Já imaginou um árbitro de futebol com tornozeleira
eletrônica? A cena registrada em Natal chamou atenção nas redes sociais nos
últimos dias. A postagem em tom de humor, feita pelo influencer Dinho
Nascimento, brinca sobre o "acessório" peculiar escondido pelo meião:
"Os juízes da minha cidade são diferenciados" (veja abaixo). O
árbitro é Rhamon da Silva Bandeira, 29 anos. Com sorriso no rosto e cabeça
erguida, ele busca um recomeço na carreira que havia sido interrompida por
conta das drogas.
Ao ge, Rhamon contou que foi preso em
2021. Solto em maio de 2023, é obrigado a usar a tornozeleira e tem reaprendido
a "renascer a cada queda".
Em 2021, mais precisamente no dia 3 de
novembro, eu fui preso devido a um assalto que fiz. Usei drogas. Foi um período
de cerca de um mês. Me envolvi com gente errada, infelizmente. Nunca tinha
feito isso na minha vida, e aconteceu comigo. Eu acabei me afundando na cocaína
e isso me levou a fazer esse assalto - relatou.
- Eu fui preso, passei um ano, seis meses, 28 dias e
30 minutos de reclusão. No dia 30 (de outubro), vai fazer cinco meses que eu
estou na rua - destacou.
Questionado sobre como lida com a reação das pessoas
quanto ao uso da tornozeleira, Rhamon demonstra tranquilidade e a prova é o
vídeo que viralizou, em que ele mesmo mostra o equipamento por baixo do meião.
No início eu fiquei com receio, com medo de utilizar
tornozeleira, porque muita gente critica, acha que não há mudança nas pessoas.
E eu sou um exemplo totalmente ao contrário de que há mudança, sim. Quando você
quer correr pelo certo, você corre. No início foi muito difícil lidar com isso,
mas hoje em dia eu sou super tranquilo, levo na brincadeira, levo bem na
esportiva".
— Rhamon da Silva Bandeira, árbitro e enfermeiro
Rhamon não esconde que enfrenta "alguns tipos
de preconceito" quando a tornozeleira fica visível.
- Às vezes, eu vou a alguns locais, vou a um
supermercado, e eu quero ir 'normal', de bermuda, aí o segurança fica
olhando, acompanhando. Eu levo na tranquilidade. Agora, sim, a partir do
momento que interfere na minha vida pessoal, de alguém que chegar a criticar
verbalmente ou apontando, aí eu não acho legal. Aí eu coloco a pessoa no lugar
dela. Eu sei me impor. O meu erro eu estou pagando e eu estou devendo à
justiça. Não devo nada a ninguém. Ninguém é capaz de me julgar ou prejulgar até
porque quem faz isso mesmo hoje é a justiça do homem, utilizando essa
tornozeleira, e, acima de tudo, a justiça de Deus - completou.
Com a agenda voltada para jogos de campeonatos
amadores, de onde tira seu sustento, ele revelou que também está se
especializando em X1, modalidade em constante crescimento no Nordeste e muito
forte no Rio Grande do Norte.
Fora dos gramados, Rhamon é enfermeiro e faz estágio
na Unidade Básica de Saúde no Alto da Torre, no bairro da Redinha, onde reside.
- Hoje, eu sou uma pessoa totalmente realizada
apesar do uso dessa tornozeleira. Trabalho na minha profissão. Não é
remunerado, é apenas um estágio. No momento atual, o que eu faço é só arbitrar
jogos - disse.
Liberação especial para os jogos
O árbitro vai seguir com a tornozeleira pelo menos
até 20 de dezembro e espera ter a pena reduzida.
- Estou trabalhando, tem os jogos também. Estou
cumprindo direitinho o meu horário, às 20h tenho que estar em casa, exceto
quando eu vou pros jogos - lembra.
Rhamon tem os passos acompanhados pela Central de
Monitoramento Eletrônico de Tornozeleiras (Ceme), da Secretaria de Estado da
Administração Penitenciária, que faz a liberação extraordinária para os jogos
noturnos.
Quando eu vou pros jogos à noite eu faço um
contrato. Eu faço um contrato de jogo, o dono do campo assina, eu encaminho pro
Ceme e eles liberam. Quando eu chego lá no local, eles mapeiam a localidade e
me liberam. E aí quando termina o jogo, eles falam 'direto pra casa'. Quando
chego em casa, entro em contato com eles informando que eu já estou em casa e
fica tudo certinho".
— Rhamon Bandeira, árbitro e enfermeiro
Rhamon é árbitro assistente desde 2015, formado pela
Federação Norte-rio-grandense de Futebol. Ele chegou a trabalhar em jogos
oficiais dos campeonatos de base e do feminino. Está afastado do quadro de
arbitragem da FNF, mas espera retornar em breve.
- No momento não estou federado. Todo ano tem uma
prova. Estou treinando para fazer a prova no final deste ano para ficar apto
para os campeonatos de 2024 - declarou.
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