Em sua recente passagem pela Indonésia, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva confirmou em público, pela primeira vez de forma
categórica, o que ninguém duvidava: será candidato à reeleição em 2026. Desde
que voltou ao Palácio do Planalto, em janeiro de 2023, o País foi obrigado a
ouvir sua cantilena eleitoreira como modo permanente de governar,
invariavelmente modulada pelo jogo de cena de quem parecia estar hesitante
sobre disputar um quarto mandato. Mas, em geral, ele condicionava ter seu nome
na cédula eleitoral no ano que vem a não ter problemas de saúde. Agora,
apressando-se em dizer que, aos 80 anos, está “com a mesma energia” de quando
tinha 30, e certamente empolgado com a recuperação da popularidade que havia
perdido durante boa parte do atual mandato, o petista foi claríssimo: “Eu vou
disputar um quarto mandato. (.) Estou preparado para disputar outras eleições”.
É óbvio que, como presidente da República e político
que há mais de 40 anos não sai dos palanques, Lula tem todo o direito de
concorrer. A pergunta é: para que Lula quer mais um mandato?
A esta altura, o Brasil, já pós-graduado em Lula,
sabe bem qual é a resposta: só interessa ao petista a preservação do poder em
si mesmo. É improvável que o octogenário Lula surpreenda o País em seu eventual
quarto mandato, que provavelmente será o mesmo governo medíocre de sempre,
adornado com seu falatório populista e suas medidas eleitoreiras de curtíssimo
prazo, mandando às favas, como de hábito, a responsabilidade fiscal. Será,
portanto, apenas o exercício da vaidade de quem se crê insubstituível.
O problema é que o Brasil de 2027 exigirá um governo
comprometido com o enfrentamento de uma crise fiscal de grande magnitude. Isso
significa que esse novo governo terá de promover reformas profundas e potencialmente
impopulares, como na Previdência e no serviço público, além de liderar
politicamente o desengessamento do Orçamento, hoje capturado por interesses
paroquiais de parlamentares e comprometido com despesas obrigatórias que
crescem em progressão geométrica. O cenário de despesas que crescem num ritmo
muito superior à expansão da economia, num país com baixíssima taxa de poupança
e com produtividade medíocre, pressiona a inflação, mantém os juros na
estratosfera e praticamente inviabiliza os investimentos necessários para o
desenvolvimento sustentável e de longo prazo do Brasil.
Lula não tem a menor vocação para enfrentar nenhuma
dessas questões. Pelo contrário: acredita piamente – e não temos razão para
esperar que mude de ideia a esta altura – que o País só não cresce porque “as
elites” estão confortáveis com a renda auferida pelos juros altos, ignorando o
fato de que é a gastança de seu governo – numa combinação de oferta
irresponsável de crédito subsidiado e de gastos exorbitantes, muitos deles à
margem do Orçamento – que leva o Banco Central ao aperto monetário.
Um quarto governo Lula, portanto, tem tudo para ser
no mínimo tão ruim quanto este. E o presidente não esconde que, se as urnas lhe
sorrirem mais uma vez, pretende ser ainda mais radical. Se no primeiro mandato
Lula comprometeu-se a respeitar os fundamentos econômicos na famosa Carta
ao Povo Brasileiro, e neste terceiro mandato acenou com a formação de uma
“frente ampla” pela democracia, agora o presidente dá a entender que será mais
esquerdista do que nunca.
O mais recente sinal disso foi a nomeação do
ex-arruaceiro Guilherme Boulos para ser ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, que terá a missão, em suas palavras, de “colocar o governo na
rua”. Não se sabe se, com isso, Lula ungiu Boulos como seu sucessor, mas o fato
é que sua presença no governo e na campanha dá o tom de confronto que o
presidente decidiu adotar contra o “andar de cima”, numa reedição tosca da luta
de classes.
E assim vamos. Dado que os possíveis adversários de
Lula são hoje reféns da família Bolsonaro, incapazes de decidir se o mais
importante é bajular o ex-presidente golpista ou derrotar o petista,
compreende-se a confiança lulista – e, quanto maior a confiança de Lula, pior
para o Brasil.
Opinião do Estadão

Nenhum comentário:
Postar um comentário