segunda-feira, 21 de novembro de 2022

NATAL - Venda de carnes em feiras descumpre medidas sanitárias

 Tribuna do Norte

Sem refrigeração e utensílios de higiene, a venda de carnes e aves na feira livre do Alecrim, em Natal, é feita sem fiscalização sanitária e em desconformidade com o Decreto Municipal nº 7676/05, conforme constatou a reportagem da TRIBUNA DO NORTE no sábado (19). No local, agentes da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) faziam a verificação dos espaços entre as bancas, mas não havia fiscalização por parte da Vigilância Sanitária (Covisa). As carnes bovinas, suínas e aves ficam expostas a insetos nas barracas e são manipuladas sem equipamentos de higiene, como luvas de proteção. Em algumas bancas, o dinheiro e a carne são manipulados com a mesma mão ao mesmo tempo.

A aposentada Maria Lúcia, que frequenta a feira livre todos os sábados, diz que se preocupa com a qualidade e higiene das carnes. “Aqui eu compro mais frutas, legumes e verduras. As carnes a gente tem que ter cuidado por causa de contaminação, mas eu gosto muito de vir à feira, pesquisar, conversar com o povo, é muito bom. Moro em Mãe Luíza, mas gosto de vir aqui toda semana no Alecrim porque se você for no supermercado, mercadinho, os preços estão lá no alto, aqui a gente aproveita os preços melhores”, comenta.

Um estudo, publicado pela revista de nutrição e vigilância em saúde Nutrivisa, no ano de 2007, já mostrava preocupação em relação às condições de infraestrutura e higiene. A pesquisa avaliou itens como equipamentos de refrigeração, condições dos equipamentos, conservação dos utensílios, higiene dos utensílios, lixeiras, lavatórios para as mãos, contato direto com o dinheiro, hábitos como tossir, fumar ou espirrar, desossa da carne, utilização de uniforme, proteção para os cabelos, entre outros.

“Observou-se que em relação ao quesito infraestrutura, os itens equipamentos de refrigeração, temperatura de refrigeração, higiene dos utensílios, lixeiras e lavatórios para as mãos encontram-se não conforme em todas as barracas avaliadas, totalizando cinco dos sete itens analisados nas feiras livres. Como não havia equipamento de refrigeração em nenhum dos estabelecimentos participantes da pesquisa, apenas a balança foi avaliada no quesito equipamentos”, diz trecho da pesquisa “Condições higiênico-sanitárias da carne bovina vendida em feiras livres de Natal, Rio Grande do Norte”.

A manipulação do dinheiro também foi outro aspecto que chamou a atenção dos pesquisadores. “Em todas as barracas avaliadas, possuindo um ou mais manipuladores, ambos entravam em contato com o dinheiro e manipulava a carne ao mesmo tempo”, relata o documento. “Foi observado que parte dos manipuladores tinham o hábito de manusear o dinheiro durante a manipulação de produtos cárneos. Tal ocorrência propicia de mais a contaminação dos alimentos”, complementa.

Os resultados encontrados pelos pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Potiguar (UnP) permanecem atuais na feira do Alecrim, onde carnes bovinas e suínas são vendidas sem refrigeração adequada, penduradas em ganchos sob temperatura ambiente, expostas a insetos e ao contato direto com as mãos de clientes e feirantes.

Com uma grande quantidade de microrganismos, a carne é um dos alimentos mais suscetíveis a contaminação, devido suas características nutricionais. As práticas encontradas nas feiras desrespeitam a legislação municipal, que estabelece que a venda de produtos perecíveis de origem animal em feiras livres deve observar critérios específicos, como a obrigatoriedade de equipamento de refrigeração para os bovinos, suínos, caprinos, ovinos e aves. O decreto também estabelece que os manipuladores ficam proibidos de “fumar, manipular dinheiro ou praticar outros atos que possam contaminar os citados alimentos, durante a sua manipulação”.

O documento também determina que o cumprimento da lei deve ser fiscalizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o que não foi observado no sábado, na Feira do Alecrim. Natal tem outras 20 feiras livres espalhadas por bairros das quatro regiões e que acontecem de domingo a domingo.

Venda de carne moída tem novas regras

As novas regras para venda de carne moída em frigoríficos já estão em vigor desde 1º novembro. De acordo com portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a medida é direcionada para estabelecimentos e indústrias produtores de carne moída que sejam registrados junto ao Serviço de Inspeção Federal (SIF) e ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-POA).

Segundo a pasta, a medida tem objetivo de modernizar processos produtivos, procedimentos industriais e assegurar a segurança dos produtos. Os estabelecimentos terão prazo de um ano para se adequar às condições previstas na portaria. A medida não se aplica aos supermercados e açougues que vendem direto ao consumidor.

A carne moída deverá ser embalada imediatamente após a moagem, devendo cada pacote do produto ter peso máximo de 1 quilo. Não é permitida a obtenção de carne moída a partir de moagem de carnes oriundas da raspagem de ossos ou obtidas de quaisquer outros processos de separação mecânica dos ossos. É ingrediente obrigatório na fabricação de carne moída, a carne obtida das massas musculares esqueléticas. Já a porcentagem máxima de gordura do produto deverá ser informada no painel principal, próximo à denominação de venda.   

A portaria estabelece ainda que a matéria-prima para fabricação do produto deve ser exclusivamente carne, submetida a processamento prévio de resfriamento ou congelamento. É proibida a utilização de carne industrial para a fabricação de carne moída e a obtenção de carne moída a partir de moagem de miúdos. A carne moída resfriada deverá ser mantida entre 0°C e 4°C e a carne moída congelada à temperatura máxima de -12°C. O produto não poderá sair do equipamento de moagem com temperatura superior a 7°C e deve ser submetido imediatamente ao resfriamento ou ao congelamento rápido.

 


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