O Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do
Hospital Walfredo Gurgel “vive uma situação de guerra”, nas palavras do
coordenador Marco Almeida. O cenário atual, que envolve o atendimento dos
pacientes com queimaduras em um corredor improvisado da unidade, foi provocado
pelas obras de reforma do CTQ, iniciadas em agosto do ano passado e
interrompidas pouco depois. O secretário estadual de Saúde Alexandre Motta,
disse que a paralisação ocorreu por conta de descumprimentos por parte da
empresa responsável, o que gerou um distrato de contrato. A pasta pretende
contratar uma nova empresa com dispensa de licitação em 45 dias.
Nesta quinta-feira (21), representantes do Sindicato
dos Médicos do RN (Sinmed) e Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremern)
fizeram uma visita ao CTQ para entender a real situação. Após a visita, o coordenador
do Centro de Queimados falou, em entrevista coletiva, que o quadro é dramático.
Além da ausência de um espaço próprio para atendimento, faltam profissionais
para dar conta da alta demanda. “É uma situação de guerra, extremamente
delicada e nunca antes vista, onde a gente precisa se virar com o que tem. Os
pacientes ficam em um corredor, em leitos de enfermaria, que não são adequados.
O ideal é que o atendimento aconteça em um local fechado, mas nós não temos
onde fazer nosso ambulatório nem a reabilitação”, afirmou Marco Almeida.
O secretário Alexandre Motta esclareceu que a
empresa vencedora da licitação para a reforma do CTQ não cumpriu prazos
determinados em contrato e que, por isso, foi necessário o distrato. Não há
previsão para que a obra seja retomada. A Sesap prevê a contratação de uma nova
empresa dentro de um mês e meio, sem a necessidade de uma nova licitação para
poder agilizar o recomeço dos serviços. “No dia 15 de abril demos entrada em um
processo interno para a dispensa de licitação. Esse trâmite ocorreu e a
dispensa foi assinada na última quarta-feira (20) com a perspectiva de uma nova
contratação em aproximadamente 45 dias. O passo seguinte vai ser a obra em si,
porque parte dos recursos, vindos de emendas, já estão alocados”, pontuou
Motta.
Sobre a falta de profissionais, Alexandre Motta
informou que a Sesap está com um concurso em fase de homologação para absorver
2 mil profissionais de nível médio, dos quais parte será direcionada ao quadro
da unidade.
“A falta de profissionais está presente em todos os
hospitais da rede e também em outros setores do Walfredo. Não sei precisar de
quanto é a vacância no CTQ, mas o Conselho Regional de Enfermagem vai se juntar
à Sesap para fazer esse dimensionamento e a gente espera resolver essa questão
o mais breve possível”, falou.
“Fundo do poço”
As vistorias no Walfredo Gurgel não são as primeiras
feitas pelo Cremern recentemente nos hospitais da rede estadual. Na
quarta-feira, o Conselho esteve no Hospital João Machado depois de a TRIBUNA DO
NORTE divulgar o conteúdo de um relatório interno da Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar da unidade. Marcos Jácome, presidente do Cremern, defendeu
que haja celeridade na reforma do CTQ e na recomposição do quadro de pessoal do
Walfredo Gurgel
“Estruturalmente, o setor está no fundo do poço. E
temos também uma dificuldade de profissionais para trabalhar tanto na parte de
enfermagem quanto na parte médica. Há uma deficiência geral. É muito importante
que esse quadro se restabeleça rapidamente para voltar a oferecer à sociedade
um ambiente de tratamento adequado para pessoas queimadas graves”, sublinhou.
Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed, disse que a
falta de recursos e infraestrurura aumenta os riscos de mortalidade. Segundo
ele, faltam, além de médicos e enfermeiros, fisioterapeutas e terapeutas
ocupacionais. “Só em relação à parte médica, o setor precisa de, pelo menos,
seis profissionais”, falou. O presidente do Sinmed comentou que deve fazer uma
nova visita ao Walfredo, ainda sem data definida, para apurar denúncias de
dificuldade de insumos, superlotação no centro cirúrgico, bem como a suspensão
de cirurgias eletivas por falta de pagamento a fornecedores.
“Possivelmente, essa nova visita acontecerá no
início da próxima semana. A gente tem denúncias de que as salas ficam com
pacientes internados, o que não é permitido, por causa da superlotação do
centro cirúrgico, do Centro de Recuperação Pós-Operatório (CRO) e das UTIs.
Hoje [quinta-feira] na visita notamos que os corredores do hospital estão esvaziados,
mas a gente sabe que esse esvaziamento é algo temporário”, complementou
Ferreira.
Em resposta, o secretário Alexandre Motta disse que
a superlotação da unidade como um todo depende do fluxo de pacientes. “O
Walfredo tem 300 leitos e absorve, em média, 400 pacientes”, fala. “Como
medida, nós temos a Barreira Ortopédica, que reduziu as cirurgias de baixa
complexidade na ortopedia e o giro de leitos – liberação de pacientes para
outras unidades, onde eles podem dar continuidade ao tratamento iniciado no
Walfredo – que tem sido muito eficiente”, disse. Sobre as dificuldades com
insumos, Motta explicou que alguns antibióticos estão em falta por causa de
dificuldades da pasta em manter o pagamento a fornecedores em dia. Ele negou
que tenha havido suspensão das cirurgias eletivas.
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