Ícaro Carvalho
Repórter
Crimes como roubo, tráfico de drogas, homicídios,
furtos, associação criminosa, violência doméstica e estupro fazem parte da
lista dos 4.881 procurados com mandados de prisão no Rio Grande do Norte. Os
dados do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP), do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), mostram que eles respondem a 6.451 mandados no
Estado, o que indica que parte desses procurados acumula dois ou mais mandados
de prisão expedidos pela Justiça.
O quantitativo de procurados corresponde a 65% do número
de presos no regime fechado no Rio Grande do Norte, que é de 7.420, segundo
dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). A situação dos
mandados pendentes de cumprimento gerou a abertura de um Processo
Administrativo por parte do Ministério Público (MPRN) junto à Polícia Civil
para o início de uma correição da Delegacia Especializada em Capturas e
Polinter (Decap).
Segundo os dados do BNMP, os crimes com mais
mandados pendentes de cumprimento são roubo (1.709), tráfico de drogas (861),
homicídio (553), furto (532) e posse, porte, disparo e comércio de arma de fogo
(439). Segundo interlocutores das forças de segurança pública ouvidas pela TN,
há presos com mandados desde 2018.
No pedido de correição, o MP pede que se examine a
produtividade e capacidade operacional da unidade, com o intuito de expedir
orientações e normas administrativas pendentes a estabelecer ou aperfeiçoar as
rotinas de trabalho e metodologia de gestão. O pedido cita ainda “grande acervo
pendente” de mandados de prisão.
Segundo o promotor Wendell Beethoven Ribeiro Agra,
da 19ª Promotoria de Justiça, responsável por acompanhar o controle externo da
atividade policial, o pedido de correição foi instalado para se avaliar a
organização e a dinâmica de trabalho da unidade, além de questões de efetivo e
infraestrutura.
“Existe um volume de mandados de prisão bem acima da
capacidade operacional da delegacia”, cita. “Esse número é dinâmico, porque há
pessoas que têm mandados de prisão no RN e em outros estados. Há mandados que
quando vai se fazer um levantamento mais direcionado se vê que aquela pessoa já
foi presa em outro estado, que morreu”, acrescenta.
“[Pedimos] que a corregedoria visse as dinâmicas de
trabalho, o que pode ser melhorado. Não é só a Decap que cumpre mandados. Todas
cumprem. Umas cumprem mais que as outras. Mas uma que tem competência
específica é a Decap e dentro daquela montanha de mandados precisa-se ter algum
critério para que não se fique na discricionariedade do policial escolher o que
vai cumprir aleatoriamente”, cita.
O promotor de Justiça cita ainda que aguarda um
relatório a ser elaborado pela Corregedoria da Polícia Civil com as medidas a
serem feitas para aprimorar a situação da Decap. Uma vez em posse do relatório,
há a possibilidade da promotoria recomendar uma série de questões, como
ampliação de efetivo, melhoria em infraestrutura, entre outros pontos.
Segundo Wendell BeethovenRibeiro Agra, “a grande
maioria” dos mandados é de prisões definitivas, ou seja, acusados que foram
denunciados e julgados pela Justiça, mas seguem foragidos.
“É o que enfatizo: tem toda uma carga de trabalho de
quem investigou, processou e julgou, tem-se uma condenação, e no final das
contas pra aquilo virar um pedaço de papel? É preciso que se dê concretude
àquele trabalho todo que é cumprir a condenação”, cita Wendell Beethoven.
“É um trabalho muito importante porque temos essa
percepção advinda da experiência ao longo dos anos de que quem está na rua,
normalmente, matando, roubando, não são “novatos”. É gente que está nessa vida
há muito tempo. Se você tira essas pessoas de circulação, principalmente dos
crimes hediondos, termina-se reduzindo esse exército de criminosos que estão
nas ruas”, acrescenta Wendell Beethoven Ribeiro Agra, promotor de Justiça.
O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa
Social (Sesed), Coronel Francisco Araújo, repercutiu o pedido de correição. “É
excelente. Quanto mais houver transparência nas ações das instituições de
segurança pública, fiscalização, melhor ainda para otimizarmos os recursos e a
situação funcional. É bom para as instituições”, disse.
