Na guerra do Pix, o governo perdeu para 39 milhões
de brasileiros que estão no mercado informal de trabalho. Eles movimentam mais
de R$ 1,5 trilhão por ano. É a chamada economia subterrânea.
Toda essa gente usava dinheiro em espécie e passou a
utilizar o PIX para pagar e receber. Toda essa gente não quer saber de Receita
Federal fuçando na movimentação da sua conta bancária para arrecadar mais
bufunfa. Já bastam todas as dificuldades que ela tem de enfrentar no dia-a-dia.
Não subestimemos tanto os brasileiros, por favor:
não foi boataria ou fake news sobre taxação de operações por Pix que fizeram
despencar em um único dia o uso do mais prático e popular meio de pagamento.
O que causou a queda vertiginosa foi o medo de ser
chamado lá na frente pela Receita Federal e ser cobrado, eventualmente, por ter
movimentado mais de 5 mil reais mensais por meio de Pix. Se conversassem com o
povo nas ruas, governo e jornalistas teriam ouvido o verdadeiro motivo.
É justo acusar de sonegação a massa de cidadãos que
movimenta a economia subterrânea por ganhar o seu pão sem emprego formal, viver
de bicos, da mão para a boca, e ter como última das preocupações pagar imposto
a governo que não devolve em serviços decentes o dinheiro que arrecadou?
Antes de ser uma questão fiscal, o monitoramento de
pagamentos e recebimentos por Pix é uma questão moral. Os brasileiros pobres,
que se remediam com imensas dificuldades, não podem nem merecem ter o bafo de
governo no pescoço — e governo gastão, que distribui dinheiro público
entre privilegiados.
Vivemos em uma sociedade extremamente injusta, que
não cria oportunidades iguais para que as pessoas se desenvolvam nas suas
diferenças. Vivemos em um país com elite patrimonialista. Vivemos em um país
que, sem a economia subterrânea, produziria outros milhões de esfomeados. Se
não é para resolver nada disso, a única coisa decente a ser feita é deixar os
brasileiros em paz. Deixem o povo ganhar uma.
Mario Sabino – Metrópoles
Nenhum comentário:
Postar um comentário