Jair Sampaio
Os matadouros públicos de
Caicó e Jardim do Seridó, ambos na região do Seridó do Rio Grande do Norte,
foram includídos em denúncia feita pela organização internacional Mercy For
Animals (MFA) ao Ministerio Público Federal (MPF) esta semana. De acordo com o
relatório da MFA, os locais “violam instruções normativas do Ministério da
Agricultura, que desde 2000 impõe o chamado Abate Humanitário”.
De acordo com as
instruções, é vedado o uso de instrumentos agressivos e estabelecendo o emprego
de técnicas de insensibilização “a fim de evitar dor e sofrimento
desnecessários” aos animais. Também não é permitido que as espécies sejam
espancadas, agredidas ou erguidas por patas, chifres, pelos, orelhas e cauda,
entre outras regras.
De acordo com investigação
feita pela MFA, nos matadouros públicos de Caicó e Jardim do Seridó, no RN; e
nos das cidades de Quixeramobim, Pentecoste e Pacoti, no Ceará; foram flagadas
situações como animais sendo abatidos com marretadas na cabeça, sendo mortos
com machados e também a morte de vacas prenhes. Além disso, a MFA acusa os
matadouros de funcionarem em “ambientes insalubres potencialmente danosos à
saúde humana”.
A investigação foi feita
por meio de pessoas que conseguiram se infiltrar nos matadouros e fizeram
inclusive vídeos com câmeras escondidas. O trabalho foi feito entre março e
abril do ano passado.
Os endereços nos quais
foram filmadas as situações denunciadas são destinados aos abates de bovinos,
suínos e caprinos. Um dos locais chegou a matar 41 animais em um único dia com
uso de marreta, o que é proibido pela Lei do Abate Humanitário. Também há
funcionários que relatam “preferir trabalhar com machados”, outra prática
vetada.
Nos diálogos filmados, um
trabalhador chega a reconhecer que o abatedouro não segue as normas da
Superintendência cearense do Meio Ambiente e que não tem uma câmara fria para o
acondicionamento das carnes, o que já havia motivado uma interdição.
A vice-presidente jurídica
da MFA no Brasil, Paula Cardoso, afirmou que “as denúncias que encaminhamos ao
MPF são fundamentadas no entendimento de que as condições documentadas nos
abatedouros em questão podem constituir sérias violações aos direitos dos
animais e também podem causar danos graves à saúde das pessoas, tanto do
público consumidor quanto dos trabalhadores”.
O MPF informou que as
denúncias da MFA foram remetidas às Procuradorias do Rio Grande do Norte e do
Ceará, onde passarão por análise preliminar para, depois, decidir-se pela
abertura ou não de inquérito. O Ministério da Agricultura afirmou que existem
matadouros municipais cujo funcionamento e fiscalização são realizados pelas
próprias prefeituras. Ainda assim, observou que todos os abatedouros devem
atender às exigências previstas pelas leis federais.
O que dizem as prefeituras
O prefeito de Caicó, Judas
Tadeu Alves dos Santos (PSDB), afirmou que está ciente das necessidades
estruturais do abatedouro e que muitas tentativas de resolução dos problemas
têm sido realizadas, como um TAC firmado com o Ministério Público potiguar em
2021, mas negou parte dos apontamentos, como a ausência de pistola de
insensibilização.
Ele acrescentou que o
município é comprometido com a causa animal, mas que não tem recursos para
construir um novo abatedouro e, por isso, vem adotando medidas paliativas para
minimizar riscos.
O secretário municipal de
Agricultura, Meio Ambiente e Pesca de Jardim do Seridó, Iago Silva de Oliveira
Araújo, informou que o município acaba de inaugurar um novo abatedouro público
municipal, tendo sido firmado um TAC para manter o antigo em funcionamento até
a conclusão da obra, o que não deve ser mais necessário em 15 dias. Segundo
ele, o equipamento recém-aberto tem todo o maquinário destinado a cada etapa do
abate, desossa e cortes.

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