quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Comerciantes denunciam abandono de obra do Centro Histórico de Natal

 


As obras de revitalização da Rua João Pessoa, no coração do Centro Histórico de Natal, seguem em compasso de espera e já se tornaram motivo de indignação para comerciantes, moradores e entidades ligadas ao bairro da Cidade Alta. O projeto, anunciado como um marco para estimular a retomada econômica da região, está há três anos em execução, mas sem conclusão. Além do trecho inacabado, entre a Avenida Rio Branco e a Rua Princesa Isabel, comerciantes relatam problemas estruturais e falhas visíveis na parte já concluída.

A Associação Viva o Centro classificou a situação como um retrato de abandono em uma das ruas mais tradicionais da capital potiguar. “É triste de se ver, mas é a realidade. Há três anos nossa principal via comercial está em obras. Esse trecho abandonado causa transtornos diários para comerciantes, clientes e moradores da Cidade Alta”, destacou a entidade em nota. A associação reforçou que o impacto vai além dos prejuízos imediatos: “A Rua João Pessoa sempre foi um ponto de vida, cultura e economia de Natal, mas hoje se encontra marcada pelo abandono. Está na hora das autoridades devolverem dignidade a essa rua histórica e tão importante para todos nós”, diz a nota.

O comerciante Márcio Ribeiro, que mantém seu negócio na via, relatou que a desorganização é constante. “Primeiro concluíram um lado e o outro ainda está em andamento. Chegaram a instalar um fio novo e os postes acendiam, mas depois parou. Agora ficam acendendo e apagando. É uma bagunça. Não há previsão, ninguém informa nada. A última vez que vi trabalhadores foi há dois meses”, disse. Para ele, a demora compromete a imagem do bairro: “Se você começa uma obra para trazer melhorias e não termina, só piora. Não tem como atrair pessoas para o Centro da cidade do jeito que está”.

Com um investimento de R$ 30 milhões, as obras foram iniciadas em maio de 2023 e preveem a transformação da via em um espaço prioritário para pedestres, com calçadão, alargamento de calçadas, iluminação em LED e paisagismo. O presidente da associação, Rodrigo Vasconcelos, afirmou que a frustração é crescente entre os lojistas. “Já são três anos nessa batalha desde o início. O que foi feito, melhorou bastante, porém o que está pendente está prejudicando mais do que o que está pronto. Atrelado a isso veio os problemas com a chuva”, disse.

Até dezembro do ano passado, o trecho entre as avenidas Princesa Isabel e Deodoro da Fonseca chegou a ser entregue. Contudo, menos de seis meses após a inauguração, falhas começaram a aparecer: buracos, blocos de concreto soltos e piso cedendo em vários pontos, sobretudo após o período chuvoso.

Além do impacto econômico, há preocupação com a segurança de quem circula na região. Francisco Ferreira, que trabalha em um escritório de contabilidade na Rua João Pessoa, relatou problemas nos trechos concluídos. “Se o pessoal andar pela calçada à noite, que é um pouco escuro, pode tropeçar nos buracos. O tijolo é colocado em cima da areia, sem cimento, e quando chove abre espaço e os blocos se soltam. É um risco para pedestres, especialmente idosos e crianças”, afirmou.

Os comerciantes lembram que a Cidade Alta já vem sofrendo com a saída de lojas tradicionais, como Americanas, C&A, Marisa e Magazine Luiza, que funcionaram por décadas no bairro. A redução do fluxo de clientes levou ao fechamento de dezenas de pequenos negócios, criando um efeito dominó que a revitalização prometia estancar, mas que, na prática, acabou sendo adiado.

Questionada, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), responsável pela obra, limitou-se a informar que estão sendo realizados “ajustes necessários das partes estrutural e elétrica do projeto em andamento”. Em nota, a pasta afirmou ainda que “o objetivo é garantir a qualidade e a segurança da obra” e que “cada etapa está sendo conduzida de forma responsável e técnica, para assegurar que os serviços prossigam com eficiência e padrão que o projeto merece”. No entanto, a secretaria não esclareceu prazos, nem os motivos para a paralisação.

Enquanto o poder público não apresenta respostas concretas, comerciantes e entidades temem que a demora consolide a imagem de decadência do bairro.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário