Folhapress
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem trabalhado
para conter o crescimento de déficit e dívida do governo. Ocupa-se de convencer
o Congresso a aprovar aumentos de impostos e de evitar que os parlamentares
explodam bombas que abram mais buracos no casco do navio fiscal. Além disso,
tenta evitar que seus colegas de ministério contribuam para a detonação.
Haddad talvez não imaginasse que o próprio
presidente da República disparasse um torpedo contra o projeto já não muito
rigoroso de estabilização das contas públicas.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parecia mais contido
e baixara o tom e o número de declarações que, desde a eleição, contribuíram
para a alta das taxas de juros. Nesta sexta (27), porém, decidiu perturbar seu
governo e o país.
Em resumo, disse que sua gestão não chegará à meta
de déficit primário zero em 2024, o que é opinião quase geral. Mas Lula afirmou
que, entre outros motivos, a meta não será cumprida pois não haverá cortes “em
investimentos e obras”.
Para piorar o estrago e demonstrar seu
desconhecimento do problema, disse ainda que “o mercado é ganancioso demais e
fica cobrando uma meta que eles sabem que não vai ser cumprida”.
Trata-se de fantasia e desinformação deliberada.
Recusar mais déficit não é ganância; ganância com ganhos para os mais ricos
haverá com crescimento do déficit. O governo federal terá de expandir a tomada
de empréstimos a taxas elevadas —até mesmo por esse tipo de declaração do
presidente.
Os parlamentares, indiferentes ao destino do país e
certamente despreocupados com um fracasso do governo, têm proposto, pautado ou
aprovado leis para aumentar a despesa ou reduzir a receita.
Colocam, ou pretendem colocar, na conta federal
gastos com servidores estaduais. Prorrogam desonerações para empresas ou benefícios
regionais. Querem novos tipos de emendas de pagamento obrigatório. A fala de
Lula se junta a esse ímpeto parlamentar destrutivo.
O presidente parece se comportar como um prefeito
desinformado ou um deputado paroquial, para quem governar é inaugurar obras,
sem se importar com consequências. Ademais, ainda não parece ter aprendido o
efeito pernicioso desse tipo de declaração: governo e país pagarão juros mais
altos; a confiança econômica diminuirá.
De fato, fazer com que receita e despesa se
equilibrem no ano que vem, o déficit zero, será difícil. Desprezar uma meta
necessária e definida em projeto de lei, porém, cria e antecipa problemas.
Que fique claro: Lula não está propondo um programa
econômico controverso, está sabotando o próprio governo. Além de danoso, é
incompreensível.

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