeno porte. “A escassez de água acelera a degradação das áreas produtivas e coloca em risco sistemas tradicionais de produção. É preciso ação coordenada para manter a atividade agropecuária viável e sustentável”, afirma.

Ele diz que o Sistema Faern/Senar tem sido protagonista na adoção de práticas de manejo sustentável. Por meio da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), a instituição acompanha 5 mil produtores em 163 municípios, orientando sobre gestão da água, conservação do solo e produção de forragem. “Em cinco anos, já foram realizadas 150 mil visitas técnicas presenciais diretamente nas propriedades, garantindo resultados como maior eficiência no uso dos recursos naturais, redução de perdas durante a estiagem e mais segurança produtiva para as famílias do campo”, pontua Vieira.

Além disso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RN) implanta viveiros de mudas nativas e forrageiras e capacita produtores para a recuperação de áreas degradadas. “Nosso objetivo é ampliar o alcance dessas práticas e integrar o setor produtivo às políticas públicas de combate à desertificação”, acrescenta o presidente.

Ele destaca, no entanto, que a integração entre os setores ainda é limitada. “Precisamos avançar na articulação com o governo estadual, municípios e Sudene para garantir que as políticas contemplem as especificidades do campo. Não há sustentabilidade ambiental sem que as famílias permaneçam no campo com condições de produzir e gerar renda.”

Governo intensifica ações e cria Fundo de Desertificação

Diante do avanço da degradação, o Governo do Rio Grande do Norte informou que vem ampliando as políticas públicas de prevenção e combate. A Política Estadual de Combate e Prevenção à Desertificação, criada pela Lei nº 10.154/2017, orienta as ações da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) e do Conselho Deliberativo de Combate à Desertificação, o único existente entre os estados do semiárido.

Robson Henrique, coordenador da Semarh, diz que entre as medidas em curso está a implantação de uma subcoordenadoria de mudanças climáticas no âmbito da secretaria, em convênio com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Essa estrutura vai atualizar dados ambientais, realizar monitoramento contínuo e desenvolver capacitações em manejo sustentável dos recursos naturais.

O Estado também regulamentou neste ano o Fundo Estadual de Desertificação, o primeiro do Brasil voltado exclusivamente para financiar projetos de recuperação de áreas degradadas e adaptação às mudanças climáticas. A meta é captar recursos para financiar ações em parceria com entidades locais e organizações civis. “Estamos trabalhando para atualizar o diagnóstico da desertificação e direcionar esforços para as regiões mais afetadas, articulando políticas de segurança hídrica e apoio à agricultura familiar”, detalha Robson Henrique.

As ações, segundo a pasta, incluem ainda investimentos na infraestrutura hídrica, com a conclusão de importantes obras, como o Complexo Hidrossocial Barragem Oiticica e o Projeto Seridó Norte. Associada a essa demanda, estão sendo recuperadas 28 barragens em várias regiões do estado. “Recentemente, também tivemos a conclusão das obras do Projeto de Integração do São Francisco – PISF no RN, o que proporcionou, neste ano, a chegada das águas do rio São Francisco pela região Seridó, desaguando no rio Piranhas na Barragem Oiticica, no município de Jucurutu”, acrescenta o coordenador.

Apoio técnico

A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) tem atuado para integrar políticas de mitigação em nível regional. A autarquia coordena a atualização dos Planos de Ação Estaduais (PAE) de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca em dez estados do Nordeste, incluindo o Rio Grande do Norte.

O coordenador de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente da Sudene, Victor Uchôa, defende que o envolvimento de comunidades e instituições locais é essencial: “A atualização do PAE-RN é estratégica para transformar diagnósticos em ações efetivas, garantindo que iniciativas como o Fundo Estadual de Combate à Desertificação tenham continuidade e resultados duradouros”.

Além da revisão dos planos, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) vem apoiando projetos que fortalecem a convivência com o semiárido, como a produção e distribuição de palma forrageira resistente à cochonilha e o estímulo à caprinovinocultura, atividades essenciais para a economia rural de áreas secas. O combate à desertificação visa também preservar a produção do interior do estado.

Desertificados
Municípios potiguares entre os 100 com maior percentual de desertificação severa

  • 8º Bom Jesus (84,80%)
  • 10º Passa e Fica (83,04%)
  • 18º Vera Cruz (75,08%)
  • 21º Brejinho (73,44%)
  • 22º Senador Elói de Souza (72,81%)
  • 48º Lagoa d’Anta (62,86%)
  • 54º Passagem (62,28%)
  • 63º Lagoa Nova (58,20%)
  • 66º Lagoa de Pedras (56,50%)
  • 68º Santo Antônio (56,18%)
  • 72º Pureza (54,67%)
  • 74º Lagoa Salgada (53,65%)
  • 75 º Severiano Melo (53,25%)
  • 80º Nova Cruz (51,58%)
  • 82º Pau dos Ferros (50,45%)
  • 85º Monte Alegre (49,88%)
  • 88º José da Penha (49,25%)
  • 90º Januário Cicco (48,80%)
  • 92º Major Sales (48,80%)
  • 96º Macaíba (47,30%)
  • 97º São José do Campestre (47,25%)
  • 99º Serra do Mel (46,62%)

 

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