Em nota, a Polícia Civil do RN disse que “está
empenhada em otimizar o cumprimento dos mandados de prisão expedidos pelo Poder
Judiciário, em especial aqueles na Delegacia Especializada em Capturas e
Polícia Interestadual”. Sobre a inspeção da Corregedoria da PCRN feita na
unidade, a corporação disse que está sendo elaborado um Procedimento
Operacional Padrão (POP) para aprimorar a tramitação e o cumprimento dos
mandados, além de padronizar fluxos e intensificar o monitoramento.
“A DECAP também atuará de forma integrada com outras
unidades da instituição, promovendo o cumprimento coordenado de mandados, com a
realização de operações periódicas e simultâneas entre diversas delegacias.
Essa estratégia visa fortalecer a eficiência do sistema e reduzir, de maneira
contínua, o número de mandados em aberto no estado”, declarou.
Polícia divulga lista dos criminosos
mais procurados
A Polícia Civil do Rio Grande do Norte divulgou a
lista dos criminosos mais procurados do Estado. A listagem conta com suspeitos
de atuação em grupo de extermínio, contrabando, tráfico de drogas, receptação,
homicídio e até no apoio logístico da fuga dos presos da Penitenciária Federal
de Mossoró, em 2024.
O Top-9 foi divulgada nesta semana após a prisão de
um homem de 26 anos durante atividades da Operação Caronte, teve como alvo um
grupo criminoso armado, conhecido como “grupo de extermínio”, investigado por
envolvimento em uma série de execuções. Segundo a Divisão de Homicídios e
Proteção à Pessoa (DHPP), o grupo é suspeito da prática de, pelo menos, 41
homicídios em um período de seis meses, com atuação concentrada nas cidades de
Natal, São Gonçalo do Amarante e Extremoz.
Recentemente, um dos casos que chamou a atenção foi
o de Marcelo Johnny Viana Bastos, de 32 anos, conhecido como Marcelo Pica-Pau,
que era considerado o criminoso mais procurado do Rio Grande do Norte.
Assaltante de bancos, ele era apontado como o mentor intelectual e integrante
da facção criminosa Novo Cangaço e era foragido da Justiça. Ele morreu após
confronto com a polícia após mais de 24h de operação.
Projeto usa dados para cumprir mandados
no RN
Com alto número de mandados de prisão em aberto no
Rio Grande do Norte, um projeto tem dado auxílio no cumprimento de mandados no
Estado. É o Capturas Projeto Beagle, que conta com 1.030 prisões feitas desde o
início das atividades. A ideia é complementar o trabalho das forças de
segurança para prender criminosos.
Segundo o coordenador do Grupo Especial de Combate
ao Crime Organizado do Ministério Público do RN (Gaeco/MPRN), o promotor de
Justiça Mariano Lauria, o Beagle utiliza inteligência de dados, busca de
informações e inteligência e análise.
“Temos um painel e cruzamos todos os mandados
pendentes do BNMP com as nossas bases de dados. Ele faz esse cruzamento. Esse
painel analítico aponta uma série de indicadores e alertas. Dado um alerta, de
que há um foragido em determinada cidade do RN, vamos para a segunda fase com
equipes de inteligência de análise, para verificar se aquele alerta é coerente,
provável, e quando temos uma boa possibilidade desse dado ser positivo,
startamos equipes de campo, tanto do Gaeco e de parceiros, como Polícia
Militar, PRF. Dependendo de onde é o local, acessibilidade. Fazemos essa
captura por força própria ou com ajuda de outros parceiros”, explica.
Ainda segundo Mariano Lauria, o Brasil ainda convive
com dificuldades no esclarecimento de autoria de crimes, o que torna o
cumprimento de mandados uma etapa importante no combate à criminalidade.
“Quando tudo dá certo, houve a atuação eficiente dos órgãos, persecução penal,
polícia, MP e judiciário condenando o sujeito, ainda assim muita gente está nas
ruas mesmo tendo cometido crimes gravíssimos”, cita.
Ainda segundo o promotor, o projeto é finalista de
uma premiação anual do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que
premia iniciativas exitosas. “Com esse trabalho estamos tentando resguardar o
direito à segurança pública da sociedade. Cada condenado, homicida, latrocida,
estuprador, que anda na rua é um criminoso em potencial pronto para fazer uma
nova vítima. Recolhendo ele, colocando-o atrás das grades onde ele deveria
estar porque o Estado mandou ele estar, estamos resguardando o direito à
segurança pública”, finaliza.
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