O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN)
deu início nesta terça-feira (19), aos interrogatórios dos acusados, em
audiência de instrução, pela morte de 27 detentos ocorrido durante a rebelião
no Complexo Penitenciário de Alcaçuz, em janeiro de 2017. O episódio é
considerado o mais sangrento da história do sistema prisional potiguar e ganhou
repercussão nacional e internacional, sendo conhecido como “Massacre de
Alcaçuz”.
De acordo com o TJRN, o processo apresenta 15 réus,
sendo que um deles segue foragido. A audiência de instrução começou por volta
das 10h desta terça-feira (19), terminando às 16h30. Neste primeiro momento
foram realizados dez interrogatórios. A previsão é de que a audiência seja
retomada a partir das 13h desta quarta-feira (20), com o interrogatório dos
outros cinco réus que ainda restam, e assim, encerrando a fase de instrução.
A expectativa é de ouvir todos os interrogatórios
(14 réus e uma testemunha de defesa) até o final desta semana, a depender do
andamento das oitivas, segundo informou o Tribunal. Os depoimentos estão sob
coordenação da Unidade Judiciária de Delitos de Organizações Criminosas da
Comarca de Natal (Ujudocrim). O processo segue em segredo de Justiça.
Durante o processo, foram indicadas inicialmente 36
testemunhas, sendo 35 de acusação pelo Ministério Público (MPRN), enquanto as
defesas apontaram uma. Ao todo, sete testemunhas de acusação foram ouvidas e 28
dispensas. O TJ informou que restava o depoimento de uma testemunha de defesa,
que foi ouvida nesta terça-feira (19).
Encerrada a fase de instrução, será aberto o prazo
para apresentação das alegações finais, tanto da acusação quanto da defesa. Em
seguida, o juiz decidirá se os réus serão pronunciados, ou seja, levados a júri
popular.
Também caberá ao Tribunal analisar se o Estado do
Rio Grande do Norte pode ser responsabilizado por possíveis falhas na segurança
da unidade prisional à época. Entre os elementos em análise estão a entrada de
armas artesanais, celulares e coletes à prova de balas em Alcaçuz, o que teria
facilitado a ação dos presos.
Relembre o caso
O massacre começou no dia 14 de janeiro de 2017,
quando presos da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), armados, saíram do
Pavilhão 5 e invadiram o Pavilhão 4, dominado por membros do Sindicato do Crime
do RN, facção surgida de dissidentes do próprio PCC. A disputa entre os grupos
rivais expôs a fragilidade do sistema carcerário: na época, os pavilhões
estavam separados apenas por uma cerca de arame farpado.
A penitenciária, com capacidade para 620 internos,
abrigava mais de 1,2 mil presos no dia do motim. O conflito gerou cenas de
violência extrema, fugas em massa e destruição de parte da estrutura do
complexo. Durante dias, equipes de reportagem se revezavam nas dunas próximas à
penitenciária, de onde era possível observar o interior do presídio. As imagens
foram transmitidas ao vivo para todo o mundo.
O inquérito que apurou as responsabilidades levou
dois anos e dez meses para ser concluído, com 2.610 páginas distribuídas em 14
volumes foi remetido à Promotoria do Ministério Público do Estado (MPRN) de
Nísia Floresta em dezembro de 2019. Desde então, ninguém foi condenado e o
processo, cujo inquérito inicialmente indiciou 74 detentos pelas 27 mortes e
mais 132 por falso testemunho, segue em tramitação. A pandemia da covid-19
também teria ajudado a retardar o andamento do processo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário