Durante os anos finais do regime militar, o general
João Baptista Figueiredo, então presidente da República, promoveu a abertura
política que culminaria na legalização de partidos de esquerda, entre eles o
recém-criado Partido dos Trabalhadores (PT). Anos mais tarde, diante da
ascensão do partido que ajudou a fundar, Figueiredo teria desabafado a pessoas
próximas: “Criei esse monstro.” A frase, embora não registrada oficialmente,
circula amplamente entre militares e analistas políticos como expressão do arrependimento
do general por ter permitido o surgimento de uma legenda que, para ele,
representava uma ameaça à ordem institucional.
O incômodo de Figueiredo não era gratuito. O PT,
desde sua origem, adotou uma postura combativa contra os militares e o regime
de 1964, atacando abertamente a política econômica liberalizante, a aliança com
os Estados Unidos e as bases conservadoras do governo. Para o general, a
esquerda sindicalista representava o oposto dos valores que sustentaram o
Estado por mais de duas décadas. A crítica à política de segurança nacional e a
defesa de pautas estatizantes acirravam o temor de que a legalização do partido
abrisse caminho para a corrosão da autoridade e da disciplina que sustentavam o
regime.
Quatro décadas depois, o “monstro” citado por
Figueiredo não apenas sobreviveu, como chegou ao poder e moldou o Brasil por
anos. Escândalos como o mensalão e o petrolão, somados à radicalização
ideológica e ao aparelhamento da máquina pública, reforçaram entre os
conservadores a leitura de que o ex-presidente militar tinha razão. Para esses
setores, o PT se aproveitou das liberdades conquistadas na abertura democrática
para minar as próprias instituições que o permitiram nascer. O diagnóstico de
Figueiredo, ainda que informal, tornou-se símbolo de uma advertência histórica
que muitos hoje revisitam.
Blog do Gustavo Negreiros
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