quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Opinião do Estadão: Lula vai para a sua enésima eleição

 


Em sua recente passagem pela Indonésia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou em público, pela primeira vez de forma categórica, o que ninguém duvidava: será candidato à reeleição em 2026. Desde que voltou ao Palácio do Planalto, em janeiro de 2023, o País foi obrigado a ouvir sua cantilena eleitoreira como modo permanente de governar, invariavelmente modulada pelo jogo de cena de quem parecia estar hesitante sobre disputar um quarto mandato. Mas, em geral, ele condicionava ter seu nome na cédula eleitoral no ano que vem a não ter problemas de saúde. Agora, apressando-se em dizer que, aos 80 anos, está “com a mesma energia” de quando tinha 30, e certamente empolgado com a recuperação da popularidade que havia perdido durante boa parte do atual mandato, o petista foi claríssimo: “Eu vou disputar um quarto mandato. (.) Estou preparado para disputar outras eleições”.

É óbvio que, como presidente da República e político que há mais de 40 anos não sai dos palanques, Lula tem todo o direito de concorrer. A pergunta é: para que Lula quer mais um mandato?

A esta altura, o Brasil, já pós-graduado em Lula, sabe bem qual é a resposta: só interessa ao petista a preservação do poder em si mesmo. É improvável que o octogenário Lula surpreenda o País em seu eventual quarto mandato, que provavelmente será o mesmo governo medíocre de sempre, adornado com seu falatório populista e suas medidas eleitoreiras de curtíssimo prazo, mandando às favas, como de hábito, a responsabilidade fiscal. Será, portanto, apenas o exercício da vaidade de quem se crê insubstituível.

O problema é que o Brasil de 2027 exigirá um governo comprometido com o enfrentamento de uma crise fiscal de grande magnitude. Isso significa que esse novo governo terá de promover reformas profundas e potencialmente impopulares, como na Previdência e no serviço público, além de liderar politicamente o desengessamento do Orçamento, hoje capturado por interesses paroquiais de parlamentares e comprometido com despesas obrigatórias que crescem em progressão geométrica. O cenário de despesas que crescem num ritmo muito superior à expansão da economia, num país com baixíssima taxa de poupança e com produtividade medíocre, pressiona a inflação, mantém os juros na estratosfera e praticamente inviabiliza os investimentos necessários para o desenvolvimento sustentável e de longo prazo do Brasil.

Lula não tem a menor vocação para enfrentar nenhuma dessas questões. Pelo contrário: acredita piamente – e não temos razão para esperar que mude de ideia a esta altura – que o País só não cresce porque “as elites” estão confortáveis com a renda auferida pelos juros altos, ignorando o fato de que é a gastança de seu governo – numa combinação de oferta irresponsável de crédito subsidiado e de gastos exorbitantes, muitos deles à margem do Orçamento – que leva o Banco Central ao aperto monetário.

Um quarto governo Lula, portanto, tem tudo para ser no mínimo tão ruim quanto este. E o presidente não esconde que, se as urnas lhe sorrirem mais uma vez, pretende ser ainda mais radical. Se no primeiro mandato Lula comprometeu-se a respeitar os fundamentos econômicos na famosa Carta ao Povo Brasileiro, e neste terceiro mandato acenou com a formação de uma “frente ampla” pela democracia, agora o presidente dá a entender que será mais esquerdista do que nunca.

O mais recente sinal disso foi a nomeação do ex-arruaceiro Guilherme Boulos para ser ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que terá a missão, em suas palavras, de “colocar o governo na rua”. Não se sabe se, com isso, Lula ungiu Boulos como seu sucessor, mas o fato é que sua presença no governo e na campanha dá o tom de confronto que o presidente decidiu adotar contra o “andar de cima”, numa reedição tosca da luta de classes.

E assim vamos. Dado que os possíveis adversários de Lula são hoje reféns da família Bolsonaro, incapazes de decidir se o mais importante é bajular o ex-presidente golpista ou derrotar o petista, compreende-se a confiança lulista – e, quanto maior a confiança de Lula, pior para o Brasil.

Opinião do Estadão

 

 

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