Um em cada três professores de escolas públicas não tem a formação adequada para a disciplina que leciona. Considerando tanto as escolas públicas quanto as privadas, 12,8% dos docentes não possuem sequer graduação. Os dados são do Anuário Brasileiro da Educação Básica, lançado nesta quarta-feira (13) pela organização Todos Pela Educação, a Fundação Santillana e Editora Moderna.
A publicação reúne dados públicos sobre educação
brasileira do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do
Ministério da Educação, além de análises das informações.
O anuário aponta que, ao todo, 68% dos professores
da rede pública têm formação adequada na disciplina da qual dão aula na
educação infantil e no ensino médio. Nos anos iniciais do ensino fundamental,
do 5º ao 9º ano, essa porcentagem sobe para 79%. Mas, nos anos finais, do 6º ao
9º ano, cai para 59% dos docentes formados nas áreas em que lecionam.
“Para a gente considerar um professor como tendo a
formação adequada para a disciplina que leciona, ele precisa ser licenciado
naquela área. Então, vamos pensar um professor de química, por exemplo, no
ensino médio, só é considerado adequado o professor que é licenciado em
química. Se ele é, por exemplo, licenciado em física e está dando aula de química, não
é considerado adequado”, explica o gerente de Políticas Educacionais do Todos
Pela Educação, Ivan Gontijo.
O levantamento mostra ainda que, no cenário
nacional, considerando tanto as escolas públicas quanto as privadas, 12,8% dos
docentes não possuem graduação. O percentual é ainda maior na educação
infantil, chegando a 20,5% dos professores sem graduação. Na outra ponta, o
ensino médio é a etapa com maior proporção de profissionais com algum nível de
graduação, chegando a 96%.
Também considerando tanto as redes públicas quanto
as privadas, a porcentagem de professores com licenciatura é 84,5%.
Diante desse cenário, Gontijo cita algumas
possíveis soluções, entre elas garantir que professores tenham a jornada
adequada em uma escola só e estimular que cursem licenciaturas nas áreas em que
atuam.
“Tem algumas soluções possíveis. Uma delas é,
principalmente, garantir uma alocação de professores que consiga fazer com que
deem aula em uma escola só e tenham cargas horárias completas. Isso é muito
importante para garantir adequação. E também ofertar segundas licenciaturas
para professores que já estão nas redes”, defende.
Salário
Segundo o levantamento, em 2023 o rendimento
médio mensal dos profissionais do magistério das redes públicas com ensino
superior chegou a R$ 4.942, que representa 86% do rendimento de outros
profissionais assalariados com o mesmo nível de escolaridade, que é R$ 5.747.
Esse valor representa um aumento em relação ao que
era pago em anos anteriores. Em 2013, os professores ganhavam 71% do rendimento
de outros profissionais.
Enquanto o rendimento apresentou melhora, o regime
de contratação sofreu precarizações. Segundo a
publicação, a modalidade de contratação em formato temporário disparou de 2013
para 2023 na maioria das redes estaduais, que hoje contam com mais da
metade de seu corpo docente contratada como temporária.
“Cada vez mais as redes têm contratado professores
temporários, inclusive as estaduais hoje têm mais professores temporários que
efetivos”, diz Gontijo. “Então, a primeira tendência é um pouco mais positiva,
olhando essa questão salarial, e a dos temporários realmente é um efeito bem
negativo dos últimos anos”, acrescenta.
Carreira e formação
Outro fator importante para esses profissionais é a
existência e a adoção de critérios de um Plano de Cargo e Carreira. Segundo o
anuário, 96,3% das redes municipais e 100% das estaduais têm esse
instrumento. Entre os municípios, 82,9% preveem expressamente o limite de dois
terços da carga horária para o desempenho das atividades de interação com os
estudantes, deixando um terço da carga horária para planejamento de aula e
outras atividades docentes, como previsto na Lei do Piso Nacional do
Magistério. Entre os estados, 85,2% preveem esse limite.
Em relação à formação, o estudo mostra que o Brasil
tem quase dois terços de seus licenciandos se formando a distância, o
equivalente a 67%. Em 2023, foi superada a marca de 1,1 milhão de matrículas no
ensino superior em cursos voltados à docência nessa modalidade. Em 2013, esse
número era menos da metade, 446 mil matrículas.
“Embora a educação a distância tenha contribuído
para a democratização do acesso ao ensino superior, sua eficácia na formação
docente ainda é debatida”, diz a análise no relatório, do coordenador-geral do
Movimento Profissão Docente, Haroldo Corrêa Rocha.
Leis e políticas públicas
A valorização docente está prevista em lei, no Plano
Nacional de Educação (PNE), cuja vigência foi prorrogada até o final de 2025.
Entre as metas previstas para serem cumpridas em todo o país está garantir que
todos os professores da educação básica tenham formação específica de
nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que
atuam.
Além disso, também está previsto na lei que o país
deve equiparar o rendimento médio dos professores ao dos demais profissionais
com escolaridade equivalente. Essa meta deveria ter sido cumprida até 2020.
O ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que
o governo vai lançar, em novembro, um conjunto de ações para valorizar os
professores brasileiros da educação básica. Entre as medidas está o Pé-de-Meia para as licenciaturas, ou seja, bolsas para
apoiar estudantes que ingressem na universidade para seguir a carreira docente.
O Anuário
Brasileiro da Educação Básica 2024 está disponível na íntegra na
internet.
Fonte: Agênica
Brasil
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