A derrubada de um decreto presidencial pelo
Congresso Nacional alertou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para o
risco de o Judiciário se tornar o próximo alvo do Legislativo.
Uma ala do Supremo enxerga na revogação, pelo
Congresso, do decreto do governo Lula (PT) que aumentava alíquotas do IOF
(Imposto sobre Operações Financeiras) um prenúncio de novas investidas do
Legislativo sobre os demais Poderes. A possibilidade de o STF se tornar alvo é
avaliada como real por ministros.
Nesta sexta-feira (4), o ministro Alexandre de
Moraes determinou a suspensão dos decretos do IOF. A medida suspende tanto as
normas editadas pelo presidente Lula quanto os decretos legislativos aprovados
na Câmara e no Senado. Moraes também designou a realização de uma audiência de
conciliação.
Também nesta quarta, Lula adotou tom mais
conciliatório e disse ser “muito agradecido” pela relação com o Congresso.
“Até agora, eles aprovaram 90% das coisas que mandamos.
No governo de ninguém se aprovou tanta coisa. Sou grato ao Congresso. Quando
tem uma divergência é bom. Porque a gente senta na mesa, vai conversar, e
resolve, em uma mesa de negociação”, disse.
“Não quero nervosismo porque só tenho um ano e meio
de mandato e tem gente que pensa que o governo já acabou. Tem gente que já está
pensando em eleição. Eles não sabem o que eu estou pensando. Se preparem, se
tudo tiver como eu estou pensando, esse país vai ter pela primeira vez um
presidente eleito quatro vezes”.
Atualmente tramitam no Congresso propostas que
permitiriam derrubar decisões dos tribunais, incluindo o próprio STF e
o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), além do CNJ (Conselho
Nacional de Justiça).
Um projeto de decreto legislativo apresentado em
2024, por exemplo, prevê conferir ao Congresso Nacional a prerrogativa de
sustar, parcial ou totalmente, atos “exarados por outros Poderes e órgãos
independentes do poder público”. A proposta acabou arquivada.
Apesar disso, magistrados identificam na sua origem
um ânimo para a invasão de suas atribuições.
Um ministro do STF diz que os parlamentares ainda
“não atravessaram o Rubicão”. A metáfora, que se consagrou como referência a
uma decisão sem volta, alude à guerra que teve início quando Júlio César
atravessou o rio desse nome.
Ainda assim, por essa mesma avaliação, a derrubada
de um decreto do Executivo mostra que esse passo em relação ao Supremo ainda
pode acontecer.
Outro ministro reconhece que congressistas podem se
sentir mais confortáveis para propor projetos que esvaziem a competência do
Judiciário caso o STF mantenha a derrubada do decreto do IOF.
A AGU (Advocacia-Geral da União) encaminhou uma ação
à corte nesta terça-feira (1º) com pedido de declaração de constitucionalidade
do decreto presidencial que alterou as alíquotas. A iniciativa provocou mais um
capítulo de tensão entre os Poderes.
A decisão de ir ao Supremo foi antecipada pela Folha
na segunda (30). Na mesma ação, a AGU também requer, em caráter liminar, o
reconhecimento da inconstitucionalidade do decreto legislativo que suspendeu os
efeitos do ato do Executivo.
Moraes chamou a mesa de conciliação sobre o tema, e
a expectativa do governo Lula é a de que uma decisão ocorra até o dia 22 de julho,
quando deverá ser apresentado o relatório bimestral de avaliação das receitas e
despesas que serve como base da equipe econômica para o cumprimento da meta
fiscal.
Frustrada a perspectiva de arrecadação com aumento
de impostos sobre operações financeiras, o governo terá que promover novos
cortes, inclusive sobre emendas parlamentares. Integrantes do governo e do
Congresso apontam o dia 22 de julho como data-limite para essa decisão, ainda
que liminar (provisória) —o que permitiria a abertura de uma rodada de
negociações.
O encontro chamado por Moraes tem o objetivo de
buscar uma saída negociada para a crise.
Folhapress
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