O Ministério Público do Estado do Rio Grande do
Norte (MPRN) obteve a decretação de medidas cautelares de sequestro, bloqueio e
indisponibilidade de bens no valor de até R$ 145 milhões em investigação que
apura um esquema de exploração irregular de apostas de quotas fixas – as bets
-, inicialmente amparado por uma lei municipal em Bodó.
A investigação do MPRN foca na apuração dos crimes
de lavagem de dinheiro, induzimento à especulação, contravenção penal
(exploração de jogo de azar e loteria não autorizada), associação criminosa e
crimes contra as relações de consumo. O esquema utilizava como fachada a
agência municipal LOTSERIDÓ, criada pelo Município de Bodó, para conferir uma
aparência de legalidade a dezenas de plataformas de apostas online.
A atuação do MPRN se deu devido à flagrante
ilegalidade das operações, uma vez que Municípios não podem legislar sobre
loterias e apostas de quota fixa. A medida cautelar foi considerada urgente
diante do risco concreto de fuga de capitais, sonegação e dissipação
patrimonial, visando proteger o ressarcimento dos danos causados pela atividade
ilícita e a efetividade da persecução penal.
As conclusões do MPRN se fundamentam, entre outros
argumentos, no entendimento consolidado do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre
a matéria. Julgados vinculantes da Corte, como o proferido na Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 337, que estabelecem que
Municípios não podem explorar serviços de aposta nem de loterias.
O MPRN apurou a movimentação expressiva de recursos
financeiros. Foi demonstrado, pela própria Prefeitura de Bodó/RN, em
manifestações públicas, que as empresas arrecadaram cerca de R$ 415 milhões em
apenas 10 meses de funcionamento, baseado no repasse de 2% da receita bruta
(GGR) à Prefeitura de Bodó (cerca de R$ 8 milhões). A análise revelou, ainda, o
uso de “laranjas”, indivíduos com perfis socioeconômicos incompatíveis com os
valores movimentados.
As investigações apontam para a participação de
diversas empresas, muitas delas com indícios de serem de fachada, registrando
endereços inexistentes ou continuando a operar mesmo após terem sido baixadas
na Receita Federal. Além disso, estão sendo investigados crimes contra as
relações de consumo, nos quais as empresas utilizavam a falsificação digital
institucional (injeção de códigos em domínios de boa reputação, como “.gov.br”,
“edu.br”, para conferir falsa credibilidade) para induzir consumidores a erro.
A ação do MPRN visa interromper um esquema que lesa
consumidores e promove a desinformação sobre a legalidade das apostas, sem
quaisquer preocupações com a prevenção à lavagem de dinheiro ou com a saúde
mental dos apostadores. A indisponibilidade dos ativos financeiros, veículos e
bens imóveis serve para garantir a futura reparação dos danos e viabilizar o
confisco dos valores obtidos ilicitamente.
A pedido do MPRN, a Justiça potiguar determinou o
bloqueio de saldos em contas (correntes, poupança, investimento) e aplicações
financeiras, o bloqueio de planos de previdência via Susep, a indisponibilidade
de bens imóveis pelo CNIB e o bloqueio de veículos por meio do Renajud.
Com as medidas cautelares decretadas, o MPRN busca a
cessação imediata das infrações penais e assegura que os ativos utilizados ou
provenientes dos crimes de lavagem de dinheiro sejam bloqueados.
Esse texto foi copiado do Blog do Gustavo Negreiros

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